“Senhor Doutor, tem cura?”. Esta pergunta era e ainda continua a ser feita com determinada frequência no âmbito da saúde, principalmente nas situações oncológicas. Há alguns anos ter um diagnóstico de cancro representava numa percentagem significativa dos casos a morte da pessoa. Mas isso tem mudado significativamente. O diagnóstico de cancro passou a ser considerado uma doença crónica e com uma evolução favorável numa percentagem significativa dos casos. Mas ainda assim continua a ser algo muito receado por grande parte de nós. O mesmo também se podia dizer do HIV SIDA em que a uma percentagem significativa das pessoas afectadas tinha uma esperança de vida muito diminuida. Facto que nos dias de hoje se tem conseguido reverter e com grande sucesso de resposta devido à mediação usada. Muitas vezes confunde-se cura com a remissão dos sintomas. Numa grande percentagem de situações aquilo a que assistimos na medicina é precisamente a remissão dos sintomas e não de uma cura na verdadeira asserção da palavra. As situações tem uma evolução crónica. No caso da Perturbação do Espectro do Autismo continuamos ainda nos dias de hoje a ouvir e ler que esta condição tem cura. O autismo não tem e nunca teve cura. Mas estes pais com filhos com autismo sofrem muitas angústias e de falta de apoio adequado. E continua a haver muitas pessoas mal informadas e formadas que se aproveitam disso. Dessa noção de que o amor cura. o amor incondicional cura tudo. E se há coisa que os pais têm é um amor incondicional pelos filhos. E esse é um discurso que os envolve e confunde, levando a abandonar intervenções adequadas por patranhas milagrosas de cura do autismo. E quando alguns não falam de cura, porque já sabem que cada vez mais os pais estão melhor informados, vêm falar de remissão. Até porque justificam que algumas pessoas autistas foram melhorando ao longo do tempo ao ponto de já não se notar que têm autismo. O autismo não se nota, não se vê. E aquilo que acontece é que pessoas autistas quando diagnosticadas precocemente e devidamente acompanhadas com intervenções cientificamente validadas, acabam por verificar uma diminuição do impacto de algumas das suas características na realização de algumas tarefas no seu quotidiano. Mas na verdade isso não significa que aquilo que estava na base dessa dificuldade tenha desaparecido. Mas sim, que a pessoa encontrou outras estratégias para fazer frente a determinadas situações. O autismo é parte integrante da identidade da pessoa e não meras características. Como tal é totalmente ofensivo, para além de cientificamente inválido, que o autismo tem cura. Como tal, quando alguém lhe disser isso responda com toda a segurança - Vai te curar!
top of page
bottom of page
Comments