Alguns de vocês, principalmente aqueles que têm crianças em casa já tiveram a experiência dolorosa de ir à sala a meio da noite com a luz apagada e pisarem com os pés descalços um amontoado de peças de Lego, certo? Dizem que faz parte do certificado de ser pai ou mãe. E também já se fartaram de pedir aos vossos filhos para arrumar o Lego depois de brincarem, correcto? Chamar o canalizador a casa num domingo porque o lava-loiças ficou entupido e afinal foi com uma peça de Lego inadvertidamente lá colocada. Estas e outras situações já fizeram parte do quotidiano de muitas famílias. Mas talvez, muitos de vocês nunca tenham pensado na utilização do Lego para fazer intervenção com crianças e jovens. Isso mesmo, intervenção. O brincar e brincar em conjunto tem muito de terapêutico. E apesar de se associar o Lego ao Espectro do Autismo pelo facto de poder ser o interesse restrito de algumas crianças autistas. O certo é que a Terapia Baseada no Lego tem sido cada vez mais usada para treinar competências sociais e outras.
Ole Kirk Christiansen, um carpinteiro Dinamarquês inventou o Lego e desde 1950 que faz a delicia de muitas crianças e jovens e até mesmo alguns adultos, ainda que estes últimos tenham um pouco mais de vergonha em o admitir. Brincar, seja sozinho ou em grupo, brincar ao faz de conta é uma actividade salutar e transformadora. A possibilidade da criança ou jovem poder colocar nessa mesma brincadeira papéis sociais que deseja experimentar, dar aso à sua criatividade e imaginação e pensar em profissões que gostaria de vir a ter. Estas e outras formas de brincar estão a ajudar as crianças e jovens a crescerem de forma mais saudável. Por isso, e agora que a Escola já terminou, talvez possam ir tirar o Lego das caixas e soltar a imaginação.
Como já tinha referido na introdução, o Lego é uma actividade que muitas crianças autistas gostam de desenvolver. Para algumas delas é uma actividade que pode ser desenvolvida de forma muito intensa e repetitiva, e que parece colidir com a realização de outras actividades do quotidiano. A criança autista parece não mostrar interesse por outra actividade e despende bastante tempo do seu dia para fazer Lego. Mostrando por exemplo alguma necessidade em que as peças possam ficar montadas depois de terem sido terminadas, sem que ninguém possa tocar nelas. Ou então, podem montar e de seguida desmontar como se parecesse não haver um propósito. Estas e outras situações semelhantes levam a que muitos associem o Lego ao Espectro do Autismo.
Mas esta mesma brincadeira pode ser usada para ajudar as crianças e jovens autista a desenvolver competências sociais. A Terapia Baseada no Lego é uma metodologia usada para promover as competências sociais numa intervenção em grupo, especificamente com crianças e jovens com uma Perturbação do Espectro do Autismo. Esta "terapia" é vista como sendo intrinsecamente motivadora e que naturalmente reforça o seu utilizador. Principalmente porque se baseia nos interesses da criança e jovem para promover o desenvolvimento social, comunicação e a brincadeira. Esta é uma actividade bastante estruturada e um brinquedo previsível e sistemático. Factores que promovem uma maior adesão entre as crianças e jovens autistas.
Na Terapia Baseada no Lego, os utilizadores trabalham juntos para construir modelos Lego em pares ou pequenos grupos, com a tarefa dividida em diferentes papéis. A divisão do trabalho com um objetivo comum permite que as crianças e jovens pratiquem a atenção conjunta, trabalho alternado, partilha, solução conjunta de problemas, escuta e competências de comunicação social em geral. A partir do facto de se estabelecer papéis objectivos, a Terapia Baseada no Lego garante o envolvimento de todos os utilizadores no objectivo acordado. E este trabalho é realizado em combinação com instrução de pares e modelagem por pares, estratégias que já são usadas nas intervenção de competências sociais habituais.
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