Por esta altura já todos ouviram, pelo menos um vez na vida, falar de burnout, também designado de esgotamento profissional. Ainda mais neste período de grandes e constantes alterações devido à situação de pandemia pelo COVID-19. Mas a palavra já constava do léxico das pessoas, e passou a ser habitual ouvirmos as pessoas dizerem "estou em burnout", nos mais variados contextos, pessoal, profissional ou familiar. E apesar do Burnout ser definido na ICD 11 como uma síndrome resultante do stress crónico que ocorre no local de trabalho e que não foi gerida com sucesso. Caracterizada por uma sensação de esgotamento, aumento da distância mental face ao trabalho e eficácia profissional reduzida. O certo é que o conceito tem sido adoptado em outros contextos. E em saúde mental é comum podermos ouvir falar, nomeadamente junto dos cuidadores, deste tipo de sentimento de esgotamento psicológico. E se pensarmos, tal como em muitas outras dimensões em saúde mental, há um espectro de variação dentro do mesmo construto. Ou seja, ter uma Depressão ou Ansiedade, pode não significar o mesmo que ter uma Perturbação do Espectro do Autismo, no que diz respeito ao burnout percebido. E se o burnout dentro do autismo tem sido estudado associado às famílias, cuidadores, pares e professores. É fundamental estuda-lo em relação ao próprio adulto. Até porque sem o compreender, não conseguimos fornecer as melhores orientações de intervenção e mudança de comportamento para os próprios autistas adultos, seus familiares, pares e professores.
As imagens das pessoas que estão no poster que serve de apoio a este post demonstram situações habituais na vida de todos nós, estejamos a passar por uma situação de burnout ou não. O facto de as ter escolhido, tal qual, prende-se com a necessidade de fazer passar a ideia de que estas e outra situações dentro da saúde mental ocorrem em pessoas normais. Mesmo nas pessoas autistas adultas a sensação de burnout é acompanhado normalmente de imagens iguais a estas. Por isso, tanto se fala da inviabilidade das perturbações e do sofrimento mental. Também por isso as pessoas aprenderam a pedir ajuda. Por exemplo hashtag #AutisticBurnout na rede social Twitter é usado por muitos autistas adultos para pedirem ajuda para resolver várias situações difíceis da sua vida. E tendo em conta que o burnout é uma constante na vida das pessoas autistas, podemos antever que este número de pedidos é enorme.
Este burnout, ou esgotamento autista é frequentemente usado por adultos autistas para
descrever um estado de incapacitação, exaustão e angústia em todas as áreas da vida. Informalmente, os adultos autistas descrevem como o esgotamento lhes custou empregos, amigos, actividades, independência, saúde mental e física, e os levou a ter pensamentos e comportamentos suicida.
E se no burnout sentido pelas pessoas normalmente se traduz numa sensação de esgotamento, aumento da distância mental face às coisas e uma eficácia reduzida. No Espectro do Autismo, esta mesma situação de burnout é descrita como tendo todos os seus recursos internos exaustos para lá de qualquer medido e ter sido deixado sem nenhuma equipa de resgate. E esta sensação é descrita num numero variado de situações. Muitas vezes, os adultos autistas referem que o simples facto de tentarem existir os leva a sentir desta igual forma. Ou seja, a sensação de exaustão pode perfeitamente ser constante e em qualquer momento do dia e durante dias seguidos, mesmo que a pessoa tenha estado mais ou totalmente inactivo.
A perda de competências decorrente do esgotamento autista caracteriza-se por uma perda ampla de competências, incluindo pensar, lembrar, criar e executar planos, mas também realizar actividades da vida quotidiana e actividades instrumentais da vida diária, tais como usar competências vocacionais na escola ou no trabalho, socialização, regulação das emoções e de viver de forma independente. Como se pode observar, a sensação é de uma completo shutdown. E as pessoas autistas referem que mesmo aquelas competências que antes tinham conservadas, após o burnout deixaram de ser capazes de retomar essa mesma competências. Como se tivesse existido uma regressão e perda funcional de competências.
Em relação à sua tolerância, os adultos autistas que passam por estas situações de burnout, vêm ainda mais reduzida a sua sensibilidade comparado com o normal. Os estímulos ambientais passam a ser mais difíceis de tolerar e as pessoas autistas sentem-se menos capazes de os desligar. E paralelamente aumentam as situações de estimulação, de meltdowns e de desligamento. Fazendo que com haja um ainda maior impacto nos compromissos sociais, ambientais e actividades.
A carga cumulativa experimentada junto com as barreiras ao suporte leva à criação de uma incapacidade de conseguir esvaziar essa carga. Estes dois stressores levam por conseguinte à sensação de que as expectativas superam as capacidades originando assim o burnout. Os stressores de vida contribuem para a carga cumulativa na vida de qualquer um de nós. E no caso dos autistas aquele stressor mais frequentemente relacionado é a máscara social, ou seja, a necessidade de ter de suprimir os traços autistas. Em segundo lugar estão os acontecimentos de vida imprevistos, que no caso das pessoas adultas estão a acontecer quase sistematicamente.
O burnout autista pode então ser conceptuzliado da seguinte forma, seguindo a própria formação da OMS - É uma síndrome conceptualizada como resultante do stress crónico da vida e uma incompatibilidade das expectativas e das competências sem suportes adequados. É caracterizado por exaustão, perda generalizada de longo prazo (normalmente mais de 3 meses) da função e tolerância reduzida a estímulos. Sendo que os autistas adultos apontam eles próprios um conjuntos de possibilidades para ajudar a resolver esta situação. Nomeadamente, o ser compreendido e aceite por outros, ter capacidade suficiente para relaxar e fazer as coisas de uma forma autistas mais natural para si, incluindo menos
mascaramento social.
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