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Foto do escritorpedrorodrigues

Terra queimada

Por esta altura já todos ouviram, pelo menos um vez na vida, falar de burnout, também designado de esgotamento profissional. Ainda mais neste período de grandes e constantes alterações devido à situação de pandemia pelo COVID-19. Mas a palavra já constava do léxico das pessoas, e passou a ser habitual ouvirmos as pessoas dizerem "estou em burnout", nos mais variados contextos, pessoal, profissional ou familiar. E apesar do Burnout ser definido na ICD 11 como uma síndrome resultante do stress crónico que ocorre no local de trabalho e que não foi gerida com sucesso. Caracterizada por uma sensação de esgotamento, aumento da distância mental face ao trabalho e eficácia profissional reduzida. O certo é que o conceito tem sido adoptado em outros contextos. E em saúde mental é comum podermos ouvir falar, nomeadamente junto dos cuidadores, deste tipo de sentimento de esgotamento psicológico. E se pensarmos, tal como em muitas outras dimensões em saúde mental, há um espectro de variação dentro do mesmo construto. Ou seja, ter uma Depressão ou Ansiedade, pode não significar o mesmo que ter uma Perturbação do Espectro do Autismo, no que diz respeito ao burnout percebido. E se o burnout dentro do autismo tem sido estudado associado às famílias, cuidadores, pares e professores. É fundamental estuda-lo em relação ao próprio adulto. Até porque sem o compreender, não conseguimos fornecer as melhores orientações de intervenção e mudança de comportamento para os próprios autistas adultos, seus familiares, pares e professores.

As imagens das pessoas que estão no poster que serve de apoio a este post demonstram situações habituais na vida de todos nós, estejamos a passar por uma situação de burnout ou não. O facto de as ter escolhido, tal qual, prende-se com a necessidade de fazer passar a ideia de que estas e outra situações dentro da saúde mental ocorrem em pessoas normais. Mesmo nas pessoas autistas adultas a sensação de burnout é acompanhado normalmente de imagens iguais a estas. Por isso, tanto se fala da inviabilidade das perturbações e do sofrimento mental. Também por isso as pessoas aprenderam a pedir ajuda. Por exemplo hashtag #AutisticBurnout na rede social Twitter é usado por muitos autistas adultos para pedirem ajuda para resolver várias situações difíceis da sua vida. E tendo em conta que o burnout é uma constante na vida das pessoas autistas, podemos antever que este número de pedidos é enorme.


Este burnout, ou esgotamento autista é frequentemente usado por adultos autistas para

descrever um estado de incapacitação, exaustão e angústia em todas as áreas da vida. Informalmente, os adultos autistas descrevem como o esgotamento lhes custou empregos, amigos, actividades, independência, saúde mental e física, e os levou a ter pensamentos e comportamentos suicida.


E se no burnout sentido pelas pessoas normalmente se traduz numa sensação de esgotamento, aumento da distância mental face às coisas e uma eficácia reduzida. No Espectro do Autismo, esta mesma situação de burnout é descrita como tendo todos os seus recursos internos exaustos para lá de qualquer medido e ter sido deixado sem nenhuma equipa de resgate. E esta sensação é descrita num numero variado de situações. Muitas vezes, os adultos autistas referem que o simples facto de tentarem existir os leva a sentir desta igual forma. Ou seja, a sensação de exaustão pode perfeitamente ser constante e em qualquer momento do dia e durante dias seguidos, mesmo que a pessoa tenha estado mais ou totalmente inactivo.


A perda de competências decorrente do esgotamento autista caracteriza-se por uma perda ampla de competências, incluindo pensar, lembrar, criar e executar planos, mas também realizar actividades da vida quotidiana e actividades instrumentais da vida diária, tais como usar competências vocacionais na escola ou no trabalho, socialização, regulação das emoções e de viver de forma independente. Como se pode observar, a sensação é de uma completo shutdown. E as pessoas autistas referem que mesmo aquelas competências que antes tinham conservadas, após o burnout deixaram de ser capazes de retomar essa mesma competências. Como se tivesse existido uma regressão e perda funcional de competências.


Em relação à sua tolerância, os adultos autistas que passam por estas situações de burnout, vêm ainda mais reduzida a sua sensibilidade comparado com o normal. Os estímulos ambientais passam a ser mais difíceis de tolerar e as pessoas autistas sentem-se menos capazes de os desligar. E paralelamente aumentam as situações de estimulação, de meltdowns e de desligamento. Fazendo que com haja um ainda maior impacto nos compromissos sociais, ambientais e actividades.


A carga cumulativa experimentada junto com as barreiras ao suporte leva à criação de uma incapacidade de conseguir esvaziar essa carga. Estes dois stressores levam por conseguinte à sensação de que as expectativas superam as capacidades originando assim o burnout. Os stressores de vida contribuem para a carga cumulativa na vida de qualquer um de nós. E no caso dos autistas aquele stressor mais frequentemente relacionado é a máscara social, ou seja, a necessidade de ter de suprimir os traços autistas. Em segundo lugar estão os acontecimentos de vida imprevistos, que no caso das pessoas adultas estão a acontecer quase sistematicamente.


O burnout autista pode então ser conceptuzliado da seguinte forma, seguindo a própria formação da OMS - É uma síndrome conceptualizada como resultante do stress crónico da vida e uma incompatibilidade das expectativas e das competências sem suportes adequados. É caracterizado por exaustão, perda generalizada de longo prazo (normalmente mais de 3 meses) da função e tolerância reduzida a estímulos. Sendo que os autistas adultos apontam eles próprios um conjuntos de possibilidades para ajudar a resolver esta situação. Nomeadamente, o ser compreendido e aceite por outros, ter capacidade suficiente para relaxar e fazer as coisas de uma forma autistas mais natural para si, incluindo menos

mascaramento social.

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