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Temperamento

Tem.pe.ra.men.to. Conjunto de características psicológicas que estão na base do comportamento geral de determinado indivíduo; modo de ser; índole; feitio; carácter. Acto ou efeito de temperar. Tens um temperamento igualzinho ao do teu pai, já ouvi dizer algumas vezes. De manhã não há quem aguente o teu temperamento, já me foi dito também. Os nossos temperamentos por vezes não se conjugam!, quem nunca ouviu esta? És assim desde criança. Esse teu feitio nunca mudou!, ou então esta? As mulheres têm um feitizinho muito complicado!, quem nunca? Os homens têm um temperamento que não se lhe pode dizer nada!, mas também esta. Temperamento, feitio, jeito, maneiras. São várias as designações usadas e cada um terá o seu. Contudo, o temperamento é frequentemente considerado como traços comportamentais que são relativamente estáveis ao longo do tempo, aparecem precocemente no desenvolvimento, mas podem variar entre as pessoas. O temperamento desempenha um papel importante no desenvolvimento infantil, e tem um impacto preponderante ao longo do ciclo de vida da pessoa, pois pode moldar a aprendizagem, o funcionamento social e o padrão de vinculação. Além disso, o temperamento está intimamente associado às diferenças individuais nas respostas das crianças aos stressores. Sendo algumas crianças mais propensas a apresentar comportamentos internalizados (e.g.,, inibidos e supercontrolados), enquanto outros agem ou externalizam os seus comportamentos (e.g., agressão,hiperactividade). Mas afinal o que é e o que pode interessar no autismo? Por exemplo, quando procuramos fazer um diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo em idade precoce, não é raro ouvirmos, seja de pais ou educadores de que aquela criança não apresenta traços comportamentais compatíveis com esse diagnóstico. E do outro lado de quem está a fazer essa avaliação sentir que há algumas características, principalmente ligadas ao temperamento, que parecem deixar o profissional de saúde com algumas suspeitas. Mas também em algumas situações em que se está a fazer uma avaliação de despiste de Perturbação do Espectro do Autismo mais tarde no desenvolvimento, é comum ouvirmos os pais, ou pelo menos um deles, dizer que desde cedo que tinha ficado com uma determinada impressão com algumas reacções do filho. E estas tais coisas normalmente são relacionadas com características do temperamento, ou do feitio, como muitos pais costumam designar. E quando acompanhamos adultos autistas e temos a possibilidade de poder olhar em conjunto com eles para aquilo que foi sendo a sua evolução ao longo d desenvolvimento. Ficamos com a sensação de que algumas dessas tais características, mais relacionadas com o temperamento e que foram sendo observadas desde um período precoce do desenvolvimento e se foram mantendo, parece ter um determinado impacto na forma como a própria personalidade da pessoa se foi construindo. E talvez com bastante frequência se ouve dizer que as pessoas autistas apresentam de uma forma geral um temperamento muito difícil de lidar no quotidiano. Sendo que muitas pessoas, autistas e não autistas, conseguem rapidamente comprovar que tal afirmação não é verdade. Ainda assim, vários estudos e relatos clínicos têm apontado para a ideia de que as crianças autistas apresentam um temperamento mais reactivo e negativo. E quando os níveis deste temperamento são acentuados e continuados ao longo do tempo isso parece ter um contributo maior para o desenvolvimento de determinados traços de personalidade. O acumular de evidências indica que as pessoas autistas mostram um perfil de temperamento específico que consiste em menor afecto positivo, maior afecto negativo e menor regulação. Em comparação com crianças com um desenvolvimento típico, as crianças autistas são percebidas como exibindo menos afecto positivo e uma expressão facial neutra. Por sua vez, na idade adulta, parece verificar-se que as pessoas autistas apresentam uma menor procura por novidades e dependência de recompensa, maior timidez e introversão, e maior isolamento social do que as pessoas não autistas. Da mesma forma, crianças autistas são frequentemente vistas como menos flexíveis, mais difíceis de distrair e menos orientadas para objectivos. Os traços de temperamento e personalidade estão intimamente ligados aos sistemas psicobiológicos básicos, que por sua vez são governados por genes específicos. Assim, o temperamento pode servir como um endofenótipo inicial. Ou seja, marcadores fisiológicos ou psicológicos / cognitivos que podem ser medidos em pessoas com uma determinada perturbação e também estão presentes com mais frequência em membros da família do que em pessoas não aparentados. Como os endofenótipos estão directamente ligados a influências genéticas, eles são particularmente úteis no estudo das perturbações com uma herança complexa, como a Perturbação do Espectro do Autismo. A literatura existente sobre o desenvolvimento normativo sugere que a variação individual no temperamento das crianças pode estar associado a dificuldades socioemocionais. Ou seja, os primeiros traços emocionais e comportamentais emergentes em domínios da emocionalidade negativa, a tendência de experimentar emoções negativas, sociabilidade, tendência ligar-se activamente com os outros e capacidade de auto-regular as emoções e a acções. Uma emocionalidade negativa alta e baixa autorregulação conferem susceptibilidade tanto para internalização e sintomas de externalização, enquanto a baixa sociabilidade se relaciona mais fortemente com a sintomatologia internalizante. Os sintomas do autismo co-ocorrem com níveis elevados de internalização (ansiedade e / ou depressão) e externalização (desatento / hiperactivo, comportamentos de oposição e / ou comportamento agressivo), tanto no nível subclínico quanto no nível clínico. As dificuldades Sócio-emocionais estão assim aumentadas entre crianças autistas desde muito cedo e pode contribuir para a existência de maiores dificuldades a nível funcional, um prognóstico e resposta ao tratamento diferencial. Portanto, é fundamental identificar, no início da vida, aquelas crianças com características de autismo em maior risco de internalização e/ou externalizar os sintomas para que os apoios adequados possam ser alocado.


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