Aceitação. Uma atitude favorável em relação a uma ideia, situação, pessoa ou grupo. Por exemplo, no contexto da psicoterapia, é a atitude receptiva e não crítica dos terapeutas e que transmite respeito e consideração implícitos por seus clientes como pessoas. Até podemos verificar que há um modelo de intervenção que tem como designação - Terapia da Aceitação e Compromisso. E se formos olhar para o número de workshops, webinar, livros ou podcast sobre a importância de aumentar o mindufulness ou a aceitação psicológica, ficamos com uma maior certeza sobre a importância da aceitação e de nos aceitarmos. Se nunca deu conta por aqui, já deve ter observado o número de publicações nas redes sociais que sublinham esse aspecto. Parece uma ideia inegável esta da aceitação, certo? Quem é que não gostaria de se aceitar tal como é? E não ficar com nenhum constrangimento em relação ao que for ou a quem for devido a isso? E ainda por cima, nos últimos anos esta ideia da aceitação, e mais especificamente o seu contrário tem estado associado a uma atitude negativa. E se esta não aceitação é dirigida pelo outro em relação à nossa pessoa parece que a conotação ainda assume um contorno mais negativo. E quando a pessoa parece não se aceitar? Ou vergonha? Ou medo de se aceitar? Perguntarão alguns - Mas a pessoa precisa de alguém ou da sua concordância para se aceitar? Numa semana em que iremos celebrar no dia 2 de abril o Dia Mundial da Consciencialização do Autismo esta questão da aceitação parece fazer sentido. Já não passa apenas pela consciencialização. Já se trata da aceitação e como algumas pessoas autistas fazem questão de frisar, também da celebração. Até porque dentro e fora do autismo, esta questão da não aceitação e da ausência e consciencialização está relacionado com uma pior saúde mental. Mas o que é que eu devo aceitar?, pergunta-me António (nome fictício). E de quem é que eu devo aceitar?, coloca a Júlia (nome fictício). Para mim aceitar é resignar-me, acrescenta João (nome fictício). E ainda que pensemos nas palavras de Jon Kabat-Zinn de que a aceitação não significa em momento algum uma resignação passiva, também não deixamos de pensar naquilo que levou o João a colocar a questão daquela forma. E eu que ainda agora com 38 anos é que descobri que sou autista, o que é que eu devo aceitar?, refere Carlos (nome fictício). Mas a história do autismo tem-se focado nos deficit e na falta de competências sociais e de comunicação, é isso que eu devo aceitar?, remata Herculano (nome fictício). E do que é que me vale aceitar se sinto que a grande maioria das pessoas não aceita o autismo?, reflecte em voz alta a Carla (nome fictício). E eu que já fui diagnosticado em criança que sinto que aquilo que têm procurado fazer comigo é mudar-me, fazer com que eu seja diferente, como é que eu posso aceitar-me?, diz Raúl (nome fictício) já com a voz cansada. E então eu, que já me diagnosticaram com tudo e mais alguma coisa, e que apesar de procurar a aceitação, sinto que nunca me compreendi, mas também que as outras pessoas nunca fizeram o esforço para tal, como é que eu me vou aceitar?, menciona Isabel (nome fictício) num tom mais critico. Ou as portas que se têm fechado, umas atrás das outras, e que com muito custo pessoal me têm levado a camuflar grande parte dos meus comportamentos, como é que eu me posso aceitar?, questiona Joana (nome fictício). O António, a Júlia, o João, o Carlos, o Herculano, a Carla, o Raúl, a Isabel e a Joana, são todos eles adultos autistas. Uns celebram há mais tempo este mês da aceitação para o autismo. Outros ficaram a saber mais recentemente que são autistas, depois de terem passado por inúmeras situações de invalidação do diagnóstico e de grande sofrimento e incompreensão. Muitos tornaram-se activista na comunidade autista e têm procurado junto das Instituições ajudar a desconstruir crenças e mitos acerca do autismo e ajudado a construir uma outra representação sobre esta condição em que a sua voz seja uma presença. É fundamental verificar que se cumpre o direito a um diagnóstico precoce para todos e dos respectivos apoios de forma equitativa ao longo da vida. Até porque o autismo ocorre em todas as fases da vida. Urge que as pessoas autistas possam ser aceites e não tenham de sentir que têm de lutar para que as escolas adoptem medidas fundamentais para promover as suas aprendizagens e crescimento pessoal e social num ambiente seguro. É vital que as pessoas autistas sintam que têm direitos iguais de poder fazer cumprir as suas aspirações e sonhos ao longo da vida de uma forma autónoma e independente, tais como ter direito a uma habitação própria e à possibilidade de a manter a partir do seu trabalho remunerado e a viver da forma como se sentem felizes.
top of page
bottom of page
Comments