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Se cuidas de mim, eu cuido de ti também: o casal no autismo

Saber que o filho com dois anos tem um diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo (PEA) tem um impacto marcante a na grande maioria das vezes incalculável. Se conseguimos pensar no desdobrar de terapias, consultas, etc., necessárias para dar uma resposta terapêutica. Nem sempre somos capazes de pensar no casal.

Na avaliação e acompanhamento psicológico de jovens adultos e adultos com Perturbação do Espectro do Autismo é comum haver uma gama variada de situações problema que constituem o pedido de ajuda. Podemos estar a falar do jovem que está a repetir o 12º ano quando até lá sempre conseguiu ultrapassar os obstáculos encontrados. Ou uma outra jovem que tendo conseguido entrar no Ensino Superior parece não estar a conseguir corresponder às exigências actuais e pensa em mudar de curso. Mas também a adulta que parece não conseguir manter um emprego e muda constantemente devido a uma aparente incompatibilidade com as chefias ou colegas. Mas também acontece encontrar dificuldades na esfera do casal.


Sim, disse bem, do casal. Os autistas, ou pelo menos, uma determinada percentagem de autistas tem relações amorosas e constituem família. Por vezes acontece que ambos os membros do casal são autistas e outras vezes apenas um deles. No entanto, penso ser importante voltar um pouco atrás nesta questão, mais especificamente, à altura em que é entregue o diagnóstico de PEA ao filho desse mesmo casal. Que volto a sublinhar, há a possibilidade de pelo menos um dos membros do casal apresentar um diagnóstico igual ou compromisso do ponto de vista psicopatológico (não estou a afirmar que isto tenha de ser sempre verificado).


As características de uma crianças pequena - dois, três ou quatro anos de idade, já por si se torna exigente e tem um impacto na vida do casal e na dinâmica até então vivida. Quando esta mesma criança pequena tem um diagnóstico de PEA as exigências e desafios colocados a este mesmo casal multiplica por um número incalculável de variáveis.


Não parece ser por acaso que o número de divórcios em casais com um filho com PEA parece ter uma expressão significativa. Ou seja, ao fim de poucos anos após terem recebido o diagnóstico de PEA do seu filho o casal parece não ter resiliência suficiente para continuar enquanto casal. Esta questão traz um conjunto de outras variáveis, nomeadamente a instabilidade e imprevisibilidade da vida da criança. Mas também na dificuldade acentuada em poder ter de lidar com as exigências causadas por algumas das características do filho mas individualmente e já não como casal.


É importante olharmos para a situação da criança ou jovem que tem o diagnóstico de PEA e poder encaminhar para as intervenções necessárias. Mas também é fundamental poder ajudar o casal a continuar a cuidar de si. Até porque na grande parte das vezes este casal já existia antes mesmo desta criança surgir. O casal enquanto núcleo central desta família importa ser cuidado. Até porque este mesmo núcleo irá continuar a acompanhar o desenvolvimento do seu filho. Mas no caso dos filhos com PEA as necessidades vão continuando a ser grandes e mais duradoras no tempo.

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