#corrercomoautismo saiu do armário há uns meses e ao longo de muitos quilómetros percorridos são muitos os pensamentos que acompanham os passos dados. Pessoa com autismo, pessoa autista, condição, perturbação, transtorno, doença, etc. A literatura cientifica e a própria comunidade autista tem produzido variadas reflexões filosóficas e epistemológicas em relação à questão "pessoa-primeiro" versus "identidade-primeiro". São várias as designações, principalmente porque são vários aqueles que pensam e falam sobre o autismo. Mas é fundamental podermos aperceber que há aqueles que sentem o autismo - os próprios com esta condição. O titulo deste post não foi escolhido ao acaso. É fundamental que a pessoa se possa sentir à vontade o suficiente e possa assumir a sua condição, neste caso de Perturbação do Espectro do Autismo. E este assumir é fundamentalmente para si, mas também para o Outro. E neste último é fundamental uma mudança de atitude da nossa parte não autistas (i.e., neurotipicos). Quando pensei no movimento #corrercomoautismo, senti que era importante poder levar para uma prática tão saudável como o atletismo a presença do autismo. Assim como é fundamental que em cada vez mais contextos possa ser possível existir de uma forma plena a pessoa autista. E sem que tenham de existir constrangimentos ou legislação em vigor para a incluir, como no caso da escola e depois mais tarde no trabalho. Pensem, cada um de vocês não autistas, como se sentiriam se tivessem que ter uma legislação necessária para justificar a vossa presença na escola e nas medidas que são fundamentais para que vocês possam aprender como qualquer outra pessoa? E não basta dizer que se as pessoas autistas querem sair do armário basta que o façam. É fundamental que as pessoas desde cedo possam ser sensibilizadas para a tolerância, aceitação, mas fundamentalmente da celebração da diferença. Os comportamentos de humilhação e violência diversa contra a pessoa autista continua a ser verificado desde cedo, incrivelmente desde o Jardim de Infância, e não apenas pelas outras crianças, mas também por outros pais que procuram que estas crianças autistas possam não incomodar os seus filhos. Não basta que as pessoas possam ter acções de sensibilização e formação sobre a Perturbação do Espectro do Autismo. Principalmente aqueles em que se continua a repetir a informação presente nos critérios de diagnóstico. É sabido que as Perturbações do Espectro do Autismo apresentam uma enorme heterogeneidade e é fundamental poder fala-la. Seja por profissionais de saúde mas também pelas próprias pessoas autistas. Por exemplo, quando corro não interessa quem corre ao meu lado, à minha frente ou atrás. Corremos todos, ainda que cada um tenha o seu ritmo e os seus objectivos propostos para aquela determinada prova. É urgente normalizar a diferença, e para isso poder acontecer é fundamental que as pessoas autistas possam estar presentes e assumam em pleno a sua identidade. Sem que nós não autistas estejamos lá para causar maior dificuldade. Volto mais mais vez ao atletismo para deixar esta ideia - não é tolerável para ninguém que numa prova se vá rasteirar uma pessoa, certo? Então é fundamental que na vida possamos seguir esse mesmo principio. Se não compreende a outra pessoa, porque alguns dos seus comportamentos são difíceis de perceber, pergunte à pessoa ou a quem lhe possa explicar adequadamente. Mas não rasteire. O fair-play é para o atletismo assim como para a vida. Venha #corrercomoautismo.
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