Todos nós sabemos, de uma forma ou de outra, que tudo o que é demais é mau. E as retenções é um desses casos. Sejam as retenções na fonte, escolares mas também a de líquidos. Acumular uma coisa, pessoa ou liquido, numa cavidade ou em algum lugar de onde deveria ser normalmente evacuada é mau. E o mesmo se passa com as tristezas, ainda que seja mais difícil para muitos de nós conseguir compreender o conceito. Mas em caso de dúvida consulte um psicólogo clínico que ele é o profissional capaz de o ajudar a compreender. Mas aquilo que me leva a escrever este texto é o mesmo que me levou a fazê-lo o ano passado e em outros anos por esta altura em Setembro. E a escolha da fotografia e da cor não é ao acaso. Em Setembro, também chamado de Setembro Amarelo, existe esta campanha internacional, assim designada, para a sensibilização da prevenção do suicídio. Mas também para a chamada de atenção face o estigma e a importância da promoção da saúde mental. E aproveito esta campanha para poder falar da ligação forte entre a Perturbação do Espectro do Autismo e as percentagens mais elevadas de suicídio neste grupo comparativamente à população em geral. Mas como é que os desafios únicos enfrentados pelos adultos autistas levam ao suicídio?
A cada 40 segundos há uma pessoa no mundo que se suicida.
Não deveria ser necessário escrever mais nada para que todos nós nos levantássemos e procurássemos fazer um pouco mais para mudar o percurso de milhares de pessoas a nível mundial. E todos nós podemos fazer algo. Desde os profissionais de saúde nas mais variadas áreas de actuação da saúde. Mas também uma maior sensibilização na população em geral para os aspectos da promoção da saúde mental e do combate ao estigma.
E se é importante falar de todos estes aspectos para a população em geral, porque é que pode ser ainda mais importante falar deles relacionado com a pessoas autistas? Porque são um grupo de pessoas que estão em maior vulnerabilidade para todos estes aspectos anteriormente referidos, e não só.
Sabemos que a pessoas autistas apresentam uma maior vulnerabilidade para o desenvolvimento de outras perturbações psiquiátricas em simultâneo, designadas de comorbilidades psiquiátricas. É frequente uma pessoa autista ter associado uma perturbação de ansiedade ou do humor, assim como uma perturbação de hiperactividade e défice de atenção, perturbação obsessivo compulsiva, esquizofrenia ou perturbação bipolar. Como tal, podemos depreender que a pessoa, seja criança, jovem ou adulto autista esteja em maior vulnerabilidade.
Já para não falar do facto da pessoa autista estar mais frequentemente em isolamento social. Facto que leva a que esta esteja menos frequentemente supervisionada pelos outros para que possam sinalizar algum situação mais preocupante. Os colegas da escola raramente conhecem os seus colegas autistas. Nem sempre sabem que o seu colega tem esta condição e além disso não parece existir interacção suficiente para que conheçam a pessoa ao ponto de saber se está em sofrimento ou não. E como tal, a pessoa autista além de estar mais propensa a este isolamento social, está também mais desprotegida pelo facto dos outros não a conhecerem o suficiente para darem o alerta para alguma situação mais preocupante.
Além do mais, mesmo que saibam que a outra pessoa é autista, seja na escola ou no trabalho, muito frequentemente as pessoas têm uma crença interiorizada e estereotipada da pessoa autista. E o estigma relativamente às perturbações psiquiátricas e ao autismo especificamente é bastante marcado. Muitas vezes as leituras que fazem relativamente à manifestação de mal estar por parte da pessoa autista, é de que aquele comportamento é uma mania sua, ou então é algum comportamento anti-social ou de falta de educação. E como tal, a leitura negativa acerca daquele comportamento observado leva a pessoa não autista a um comportamento de afastamento e de não ajuda face à pessoa autista.
Adicionalmente, a própria pessoa autista, de uma maneira geral, apresenta formas de expressão do seu mal estar que podem apresentar algumas diferenças comparativamente ao normativo. Até porque se apresentam algumas características na interacção e comunicação social com as outras pessoas, a manifestação de mal estar acaba igualmente por apresentar formas diferentes e nem sempre facilmente compreendidas pelos outros não autistas. Para além de muitas vezes sentirem ser difícil comunicar os seus pensamentos. Não que não os tenham, porque têm. Mas porque a sua comunicação que já por si é complexa, nas pessoas autistas pode tornar-se ainda mais. O próprio acesso às emoções e à compreensão do que as mesmas possam representar. O facto de haver uma maior propensão para a existência de anedonia (falta de prazer) e alexitimia (dificuldade na compreensão das emoções). Tudo isto em conjunto faz com que a pessoa autista esteja mais desprotegida. É preciso conhecer mais sobre o autismo, e sobre este ao longo da vida, nas diferenças entre homens e mulheres. Tal como é importante conhecermos as outras perturbações psiquiátricas. Não no sentido técnico, mas na forma qualitativa das pessoas serem. E principalmente, podermos ajudar a desenvolver a consciência de haver diferentes formas de sentir, interagir e comunicar, nomeadamente o mal estar. E que não é fraqueza nenhum poder estar triste. É normativo, até certo ponto, o podermos permitir nos entristecer com algum acontecimento ou com alguém. E podermos falar isso connosco e com o outro. E quanto sentimos dificuldade poder pedir ajuda, nomeadamente a um psicólogo clínico, para que este nos ajude neste percurso de melhor nos compreendermos, ao outro e ao Mundo.
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