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Proud in the name of love

Se por um lado lemos e ouvimos os cientistas e clínicos a falar da Perturbação do Espectro do Autismo como um conjunto de características comportamentais que se traduzem em deficit para a pessoa com essa condição. Por outro, vamos ouvindo cada vez mais autistas e com diferentes idades, mas também alguns cientistas e clínicos, a sublinharem a importância de olharmos para os aspectos positivos existentes na vida da pessoa autista e em promover muitas das suas forças em prole de um maior bem estar. Poder pensar que há aspectos positivos e promove-los traduz-se em resultados positivos. E as pessoas autistas que se identificam com outros autistas da comunidade e que sentem esta como positiva, reportam que esse facto melhorou a sua saúde mental, quando comparado com outros autistas. No entanto, quando estamos mais ou menos envolvidos e próximos da comunidade autista, não é raro ver uma falta de consenso em relação às atribuições que uns e outros, sendo autistas, fazem em relação a algumas das características. Por exemplo, é comum poder ouvir jovens autistas a se referirem a algumas das suas características como sendo negativas. E principalmente, essa questão pode ser compreendida atendendo ao impacto que sentem derivado do bvullying. Ou seja, podem sentir que o facto de terem determinadas características derivado da sua condição, isso os leva a estar menos integrados e aceites social, e isso ser sentido como negativo. Mas também temos os adultos que são mais frequentemente diagnosticados tardiamente, e que também por isso podem sentir maior necessidade de se identificar com o diagnóstico. Por mais que muitos pensem na importância da identificação com a identidade autista, é importante perceber os diferentes percursos, nas várias etapas da vida, que cada um acaba por fazer. Ainda assim, as atitudes sociais em relação ao autismo começam a mudar partir de um foco nos desafios e dificuldades enfrentados pelas pessoas autistas em direção à aceitação da diferença e um reconhecimento dos pontos fortes associados à condição. E este facto parece estar em linha com o surgimento e crescimento do movimento pelos direitos da pessoa portadora de deficiência mas também do crescimento da comunidade autista e da sua disseminação nas plataformas online. Se por uma lado é importante reconhecer os pontos fortes associados ao autismo, existem desafios implícitos nas características do autismo, já que os indivíduos habitam um mundo social que está definido para aqueles sem autismo. Por exemplo, muito do debate sobre a terminologia usada para descrever o autismo surge de diferenças em se as pessoas sentem que o autismo é uma parte central da sua identidade, ou se eles preferem distanciar-se do diagnóstico. Assim, as pessoas que acreditam que o autismo é inseparável da sua identidade são mais prováveis de preferirem a terminologia "autismo primeiro", ou seja, referem-se como "pessoas autistas". Outros preferem a terminologia "pessoa em primeiro lugar", implicando que o autismo não é a principal forma de identificar uma pessoa, e assim seria designada de "pessoa com autismo". Sendo que podemos argumentar que a referência "pessoa primeiro" na verdade parece aumentar o estigma, pois tende a ser mais usado para crianças e aqueles com mais deficiências propensas a uma maior estigmatização, e que a designação "identidade primeiro", representa o seu contrário e incentiva a uma identificação positiva com a condição a que está associado e a resultados positivos. A Teoria da Identidade Social postula que como humanos, temos a propensão de formarmos grupos sociais e nos definir por essas associações de grupo. Isso leva a padrões de comportamento, como favorecimento dos membros do grupo sobre aqueles que não pertencem ao grupo.O que também resulta numa sensação de bem-estar e autoestima à medida que as pessoas derivam sentimentos positivos de afiliação para com os outros no grupo e um sentimento de orgulho no grupo. O uso da terminologia "identidade primeiro" por pessoas autistas sugere um forte sentido de filiação ao grupo e, potencialmente, de sentimentos positivos para pertencer ao grupo. As pessoas não autistas também podem usar esta terminologia em solidariedade com a comunidade autista. No entanto, sentimos que desenvolver um sentido positivo de si mesmo do autismo é complicado pelo facto de o autismo ser estigmatizado na sociedade. As pessoas autistas que sentem um forte sentido de afiliação com outras pessoas autistas e que têm opiniões positivas sobre a comunidade autista (ou em termos de identidade social, eles têm alta identificação social como membros da comunidade autista), melhoraram a autoestima individual e o bem-estar psicológico. Como tal, se tivermos pessoas autistas a percepcionarem mais atributos positivos do autismo, iremos ter essas mesmas pessoas a sentirem mais aspectos positivos acerca dos membros da comunidade autista, atendendo a que se identificam com outras pessoas autistas. Ou seja, pessoas que pertencem a grupos estigmatizados podem preservar o seu bem estar psicológico e auto-estima através do desenvolvimento de um sentido positivo de pertença e de identidade, mas também do fortalecimento de contactos com outras pessoas autistas.



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