Nesta altura do Natal ouvimos frequentemente um apelo ao consumo responsável. Pois bem, aqui vai o meu - Este Natal não ofereça ignorância!
Gosto muito de t-shirts e da forma simples mas clara como se consegue passar uma mensagem importante, tal como é o caso desta fotografia que acompanha o texto - não diagnosticado/a, mas alguma coisa não está bem!
Quase no final de 2024 e continuamos a verificar que uma das primeira perguntas que vai surgindo quando há conhecimento de mais um diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo numa pessoa adulta seja - Não parece estranho este aumento de diagnósticos de autismo em pessoas adultas? Isto para não pensar muito nas observações que algumas vezes acompanham estas perguntas, tais como - Agora também são todos autistas!
Não, não é estranho haver mais diagnósticos de autismo em pessoas adultas. Até deveriam haver mais. O que é estranho, ainda que hajam várias razões que o enquadram, é haver ainda um tão grande desconhecimento em relação ao autismo no adulto e por conseguinte um nível tão baixo de diagnósticos nesta área! E que não se diga que é por não haver nada escrito em termos do autismo no adulto. Pois já em 1943 quando se começou a publicar sobre o autismo observado em crianças, haviam notas clinicas feitas por Leo Kanner e Hans Asperger sobre o que se observava em alguns dos pais como sendo um quadro de autismo nos adultos, ainda que apresentassem um perfil mais funcional em alguns aspectos. E em 1980 quando foi introduzido o diagnóstico de autismo na DSM III, também Eric Schopler e Gary Mesibov escreviam e publicavam Autism in Adolescents and Adults.
Não, não somos todos autistas! E dizer que as características do autismo se encontram diluidas na população em geral não significa dizer que somos todos autistas! Até porque para ter um diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo não basta ter/apresentar as características do autismo reunidas em si. É preciso mais do que isso. E também por isso é que o diagnóstico é feito a partir de uma avaliação e não a partir de um preenchimento de um questionário de auto-relato. Até porque podemos observar uma pessoa em consulta e que ainda que não reuna todos os critérios de diagnóstico tal como apresentados na DSM, ainda assim possa ser feito/atribuído um diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo.
É fundamental rever os programas universitários e de formação pós graduada em áreas como a psicologia, medicina, etc., e leccionar conteúdos que vão para além dos critérios de diagnósitico dos manuais (DSM ou ICD). Tal como é fundamental formar mais profissionais de saúde para em número suficiente e de forma adequada conseguirem dar resposta aos pedidos de avaliação de diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo, principalmente, mas não só em adultos, e por conseguinte profissionais que os acompanhem. Também aqui o Sistema Nacional de Saúde, no caso de Portugal (mas há outras tantos países desenvolvidos em que acontece algo semelhante), falha redondamente em termos de resposta para as perturbações do neurodesenvolvimento no adulto. A especificidade e heterogeneidade dos casos, a sua complexidade, presença de outras perturbações psiquiátricas associadas, necessidade de autonomia e independência, etc. São todas elas necessidades tão prementes e causadoras de um tão grande impacto que sublinha a urgência de uma resposta que tarda a chegar.
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