Fiquem tranquilos, pois o site não vai começar a fazer vendas. E também não vos vou revelar nenhum segredo acerca da tão já falada teoria das colheres. Mas ainda assim irei usar o princípio de base desta ideia para falar de algo recorrente na vida das pessoas autistas.
Motivado!? Ele é mas é preguiçoso!? dizia um pai. Dificuldade em manter a concentração?! Ela é mais é uma cabeça no ar! referia uma mãe. Eu poderia continuar a dar outros tantos exemplos, mas penso que vocês compreenderam. Face a uma situação ou um comportamento, as pessoas tendem a fazer uma avaliação, inferência, compreensão, juízo de valor, etc. E isto é assim, dentro ou fora do espectro do autismo. No entanto, se as pessoas repararem, a probabilidade de erro é grande. E parece ser maior, quanto menor for o conhecimento da pessoa ou da situação em si. Já para não falar do enviesamento de cada um de nós e da história e experiência de vida de cada um de nós.
Voltando às colheres. Pensem que têm 12 colheres no vosso faqueiro na gaveta da cozinha. Provavelmente já vos aconteceu usar uma colher e colocar para lavar na máquina ou no lava loiças, certo? E também já vos terá acontecido continuarem a usar as colheres sem perceber se estas estarão a ser lavadas e repostas no faqueiro, correcto? E por último, também já deve ter acontecido chegarem à gaveta e olharem para o sitio das colheres e não verem nenhuma. E pensarem que estão com pressa para comer o iogurte e saírem para o trabalho. E ficarem aborrecidos por terem de ir à maquina de lavar e tirar uma colher, já um pouco mais engordurada e ter de lavar à pressa. E o iogurte ficar com um certo sabor a detergente, pois estavam à pressa e não enxaguaram devidamente a colher! Estão a ver a situação? Óptimo!
Talvez alguns de vocês possam começar a resmungar e a dizer que a culpa é deste ou daquela que não colocou a máquina de lavar a funcionar. Talvez até fique zangado consigo próprio pois não vive com mais ninguém ou então era a sua vez de fazer esse trabalho e não o fez.
Na verdade, e apesar de sermos fantásticos enquanto seres humanos e estarmos equipados com um cérebro igualmente incrível. O certo é que temos uma capacidade limitada de processamento de informação. Ainda que muitos digam que são capazes de multi tasking e dormir entre cinco a seis horas por dia, etc. Ou que principalmente as crianças e os jovens são bem capazes de fazer isso, enquanto que os adultos terão um pouco mais de dificuldade. Uma coisa também me parece certa, é que a pressão externa e a exigência interna leva a que nos tornemos muito frequentemente reféns do ter de estar a fazer constantemente algo e bem. E quando pensamos em parar ou descansar, recaí sobre nós a palavra preguiça. E muitas vezes a culpa parece não nos deixar sossegar. Mas ainda assim, sabemos que cada um tem as suas necessidades de descanso e limites. E é importante que cada um possa aprender a gerir esse tempo e disponibilidade para realizar tarefas. Até porque estamos a falar de energia. E nos dias de hoje temos ouvido muito de eficiência energética e da importância de melhor gerar os recursos.
Pois bem, connosco é muito semelhante. E se as pessoas lá em casa sentem que estão a gastar mais energia com os ar condicionados, provavelmente porque as janelas não estão calafetadas. E tal como com as janelas por calafetar, com as pessoas autistas também se passa algo semelhante. Ou seja, as pessoas autistas podem não estar a compreender o porquê de estarem mais exaustas. Até porque acabaram de voltar de férias e logo no primeiro dia a seguir ao almoço sentiram-se drenadas, sem energia. E não, não estão com anemia e as análises ao sangue estão Ok. E quando percebem que muita desta sua energia está a ser gasta devido à imersão sensorial a que estão sujeitas no seu quotidiano. Então começam por entender a questão das janelas por calafetar. Mas é preciso saber gerir e ter acções concretas e adequadas sobre o seu comportamento na realização das tarefas quotidianas, desde as mais simples às mais complexas.
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