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Porque te surpreendes?

A surpresa faz parte de um pacote de seis emoções básicas - alegria, medo tristeza, nojo, raiva e claro está, surpresa. E é considerada a mais flutuante de todas elas. Ou seja, desaparece tão rapidamente quanto surge. Mas as coisas não são assim tão simples quanto isso. E quando falamos do facto de haver pessoas que se surpreendem de saber que alguém conhecido seu ou não tem um diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo (PEA) ainda menos. Continuamos a verificar que muitas pessoas, principalmente não autistas, continuam a reagir de forma surpresa quando ficam a saber esta informação - Eu sou autista! Mas porquê? Ora vejamos, a emoção de surpresa é gerada por um acontecimento inesperado ou a interrupção súbita de um estímulo, provocando uma pausa permitindo que a pessoa tenha tempo para se orientar. A surpresa é uma das emoções mais breves, durando apenas alguns segundos. Uma vez que se compreende o que está a acontecer, a surpresa tende a se combinar com outra emoção, positiva ou negativa, dependendo do acontecimento que a desencadeou, ou não ser seguida por nenhuma outra, caso não seja avaliada como importante. Uma vez que se compreende o que está a passar, certo! Mas a questão é que no Espectro do Autismo, parece haver muita coisa que se continua sem perceber. E principalmente quando as pessoas não autistas têm um conjunto de crenças muito enraizadas do que pensam ser o autismo, continuam a referir que não é possível que determinada pessoa possa ser autista. Curiosamente, na investigação sobre as emoções, sabemos a activação muscular da surpresa é muito semelhante ao medo. Talvez neste caso especifico seja aquilo que muitas pessoas não autistas passam a sentir, após o primeiro impacto que gerou surpresa - ficam com medo. Mas medo do quê? De quem? De não saberem como lidar com a pessoa? Pensarem que a pessoa poderá ser agressiva consigo? De sentirem que a relação com a pessoa autista possa não ser significativa e reciproca? É importante podermos pensar nisso, também para podermos ajudar as pessoas não autistas a como poderem mudar a sua atitude face às pessoas autistas, e até de forma mais abrangente às pessoas com qualquer perturbação psiquiátrica ou portadoras de deficiência. Sabemos que os modelos das emoções básicas também propõem que estas se agrupam para formar emoções complexas. Na verdade, a maioria dos estados emocionais das pessoas seria formada por mais do que uma emoção. Por exemplo, a decepção seria a mistura de surpresa e tristeza; remorso, a mistura de tristeza e nojo; saudade, a mistura de alegria e tristeza, etc. A melhor forma de nos deixarmos de surpreender e de ter um conjunto de reacções mais negativas nestas situações será não deixar que a nossa representação mental do que pensamos ser o autismo se sobreponha à disponibilidade para estarmos com a pessoa. E isso pode aplicar-se a qualquer situação de interacção. A expectativa que possamos ter acerca do Outro parece configurar a forma como reagimos ao que vamos descobrindo sobre si. E neste caso especifico, o facto de ficarmos a saber que a pessoa é autista, antes mesmo de a podermos conhecer melhor enviesa a nossa atitude e leva-nos a querer afastar desta relação. Fique a saber que também a pessoa autista fica surpresa de perceber que foi essa a sua reacção. E que ao fim de umas quantas vezes em que isso acontece, a surpresa deixa de aparecer e é substituída por tristeza, raiva, ou outra emoção mais complexa. Porque é que nos afastamos ou aproximamos dos Outros? Poderíamos sempre dizer que numa perspectiva Evolucionista estes são avaliados como ameaçadores e como tal fugimos. Mas parece ser mais complexo que tudo isso. Talvez você sendo não autista possa pensar nisso. Mas fique certo de uma coisa - os autistas podem ajuda-lo a melhor compreende-los. A escolha é sua!


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