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¿Por qué no te callas?

Esta foi a frase proferida pelo rei Juan Carlos de Espanha ao presidente Venezuelano Hugo Chávez durante a XVII Conferência Ibero-Americana em 2007. E bem que podia ser também a frase dita por muitos autistas que também sofrem de Misofonia (Síndrome de Sensibilidade Seletiva do Som). Misoquê? Não sabe o que é?! Então é porque não tem uma hipersensibilidade a determinados sons presentes no nosso quotidiano, sons esses que podem conduzir a reações extremas como irritabilidade, raiva e até pânico. E esta Síndrome está frequentemente presente nas pessoas com Perturbação do Espectro do Autismo.

"- Podem parar de fazer barulho?" grita António (nome fictício). Ficaram todos sem saber o que dizer na mesa do restaurante. O pai procurou ignorar a situação a ver se passava. Ao fim de poucos segundos novo grito, "Já disse para pararem, vocês não me compreendem?!", e António irrompeu num choro imparável enquanto a correr se dirigia para a porta de saída. Os pais levantaram-se a correr para deter o António de 5 anos de idade que entretanto já estava quase na rua. Não voltaram a entrar no restaurante.


"- Professora, professora, pode chegar aqui?", dizia Emília (nome fictício) para dizer à professora que não estava a aguentar o barulho na sala de aula e não se conseguia concentrar no teste. A professora encolheu os ombros e disse que não estava a perceber de que barulho ela se estava a referir. Os colegas entretanto começavam a olhar e a gracejar. A professora teve de intervir para acalmar a animosidade. E enquanto isso Emília saia a correr pela porta da sala e só conseguiu ser travada próximo da Wc.


Joaquim (nome fictício) fica sempre ansioso assim que entra na estação de comboios para ir trabalhar. Na semana passada chegou atrasado mais de 45 minutos. Teve de descer três estações antes e foi a pé. Não conseguia aguentar o suspiro da pessoa que ia no comboio sentado à sua frente.


É verdade que quando há um maior silêncio, qualquer ruído, por mais pequeno que seja, parece ampliado. No entanto, para as pessoas com Misofonia, esta situação ocorre com mais frequência e intensidade. O mascar da comida nas refeições parece uma debulhadora, a caneta a bater na mesa da sala de aula parece um martelo pneumático a tirar azulejos do chão e o suspiro no comboio parece uma mota a arrancar em alta velocidade. Pode parece tudo exagerado para muitos de nós. Mas acreditem que não o é para uma pessoa com Misofonia!


A misofonia é uma perturbação psiquiátrica, caracterizado por raiva intensa e nojo, que são accionados quando as pessoas são confrontados com sons humanos específicos, como bater, mastigar, respirar alto ou digitar. Esses sons provocam agitação e agressão espontânea , o que faz com que as pessoas evitem situações com possível "gatilhos". Por exemplo, refeições com outras pessoas, evita-se o uso de transporte público ou reuniões relacionadas ao trabalho. E se as situações não podem ser evitadas, são suportadas com intenso sofrimento. O sofrimento e a evasão levam a grandes problemas sociais e ocupacionais. A misofonia é uma situação recente e a investigação neste campo apenas recentemente tem avançado. A etiologia da misofonia permanece desconhecida. Pessoas com misofonia geralmente têm audição normal e reações misofónicas não estão relacionadas aos limiares auditivos. Portanto, acredita-se que estas reacções sejam devidas ao aumento da conectividade entre regiões cerebrais auditivas e límbicas. Além disso, tem sido associado com várias condições psiquiátricas, como a síndrome de Tourette e Perturbação Obsessivo-compulsivo da personalidade, sugerindo uma etiologia compartilhada. Actualmente, não há nenhum tratamento baseado em evidências que esteja disponível. Pese embora ter sido reportado efeitos benéficos em pessoas tratadas em clínicas de audiologia, a interpretação é limitada devido à ausência de um método de avaliação para diagnóstico, gravidade dos sintomas e melhora.


Num modelo de intervenção Cognitivo-Comportamental para a misofonia, os principais sintomas consistem num hiperfoco em sons humanos e um afecto negativo imediatamente desencadeado como reacção ao som. O aumento do foco em gatilhos misofónicos pode ser devido ao controlo atencional prejudicado, enquanto que o efeito afectivo negativo imediato pode estar relacionado com o aumento dos níveis de irritabilidade. É importante dizer que mera exposição aos gatilhos misófonos não parece levar à diminuição da reacção e do mal estar na pessoa. Pode até ter uma reacção adversa e contrária e aumentar os sintomas. Portanto, no modelo de intervenção abordamos os dois principais sintomas com quatro diferentes técnicas: exercícios de concentração nas tarefas; contra-condicionamento, manipulação de estímulos e exercícios de relaxamento.

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