Não lhe digas nada que ela está naquele período do mês! Já ouviu esta frase? Ou, Não lhe ligues que ela está na menopausa! E esta? No que diz respeito ao período menstrual e à menopausa há muitas histórias que se contam. Assim como muitas frases e nem todas correspondem à realidade.
Recordo-me que nos anos 80, estava eu no 2º ciclo, e já ouvia algumas colegas e amigas minhas dizer que quando estavam menstruadas não podiam lavar o cabelo. Ou quando víamos que havia algumas colegas a ficar no banco sem fazer Educação Física, sabíamos que estavam menstruadas. Ou quando a mãe decidia fazer um bolo lá em casa a filha por vezes ficava sem poder participar. Isto em relação à menstruação. Mas também sabemos que há um manancial de histórias, crenças e mitos relativamente à menopausa.
A Síndrome Pré-Menstrual (SPM) ou Tensão Pré-Mentrual, são nomes conhecidos de muitas raparigas e mulheres. Caracterizado por uma combinação de sinais e sintomas que surgem cerca de uma semana antes do período menstrual. Estes ocorrem, possivelmente, devido à flutuação de níveis hormonais. E pode interferir com a realização de algumas actividades do dia a dia, tanto a nível social, e profissional, com possível impacto na qualidade de vida. A SPM parece ser mais frequente em mulheres com elevado nível de stress no dia a dia e com um historial familiar de depressão. Os sinais e sintomas emocionais e/ou comportamentais associados costuma ser: flutuações de humor, problemas de sono, alteração do apetite, diminuição da concentração, tensão ou ansiedade, depressão e diminuição da libido.
No que diz respeito à menopausa, e com a redução gradual do funcionamento dos ovários e a diminuição da produção de estrogénios, surgem várias manifestações associadas. De entre elas, os afrontamentos e suores, irritabilidade, ansiedade, depressão, fadiga, secura vaginal e diminuição da libido e aumento da predisposição para as doenças cardiovasculares e osteoporose.
Ou seja, além de um conjunto vasto de necessidades decorrentes do seu diagnóstico de autismo, as mulheres sentem ser importante que estas outras questões de saúde possam não ser descuradas. Sendo que se continua a verificar um aumento da SPM em algumas mulheres autistas e que parece ser devido à sua própria variação hormonal já pré-existente. Contudo, é plausível perceber que há todo um conjunto de factores que levam a supor este mesmo aumento no mal estar derivado da SPM na mulher autista. Para além disso, é conhecido o impacto que as questões sensoriais podem ter na SPM e nas sensações causadas por esta. Situações estas que potenciam a experiência de dor e mal estar. E no que diz respeito à menopausa, é importante verificar que estas mulheres já elas próprias apresentam todo um conjunto de sintomatologia ansiosa e depressiva decorrente do seu quadro clínico. E que acaba por ser exponencialmente aumentado na entrada neste período.
O desconhecimento destes e outros aspectos no autismo parece reflectir a negligência de aspectos fundamentais para a pessoa ao longo do ciclo de vida. E que parece ser ainda negligenciado quando se procura realizar investigação no autismo. Continuamos em muito a assistir ao estudo dos aspectos relacionados com os critérios de diagnóstico, genéticos, comportamentais, cognitivos, etc. E deixamos de parte tudo o que diz respeito à vida das pessoas ao longo do ciclo de vida. No caso das raparigas e mulheres autistas, aspectos que têm a ver com a sua resposta hormonal e que se traduz no período menstrual e menopausa. Não que os aspectos que se investigam no autismo não sejam importante. Contudo, não são os únicos e precisa de haver uma maior abrangência, até para poder ajudar a melhor a qualidade de vida das pessoas. Além de retirar a sub representação das experiências de vida de muitas raparigas e mulheres autistas.
Além do mais, o facto de não serem estudados com tão grande frequência estes e outros temas, leva a uma menor compreensão sobre factores de risco e outros indicadores da qualidade de vida da mulher autista. Até porque, muitos desses riscos específicos da mulher estão associados a pontos de transição reprodutiva. Ou seja, momentos em que há uma grande reorganização dos sistemas neuroendócrinos e que dá origem a mudanças fisiológicas e psicológicas e onde a exposição ao stress e outros fatores ambientais que tem um impacto maior na saúde e no bem-estar da mulher autista.
Sendo que a primeira delas é a puberdade feminina, e que está associada, entre outras mudanças, a um aumento nos sintomas de ansiedade e depressão, aumento do cortisol basal e aumento da reactividade ao stress, e com aumento da prevalência de doenças autoimunes e cancro. E uma outra prende-se com a menopausa e com iguais mudanças importantes no sistema endocrino, e que corresponde a um aumento das taxas de morbilidade.
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