Quando consultei hoje de manhã as minhas notificações, verifiquei que tinha um tag da minha colega Marta Duarte no Facebook para uma noticia no The Guardian - "At 47, I discovered I am autistic – suddenly so many things made sense". Após ler a noticia fiquei imediatamente com a sensação de já a ter lido. Mas não, é uma história semelhante a tantas outras que tenho presenciado. E por isso me lembrei do nome Perdidos & achados. Talvez e infelizmente o titulo fizesse mais sentido ser Perdidos, achados & novamente perdidos. Tal como podem ver nesta foto que representa a secção de perdidos & achados da estação de Tóquio, são inúmeros os chapéus de chuva amontoados. Compreendo perfeitamente este cenário, até porque ao longo da vida já contribui com a minha cota parte. Muitos deles porventura nunca serão reclamados. Alguns dirão que ao preço a que são vendidos não faz sentido o trabalho de andar à procura deles e mais o preenchimento do formulário na secção respectiva. Outros pensarão na estima que têm ao seu chapéu de chuva e farão tudo para o encontrar. Alguns perguntarão nesta altura, o que terá a ver os chapéus de chuva e os perdidos & achados com a descoberta do diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo tardiamente na vida? Porventura terá tudo a ver. Se pensarmos que 1 em cada 59 crianças terá um diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo e nos adultos refere-se que o número é de 1 em cada 100. Ao lermos estes números ficamos com a ideia de que haverá certamente mais pessoas com um diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo por ai, mas que não estarão identificados. Serão certamente, tantos ou mais do que estes chapéus que estão na fotografia. Alguns identificados com designações que porventura não lhes correspondem. Tal como muitas pessoas adultas que apresentam outros diagnósticos que também não lhe correspondem na totalidade e não as ajudam a se compreender. Mas porque é que isto acontece, perguntam-se! Porque continua a haver ainda muitas pessoas que pensam que o Autismo é uma coisa que na verdade não é ou então que não representa a sua totalidade. Ficam com a ideia, tal como muitas pessoas, de que os chapéus de chuva são quase todos iguais. Mas não o são. Ainda que na sua estrutura possam-no parecer, as pessoas que o têm conferem-lhe um significado diferente, único. O mesmo acontece no Espectro do Autismo. Ainda que as características que estão presentes no diagnóstico sejam aquelas, a expressão comportamental da pessoa em relação a elas é singular. E isso faz com que a forma como nós as vamos observar seja diferente. Mas isso não significa que as pessoas não sejam autistas. E é fundamental que todos nós possamos compreender isso. E ainda mais os profissionais de saúde. Isto porque se continua a verificar, mais vezes do que gostaríamos de saber, de profissionais de saúde que continuam a referir que esta e aquela pessoa não se enquadra no Espectro do Autismo. Ainda que respeitando a liberdade dos profissionais de saúde na conceptualização dos casos e no diagnóstico atribuído. Dizer que a pessoa não pode ser do Espectro do Autismo porque estabelece contacto ocular, tem ou faz questão de ter relações sociais, entre outros exemplos, parece-me dizer muito pouco desta capacidade de alguns dos profissionais de saúde. Além do mais, os profissionais de saúde que estão a trabalhar na saúde mental deveriam estar ainda mais sensibilizados para as diferentes expressões que uma mesma perturbação psiquiátrica pode apresentar. Continuar a haver pessoas que aos 20's, 30's ou 50's e mais descobrem que afinal aquilo que melhor os ajuda a compreender e a enquadrar a sua história de vida é uma Perturbação do Espectro do Autismo é frustrante. Pensar que se passou por tantos profissionais de saúde e que ninguém foi capaz de perceber isso. E não percebendo que a pessoa não estava a progredir não a terem encaminhado para outro colega ou serviço para a pessoa ser reavaliada. As pessoas merecem-no. Todos nós o merecemos. É um direito nosso. Podermos saber o que se passa connosco. Podermos perceber a nossa pessoa, o Outro, o Mundo e a forma como nós interagimos.
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