Spoiler alert - o seguinte post não contem cenas ousadas, sexo explicito, linguagem imprópria ou qualquer outra questão que esteja na vossa mente. Os monólogos da vagina de Eve Ensler já deu e continua a dar muito que falar, felizmente. Adulterei o titulo para Os diálogos da vagina porque sinto que que a questão que vou abordar precisa de ser conversada por todos e com todos, principalmente a mulher com Perturbação do Espectro do Autismo (PEA). E tem a ver com a questão da menopausa. Se já não havia muito mais para incluir na lista de preocupações da mulher com PEA, eis que surge mais outra. E que sempre esteve presente e que pelas razões presentes na mulher autista é fundamental ajuda-la a compreender e a saber o que e como fazer neste período da vida.
O facto de ser homem penso que acaba por limitar a minha reflexão sobre o tema da menopausa. Ainda assim, não constitui o meu objectivo sentir o que acontece na mulher neste período da vida, mas sim compreender o fenómeno e principalmente compreender a mulher que descreve o que está a sentir neste período. E enquanto profissional de saúde na área da saúde mental sinto-me à vontade para contracenar nestes "diálogos da vagina"!
A menopausa é caracterizado pela cessação permanente da menstruação devido à perda da função folicular dos ovários. Clinicamente, a menopausa é diagnosticada após 12 meses de amenorreia, e a idade média do surgimento da menopausa ocorre por volta dos 51 anos.
As dramáticas mudanças nos níveis de hormónios sexuais que ocorrem durante a transição da menopausa e além são responsáveis por consequências a longo prazo, que são de suma importância para o envelhecimento saudável das mulheres. Os hormónios sexuais têm um papel fisiológico vital para manter a saúde e o funcionamento normal de vários órgãos, como os ossos, coração e cérebro. A actividade da doença é fortemente dependente da exposição ao estrogénio, e as condições cardiovasculares e musculoesqueléticos ocorrem com mais frequência durante a vida pós-reprodutiva. Mesmo o declínio cognitivo está relacionado à privação hormonal durante a transição da menopausa. Várias linhas de evidência indicam que a presença, duração e gravidade dos sintomas da menopausa, especialmente as ondas de calor, não apenas afectam a qualidade de vida, mas também são biomarcadores de risco aumentado para condições crónicas, que exigiam estratégias preventivas, incluindo a utilização de terapias hormonais. Além de nutrição, exercício e outras medidas de estilo de vida, o uso de tratamentos hormonais apropriados em mulheres sintomáticas durante a “janela” de oportunidade (menos de 60 anos ou 10 anos após a menopausa) pode neutralizar significativamente o processo de envelhecimento.
O facto de ter uma Perturbação do Espectro do Autismo não isenta a mulher de ter as mesmas questões relacionadas com a menopausa. Adicionalmente a estas há todo um conjunto de características próprias da condição do neurodesenvolvimento e que na relação com as variáveis anteriores traz um conjunto de situações mais complexas. As mulheres autistas frequentemente lutam com o início da menstruação, um ponto de transição importante na vida reprodutiva feminina. Actualmente, não há investigação de como as mulheres autistas navegam na transição da menopausa e se ela apresenta desafios adicionais além daqueles já enfrentados por mulheres neurotípicas.
A prática clínica e a compreensão da própria narrativa da mulher autista faz sobressair alguns temas. Um primeiro, a falta de conhecimento e entendimento. Poderíamos pensar que ao fim destes anos, por volta dos 50 anos de idade, a mulher pudesse estar mais informada acerca desta situação, certo? Mas pelos vistos não é bem assim. E no caso da mulher autista este aspecto parece estar ainda mais vincado. Até porque a mulher autistas apresenta características que dificultam a procura de informação seja junto dos profissionais de saúde mas principalmente junto dos pares. Tem um impacto na máscara social e no funcionamento adaptativo e na possibilidade de encontrar apoio, principalmente pelas maiores dificuldades derivada da sua condição.
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