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Foto do escritorpedrorodrigues

Orange is the new black

Lamento, mas não venho dizer que vai ser gravado a oitava série da Orange is the new black. A série baseada em Orange is the new black: My year in a women's prison (2010), memória criada por Piper Kerman, sobre as suas experiências numa prisão federal de segurança mínima.


Muitos de vocês já ouviram ou leram sobre o ratio de diagnósticos de autismo entre homens e mulheres. E nessas leituras já se deram conta de que o número inicial de uma mulher diagnosticada com autismo para cada quatro homens com igual diagnóstico parece não ser bem assim. E a literatura cientifica tem mostrado que a diferença é bem menos. Para além de trazer evidência sobre a diferença entre o perfil de funcionamento entre homens e mulheres autistas, naquilo que é conhecido como o fenótipo feminino no autismo.


A prevalência do autismo a nível mundial está entre 1% e 2%. Sendo que em Portugal se estima que a percentagem esteja entre 0,5% e 0,7% para homens e mulheres diagnosticados com Perturbação do Espectro do Autismo.


Contudo, muito poucos ouviram falar sobre o número de pessoas autistas que estão a cumprir pena de prisão. E ainda menos ouviram sobre as mulheres autistas que estão nesta situação.


A realidade em Portugal sobre esta questão está muito áquem daquilo que vai sendo feito e conhecido em outros países europeus. Mas a partir do momento em que conhecemos a prevalência desta condição na população Portuguesa, podemos esperar encontrar pessoas autistas nas mais variadas condições, nomeadamente a cumprir uma pena de prisão.


Já tem sido demonstrado em alguns estudos em países europeus que a percentagem de pessoas autistas a cumprir pena de prisão se cifra entre 3% e 5% da população encarcerada. E se há muito que ainda se desconhece sobre o autismo no adulto e mais em particular na mulher autista. Garantidamente, a realidade das mulheres autistas em contexto prisional é ainda mais desconhecido.


E se sabemos que é importante conhecer o perfil de funcionamento das pessoas autistas adultas dentro dos diferentes contextos (e.g., universidade, local de trabalho, comunidade, etc.). Até para podermos propor determinado conjunto de acomodações para que as pessoas autistas se sintam mais e melhor integrados nestes contextos. O mesmo se aplica ao contexto prisional.


Já em outros momentos escrevi sobre a importância de se dar a conhecer o autismo e o perfil de funcionamento das pessoas autistas sobre os diferentes agentes presentes no Sistema Criminal e Judicial (i.e., Juízes, Advogados, Funcionários judiciais, Guardas prisionais, etc.). Mas é fundamental que o período de tempo que as pessoas autistas, e neste caso especifico as mulheres autistas, estão a cumprir a sua pena de prisão, possa ser acompanhado e acomodado face às necessidades especificas observadas nesta população.


Se temos a ideia de haver todo um conjunto de rótulos usados em contexto prisional pelo simples facto de se estar a cumprir um pena de prisão. E que pode ser alargado ao facto dessa mulher poder ter perpetuado um determinado crime, ou ser oriunda de uma determinada comunidade ou etnia. Podemos certamente depreender que o facto de algumas destas mulheres serem autistas, e ainda mais sem conhecerem o seu diagnóstico, a sua experiência deste período poderá ser ainda mais impactante e traumático.


Se sabemos que é mais dificil para as pessoas autistas conseguirem fazer uma leitura mais aproximada à realidade social observada. O que dizer sobre o facto de no contexto prisional haver todo um código de conduta bastante diferente face àquele que existe na Sociedade. E como é que as mulheres autistas conseguirão compreender todo um conjunto de pistas sociais, já de si tão complexas de compreender face às diferenças entre pessoas autistas e não autistas. E que neste contexto prisional são ainda mais complexos e diferentes daqueles encontrados fora deste contexto.


É fundamental pensarmos que podemos encontrar pessoas autistas adultas nos mais variados contextos. E que além de ser importante podermos continuar a investir na identificação e diagnóstico destas pessoas para as ajudarmos a melhor compreender a sua pessoa. Também é vital podermos ajudar as pessoas não autistas e que estão neste e outros contexto a conhecer e saber como lidar.


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