Um aspecto fundamental na entrada da vida adulta passa por integrar o mercado de trabalho. Ao longo dos anos tem havido imensas transformações no próprio mercado que têm trazido outras tantas dificuldades. No caso dos autistas parece que estas dificuldades nunca desapareceram.
Cerca de 90% das pessoas com algum tipo de incapacidade perdem os seus trabalhos devido às suas dificuldades nas soft skills. Este número é avassalador e causador de enorme ansiedade nos autistas e suas famílias. Estas realidades ajudam a construir uma crença de que as pessoas autistas, nomeadamente as adultas, não podem ou não conseguem alcançar etapas fundamentais do ciclo de vida. Como por exemplo trabalhar, mas não só. Associado à possibilidade de ter um trabalho vem a possibilidade de ter uma habitação própria, constituição de família, etc.
A intervenção ao longo do ciclo de vida dos autistas centra-se, entre outros aspectos, no treino de competências sociais e pessoais. Até aqui tudo bem. São competências muito necessárias e que comprometem o desenvolvimento quando não presentes. No entanto, este mesmo treino parece estar muito orientado nas competências para interagir na escola com os colegas e com a família. Mas não no contexto socioprofissional de uma forma mais especifica.
É certo que começa a haver programas de intervenção específicos para trabalhar estas competências para a preparação do mercado de trabalho. No entanto, as mesmas apenas estão a ser desenvolvidas nas etapas desenvolvimentais mais próximas destas etapas. Ou seja, numa momento mais precoce do desenvolvimento, por exemplo na entrada da adolescência seria um momento mais oportuno até pela capacidade de flexibilização que os próprios jovens apresentam do ponto de vista maturativo.
Mas para além de todo o trabalho a fazer junto dos autistas e das suas famílias. Também é fundamental sensibilizar as escolas no processo de formação e de preparação destes mesmos jovens com estas características para um processo de transição para a etapa seguinte. Para além disso será fundamental sensibilizar o mercado de trabalho e de recrutamento. As ideias continuam adaptadas a um protótipo normativo de adulto e que parece não compreender a integração dos autistas. Já vão existindo algumas empresas com mudança no seu paradigma e a olhar para a neurodiversidade e a integração de autistas nos quadros das suas empresas como uma mais valia. Mas ainda continua a ser uma excepção. O próprio mercado de recrutamento e as metodologias usadas no seu processo continua adaptada a outras características e que são na sua maioria penalizadoras para os autistas.
É fundamental que o movimento de inclusão e respeito pela neurodiversidade possa crescer com a participação de todos, autistas inclusive. Precisamos de romper velhos hábitos e maneiras de funcionamento tal como o fizemos no passado para nos batermos por condições condignas e de acesso ao trabalho. E este movimento precisa de incluir os autistas.
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