Sei que alguns de vocês ao olharem para esta fotografia irão sentir algo entre a nostalgia e o eu já sei que vais falar do Dungeons & Dragons (trad. Masmorras & Dragões). Também é verdade que outros irão encolher os ombros e não fazer a mínima ideia do que se trata. Ou pensarem que irei falar da nova época do Game of Trones porque aparece um dragão na fotografia.
Mas irei falar do Dungeons & Dragons e aproveitar para sublinhar outras questões. Em primeiro lugar, e para quem não faz a mínima ideia do que é o Dungeons & Dragons, este é um jogo de tabuleiro e que foi criado nos anos 70 do século XX e que no presente momento vai na 5ª edição. Posto assim, parece que estamos a falar de um jogo da idade média. Neste jogo de interpretação de papeis de alta fantasia, os participantes irão ao longo do tempo criando personagens que embarcam em aventuras imaginárias em que enfrentam monstros, reúnem tesouros, interagem entre si e ganham pontos de experiência para se tornarem mais poderosos à medida que o jogo avança. A história do jogo é determinada por uma pessoa que ocupa o papel de Dungeon Master. Este também descreve as diferentes personagens ou jogadores não jogáveis que vão ser encontrados no jogo, assim como as regras. Uma partida habitualmente dura várias sessões, chamadas de aventuras. E um conjunto de aventuras relacionadas entre si é chamada de campanha.
Num breve aparte quero referir que tenho tido experiências muito positivas com a utilização deste jogo para fomentar a criação de relações interpessoais e de amizade entre pessoas autistas e que também apresentam interesse ou curiosidade com os videojogos ou jogos de uma maneira geral, nomeadamente de tabuleiro.
Além disso, e tal como tem sido observado em séries televisivas, animadas, etc., as personagens que vão surgindo têm determinadas características e representam um determinado papel social semelhante ao que se observa na Sociedade. E como tal, é possível verificar nos desenhos animados da Bluey a introdução de uma personagem com Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção. Ou então na Barbie, actualmente tão falada, em que se verifica a introdução de várias profissões ou outras personagens em cadeira de rodas. E os próprios Marretas ou Rua Sésamo que a determinada altura introduziu uma personagem com diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo.
Este tipo de iniciativas serve o propósito de sensibilizar e em alguns casos, consoantes o público alvo, para a diferença e a importância da inclusão, bem como da própria representatividade de determinadas minorias.
E o Dungeons & Dragons também não desiludiram e nesta nova edição incluíram uma personagem autista. O Deck of Many Things e o Book of Many Things é, tal como habitualmente no Dungeons & Dragons, escrito por uma personagem. E esta nova personagem, de nome Asteria é autista. Não é coincidência o facto do seu criador ser ele próprio uma pessoa autista.
É importante podermos pensar que aquilo que são os designados interesses restritos, habituais de se observar nas pessoas autistas, pode ser aproveitado em beneficio da própria, se esta assim o entender. Seja para o bem estar, do ponto de vista do prazer causado pela realização de determinada actividade, mas também do ponto de vista profissional. Os jogos de representação de papéis, tal como o Dungeons & Dragons, e que muitos internautas conhecem com a designação RPG (Role-Playing Game), são bastante importantes para as pessoas neurodivergentes. Até porque fornecem uma estrutura e uma experiência relativamente àquilo que sentem como uma interacção social caótica e que ocorre no seu quotidiano. Um outro exemplo semelhante é aquele que acontece com o jogo Sims 2, em que muitos das suas jogadoras (em maioria são mulheres), aprendem e desenvolvem competências sociais observando as características e as dinâmicas relacionais e interpessoais ocorridas entre as diferentes personagens deste jogo. Para aqueles que nunca jogaram o Dungeon & Dragons ou já tenha feito uma primeira abordagem, pode sentir que é um jogo complexo. Contudo, existe uma narrativa subtil e sólida e que liga toda a história. Esse fio condutor é mantido por um conjunto de regras que regem cada cenário.
O jogo, assim como o brincar, tem esta mais valia de simular todo um conjunto de diferentes papeis sociais e de dinâmicas relacionas e interacionais, e que se traduzem em aprendizagens e que não se esgotam apenas na infância. Os jovens e adultos, sejam eles neurotipicos ou neurodivergentes podem beneficiar a vários níveis e dimensões com o jogar. No caso do Dungeons & Dragons, seja o ter de desenvolver toda uma personagem com a qual irão jogar e que normalmente se identificam. Mas também a aprendizagem de todo um conjunto de regras, desde as mais práticas mas também as mais subtis, não esquecendo aspectos da moral e ética. Tudo aquilo que está presente na vida real e quotidiana de qualquer um de nós está presente neste jogo, ainda que de uma forma adaptada, representada e simbolizada. Sinta-se desafiado!
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