Como é que alguém poderia saber que eu andava à procura disto? Eu não falei com ninguém! Ouvia-se na mesa do lado. É o algoritmo! disseram rapidamente. Como?! questionava incrédulo a mesma voz inicial. É o algoritmo! repetia novamente a segunda voz, certa daquilo que estava a afirmar e com a ideia de que todo e qualquer ser humano já devia saber disso por esta altura.
Nunca vos aconteceu algo semelhante? Andarem à procura de algo e de repente sentirem que todos os estímulos presentes na internet apontam para lá? Mesmo os mais distraídos já devem ter tropeçado nesse tal algoritmo. Eu já, isso eu tenho a certeza. E por vezes também já experimentei ter pessoas a tropeçarem no algoritmo e virem ter comigo. Isso mesmo, aparentemente as pessoas andavam à procura de algo e vieram ter comigo. Calma, que este não é nenhum texto de auto vangloriação. E na verdade as pessoas não estão a procurar por mim. Na verdade as pessoas nem têm bem a certeza do que estão à procura. Mas o algoritmo parece saber. Estranho? Assustador? Não é, eu explico!
O algoritmo representa os passos necessários para resolver um problema. E não, não é apenas um conceito de agora e das tecnologias de informação. Já há mais tempo que existem problemas e sempre precisaram de ser resolvidos. É por isso que o conceito de algoritmo já vem de Euclides. Para qualquer problema há uma sequência finita de acções executáveis que procuram obter a solução para esse determinado problema. Por exemplo, muitos já terão procurado realizar a Torre de Hanoi. E nessa tentativa descobriram que existe uma sequência de passos que necessitam de ser executados. Mas o que é que esta questão do algoritmo tem a ver com o autismo?
Quando as pessoas usam um motor de pesquisa, por exemplo como o Google, elas têm um problema. Isso mesmo, um problema! Ou seja, há algo que elas procuram saber, compreender, aprender, conhecer, etc. E os resultados derivados dessa mesma pesquisa irá constituir a solução ou soluções para responder às suas necessidades. Tendo em conta que a internet desde há algum tempo que apresenta um conjunto infindável de informação, esta precisa de ser rankeada. E por isso, as soluções apresentadas pelo motor de pesquisa aparecem numa determinada ordem, precisamente calculada de acordo com o algoritmo.
Agora no que diz respeito ao autismo, são cada vez mais as pessoas que pesquisam informação sobre o autismo nos diversos motores de pesquisa existente. Seja porque têm alguém conhecido com este diagnóstico, porque querem saber mais acerca do autismo, mas também porque eles próprios desconfiam que possam ser autistas. E quando as pessoas pensam que podem ser autista começam por visitar sites com informação respeitante a esta condição. Ou procuram informação sobre aspectos da saúde mental, mas também sobre determinados comportamentos que apresentam. Por exemplo, “dificuldades na interacção social”, “isolamento social”, “gostar de rotinas”, ”hipersensibilidade ruído”, etc. As palavras usadas são várias e nem sempre são as mais adequadas para levar rapidamente a pessoa ao encontro da informação certa. Mas a pessoa não desiste de encontrar uma solução para o seu problema e empreende várias e novas tentativas no motor de pesquisa. E o algoritmo que tem essa capacidade de aprender vai aprimorando a informação que a pessoa necessita.
Além disso, como há muitas outras condições que acabam por acontecer em simultâneo com o autismo, normalmente designadas de comorbilidades, as pessoas acabam por mais rapidamente chegar a esta solução. E a partir daqui descobrem que têm muito mais para descobrir. Mas pelo menos sabem que há um caminho possível para obter uma resposta para as suas questões. Como tal, se falarmos todos mais sobre o autismo, passará a haver mais pessoas a encontrar soluções para as suas questões.
E isto é o principio de todo o caminho - encontrar uma resposta inicial e que conduz ao diagnóstico. As primeiras pesquisas começaram por ajudar a pessoa a compreender que poderá haver uma compreensão, explicação para a sua pessoa, o que ela faz, sente e pensa. Para além de ajudar a pessoa a encontrar profissionais de saúde que a possam ajudar neste processo. E é neste momento que algumas pessoas me encontram e mais precisamente encontram o site www.autismonoadulto.com. Mas também ajuda a que as pessoas possam encontrar comunidades autistas e pessoas com quem mais fácil e rapidamente se identifiquem e que lhes forneça uma sensação de identidade e pertença.
O resto do caminho é algo que vai sendo feito, com altos e baixos, sucessos e insucessos, frustrações e soluções, tal como tudo na vida de todos nós. No caso das pessoas autistas adultas é importante que possam ser estes a construir o seu caminho e o seu projecto de vida, ainda que o mesmo possa ser realizado de forma acompanhada e de preferências por pessoas que estes escolhem e lhes faz sentido terem presentes. Como tal, estas pesquisas, sobre o autismo e não só, é uma pesquisa não apenas de comportamentos e conceitos médicos e psicológicos, mas também é, e fundamentalmente uma pesquisa sobre si próprios. E isso é uma característica inerente à condição humana.
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