Mãe, Pai, acham que eu devo dizer na escola que sou autista?, perguntou Sara (nome fictício), recentemente diagnosticada com Perturbação do Espectro do Autismo. Sara tem 9 anos e está no 4º ano. Os pais vão conversar os dois sobre isso e depois falamos!, responderam os pais que na verdade não sabiam o que haviam de dizer. Nunca tinham pensado nisso. Também nunca tinham tido nenhuma outra situação semelhante em que tivessem de reflectir se haveriam de tornar público algo seu! A Sara é a sua única filha. E das inúmeras coisas que falaram com o médico e depois com o psicólogo, essa foi uma das questões que não abordaram. É todo um mundo novo para nós, disseram os pais! É todo um mundo novo para a Sara!, disse-lhes eu. Eles concordaram. É um caminho de descoberta para todos vocês, acrescentei. Aprenderem a conhecer a Sara, assim como a respeita-la na sua forma de ser. Aprenderem a conhecerem-se neste vosso papel de pais de uma filha autista. Os desafios não serão apenas os da Sara. Também serão os vossos. Seja no lidar com a Sara, mas também com vocês próprios e na relação com o Mundo. Além do mais a Sara também terá todo um caminho para se ir conhecendo e aprendendo a respeitar, assim como a se aceitar e se orgulhar de si mesma. Tal como vocês pais o irão sentir, concluí. Como é que nós podemos fazer?, perguntaram os pais. Tal como qualquer pai e mãe que se orgulha dos seus filhos e os defende, ama e ajuda a crescer, disse-lhes eu. E na escola como vai ser? perguntaram novamente os pais. A escola também irá precisar de aprender. Assim como os professores da Sara e os seus colegas, referi-lhes. Nós já ouvimos muitas histórias sobre isto do autismo, sabe!?, disseram. E nem todas foram positivas. Muito pelo contrário. Muitas delas foram bastante negativas, e nós estamos com medo, percebe!?, disseram mais. Compreendo que o medo os faça recear. É aquilo que se espera que o medo nos faça, recear, recuar. Tal como a criança que de noite não consegue ir à casa de banho às escuras por ter medo, disse-lhes. Mas também ela aprende a que não há nada a recear, apesar de continuar a estar escuro. Isso é algo que também iram ajudar a Sara a fazer, certo? Também isto do autismo vai acontecer o mesmo, compreendem?, concluí. Mas as coisas não assim!, remataram. A vida, e as pessoas não são assim! As próprias crianças são cruéis! Alguns professores não querem compreender as coisas, compreende?, disseram-me. É verdade que não somos todos iguais, referi. E nesta diversidade, encontramos pessoas que não nos vão ajudar. Até chegam a nos causar problemas e mais dificuldades, continuei. Mas não é isso que nos faz desistir do caminho na vida, certo? Já tiveram outros desafios, receios e incertezas na vida, correcto? E também pensaram em desistir, mas acabaram por sentir que aquilo que fazia mais sentido era continuar. Agora vai acontecer o mesmo, concluí. Além do mais a vida, seja a vossa vida e agora a vida com a vossa filha Sara, também tem imensas coisas boas. Procurem mantê-las presentes. Procurem em conjunto cultivar mais momentos desses. E verão que a própria Sara também sentirá vontade e coragem e o fazer. Esse é o orgulho. O de nos aceitarmos e celebrarmos, tal qual somos. Assim como celebramos o nascimento de um filho nosso. E todos os anos celebramos o seu aniversário, o nosso próprio aniversário. E provavelmente muitos sentiram que até chegarem a ter um filho o caminho foi árduo. E que durante o ano também houve alguns momentos mais difíceis e desafiantes. Mas não deixaram de celebrar esses momentos. A vida é todo um conjunto infinito desses momentos, disse-lhes. Emocionados, eles e eu, termina-mos a consulta. No dia 18 de junho celebra-se o dia do Orgulho Autista. É verdade que hoje ainda é dia 6. Mas talvez alguns de vocês se queiram ir preparando para essa mudança.
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