Oitenta e seis mil milhões de neurónios. É a quantidade de neurónios calculada para uma pessoa adulta. São muitos neurónios e muitas connecções. Sem as quais toda aquela quantidade de neurónios de nada serviria, pois não conseguiam comunicar entre si e participar na realização de tudo aquilo que cada um de nós faz no seu quotidiano.
Os neurónios continuam a ser fundamentais, mas estas conecções são vitais. Assim como as pessoas, também elas individualmente são fundamentais, mas a forma como elas se connectam e comunicam entre si é vital. Caso contrário, teremos pessoas fantásticas a um nível individual, mas que não conseguem alcançar todo um conjunto variado de objectivos porque esta conecção não acontece ou acontece de uma forma inadequada.
E tal como na imagem que acompanha este texto mostrando alguns neurónios e as suas ramificações que se interligam entre eles fornecendo uma amostra da complexidade que está armazenada no nosso cérebro quando pensamos que temos 86 mil milhões de neurónios. Também a relação entre as pessoas na Sociedade é igualmente diversa e complexa.
Mas não venho aqui para vos falar de redes neuronais e do desenvolvimento de redes artificias em laboratório para mostrar como as pessoas pensam, sentem e se comportam. Mas podemos aproveitar o conhecimento derivado destas metodologias e que mostram como toda esta complexidade que ocorre no cérebro pode ser traduzida para um conjunto de informação mais simplificada e que um número maior de pessoas a possam compreender. E neste caso, os neuro connectors, que na verdade são dispositivos electrónicos e que permitem ligar a actividade eléctrica que ocorre no cérebro humano e transportar essa informação para um outro equipamento que regista essa mesma informação, traduz aquilo que vos gostaria de falar.
Nos últimos cinco anos tem sido cada vez maior o número de empresas que se têm dedicado à contratação de pessoas neurodiversas para os seus quadros. Se fizermos uma pesquisa rápida no Google percebemos que além de haver empresas a fazerem esta contratação, há inclusive empresas que são apenas constituídas por pessoas neurodiversas. E se alguns de vocês pensam que estas empresas estão com dificuldades económicas ou de crescimento, pensem melhor, pois não é o caso. E não fiquem presos à explicação de que a Microsoft nunca teria problemas de crescimento e que isso não se deve à contratação de pessoas neurodiversas. Até porque já foi demonstrado que a entrada de pessoas neurodiversas nos quadros da empresa e a implementação de uma politica de contratação inclusiva e neurodiversa aumentou o bem estar e qualidade de vida de todos os trabalhadores, assim como a satisfação dos clientes que usufruem dos seus produtos.
Mas como é que podemos criar uma conecção melhor e mais funcional entre as empresas e as pessoas neurodiversas?
São várias as propostas existentes até à data. Há Organismos públicos que se criaram para receber as candidaturas de pessoas neurodiversas e poderem fazer o emparelhamento com as empresas que se candidataram a fazer essa contratação inclusiva e neurodiversa. Penso que são iniciativas fundamentais e que demonstram a importância dada a esta questão. E já observamos que há Organizações privadas que desenvolveram esforços para criarem centros semelhantes para realizar este mesmo trabalho, seja para a sua Organização mas também para outras que se juntem ao programa.
Mas como em muito na nossa vida, penso que é fundamental podermos crescer e desenvolver novas e melhores formas de fazer as coisas. É como se estivéssemos a falar do próprio desenvolvimento que o cérebro vai tendo ao longo da vida. E que em muitos momentos se observa aquilo a que se chama de neuroplasticidade. Ou seja, a capacidade do cérebro poder aprender e modular novas formas de fazer as coisas.
E como tal, penso que as Organizações também podem continuar a aprender e a mudar as suas formas de funcionar. Assim como todos nós na Sociedade. E aquilo que penso que será importante alcançar é a possibilidade de qualquer pessoa neurodiversa poder fazer o seu processo de candidatura junto das Organizações. Isto sem que seja necessário a pessoa se inscrever em algum programa que promova a neurodiversidade. Até porque as pessoas têm o direito ao seu anonimato e confidencialidade, sem que necessariamente a Organização ou os colegas tenham conhecimento daquilo que é o diagnóstico da pessoa. E se esta o quiser partilhar, então que seja esta a poder escolher fazê-lo.
Não estou a deixar de parte a grande heterogeneidade que temos dentro da neurodiversidade. Seja nos diferentes diagnósticos mas também nas diferentes necessidades que cada um deles requer. Por exemplo, no caso da Perturbação do Espectro do Autismo, haverá certamente diferenças se estivermos a falar de uma pessoa no nível 1 ou nível 2. Mas também é verdade que duas pessoas autistas dentro do mesmo nível 1 ou 2 poderão igualmente ser diferentes na sua expressão e necessidades. Contudo, se desde sempre trabalharmos esta mesma autonomia e independência nas escolhas a fazer ao longo da vida, então teremos a possibilidade das pessoas neurodiversas poderem chegar a esta etapa e fazerem o envio da sua candidatura para uma qualquer Organização que sintam que faz sentido para si.
Por exemplo, ainda que não sendo aquilo que escrevi anteriormente, o seguinte link mostra como uma simples página web pode connectar facilmente as pessoas neurodiversas com as Organizações - Neurodiversity Career Connector (simplifyhire.com).
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