É comum ouvirmos essa referência associada aos anos 60, descrito como uma altura de maior abertura e tolerância às experiências. Mas nem tudo era tão melódico como a música que surgia na altura. São cada vez mais as pessoas que agora com idades entre os 50 e 60 anos procuram compreender as suas características presentes ao longo da vida. E nem tudo é Rock & Roll.
Homens e mulheres nascidas por volta de 1960's descrevem várias situações dramáticas que foram vivendo ao longo da vida. No caso das mulheres que neste período viviam ainda mais restringidas e relegadas a um papel social menos proactivo e participativo social e familiarmente a situação ainda foi sentida como mais angustiante. Alguns destes homens e mulheres relatam situações em que os pais ou um deles deveriam ter alguma condição psiquiátrica e que na altura não só eram menos conhecidas e faladas mas também porque havia uma menor predisposição das pessoas para procurarem ajuda. Os grupos familiares ainda eram grandes e as famílias tinham dois, três, quatro ou mais filhos. As raparigas sempre sentiram maiores dificuldades em conseguir fazer valer o seu papel na fratria, principalmente se eram a única rapariga ou a mais nova do grupo.
Algumas destas pessoas acrescentam que os seus pais e até alguns dos seus irmãos ou outros familiares mais próximos também deveriam ter um diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo (PEA) ou pelo menos algumas das características. Ou Perturbação de Personalidade Borderline, mais frequentemente no caso das mães. O certo é que o seu percurso ao longo destes 50 ou 60 anos foi pautado de grande dificuldade. Receberam o diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo após um grupo bastante variado de outros diagnósticos. No caso dos homens, Esquizofrenia, Psicose, Perturbação de Ansiedade Social, Perturbação Obsessivo-Compulsiva, Perturbação da Personalidade Esquizóide, e a lista não pára. No caso das mulheres, para além de algumas das anteriores perturbações referidas, a Perturbação Bipolar, Perturbação de Personalidade Borderline, Perturbação do Humor, etc., são alguns dos exemplos mais característicos.
No percurso escolar sentiram que tiveram de fazer um percurso ainda mais isolado do que o habitual para as pessoas com diagnóstico de PEA. E numa boa parte das vezes sem os apoios necessários. A incompreensão por parte dos professores ou dos pais sempre foi grande. No caso das raparigas acabavam por se relegar mais frequentemente ao silêncio. Até porque socialmente é um resultado esperado, o serem recatadas. No caso dos rapazes o facto de serem mais agressivos também acabava por ser muito enquadrado nas mesmas explicações e normas sociais. E algumas delas ainda hoje continuam a vigorar.
Aqueles que tinham um perfil cognitivo suficiente para continuar a fazer o seu percurso escolar foram insistindo mais nesta via por sentirem que seria a forma de conseguir sair das dificuldades que vinham sentido ao longo dos anos. Outros tiveram menos sorte como vulgarmente costuma ser dito. Sem os devidos apoios todo um conjunto de oportunidades e de grandes rasgos de criatividade foram sendo perdidos no tempo. E o sofrimento psicológico acumulando ao isolamento.
É verdade que em 1960 ainda havia muito desconhecimento em relação e em comparação ao que hoje se sabe sobre as Perturbações do Espectro do Autismo. Mas ainda hoje se continua a verificar muitas destas situações e as justificações anteriormente usadas parecem deixar de fazer sentido. São algumas avozinhas e avozinhos, para além de outros adultos que ainda não o sendo mas que continuam sem saber o seu diagnóstico. E se pararmos para os ouvir, tal como paramos para ouvir a nossa música favorita, não temos nenhuma dificuldade em a conseguir identificar. E em relação às características e diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo também não.
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