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Nem o pai sabe, nem nós o percebemos!

"Mãe, posso ir brincar?". "Vai perguntar ao teu pai!". "O pai zangou-se comigo porque o distrai de uma coisa importante!". Quantas situações destas já não ocorreram em casa de muitas famílias sem que se percebesse a verdadeira razão? O João (nome fictício) não percebe o pai. A mãe do João não compreende o seu marido. O Zé Carlos (nome fictício) também não se percebe, mas tem um diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo (PEA).

Imagine que o se seu pai insiste em ir ter consigo ao portão da escola e levá-lo para casa todos os dias, mesmo que você já seja um aluno do 2º ou 3º ciclo! Agora suponha que ele perde alguma coisa de cada vez que o seu telefone tocar ou fica indignado se alguém mover alguma coisa lá em casa apenas alguns centímetros? Além de tudo isso, ele pode ser pedante, distante e extremamente controlador e a sua maneira de fazer algo é o único caminho. É comum ouvirmos falar das dificuldades encontradas nos pais que procuram lidar com os seus filhos com um diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo (PEA). Mas é menos comum ouvirmos falar da dificuldade que os filhos sentem quando têm um pai com Perturbação do Espectro do Autismo! E ainda mais quando o pai não sabe que tem o diagnóstico em questão.


Na PEA é comum observarmos que na família há mais de um membro que apresenta um diagnóstico igual ou outro diagnóstico psiquiátrico, ou então apresenta algumas características apenas. Quando estamos a fazer uma avaliação ao filho/a para despiste de PEA é frequente verificarmos que os pais ou um dos pais tem características semelhantes. Afinal de contas a partilha de informação genética é grande. Há situações em que os pais também sinalizam alguma preocupação em relação a si ou então o próprio técnico faz referência a essa questão. Mas nem sempre isso acontece e aquilo que pode acontecer é que aquela família vai continuar a viver sem compreender porque é que o pai/mãe faz, diz ou pensa determinadas coisas ou de determinada maneira.


Na situação das mulheres é cada vez mais aceite que muitas delas passam sem ser diagnosticadas. Muito possivelmente por causa da diferente apresentação das suas características comportamentais, diferentes atitudes e as próprias expectativas culturais - a sociedade continua a aprovar meninas que são caladas e introvertidas, por exemplo, enquanto os meninos devem ser mais barulhentos e extrovertidos .


Se pensarmos naquilo que poderá caracterizar uma pessoa com PEA, seja na sua maior dificuldades na interacção e comunicação social, nomeadamente com a família. A existência de um padrão comportamental mais rígido e com um conjunto de rituais mais marcados e que acabam por caracterizar um perfil mais controlar e intransigente. Ou então um conjunto de hipersensibilidades sensoriais que num mundo cada vez mais com estímulos deixa adivinhar a dificuldade numa vida partilhada - sons, ruídos, luzes, confusão, etc. Podemos então pensar naquilo que será o impacto que estas mesmas questões poderão ter numa criança ou adolescente com um desenvolvimento típico e que convive com o seu pai durante um período grande da sua vida. E mais ainda se pensarmos que essa criança ou adolescente é ela também alguém com diagnóstico de PEA, a situação adensa-se ainda mais.


Por todas as razões é fundamental o acesso ao diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo (PEA) independentemente da idade que estejamos a falar. Enquanto técnicos podemos pensar que os pais ainda não se encontram preparados para receber essa noticia. Também porque na altura em questão vieram procurar ajuda para o seu filho/a. Contudo, penso que não nos devemos substituir aos próprios, nomeadamente na transmissão de uma informação tão importante - para eles próprios mas também para a sua família. Será então fundamental pensarmos em como podemos devolver esta informação nestas situações e poder fornecer acompanhamento e orientação para os pais. O casal vai precisar de ajuda a partir daquele momento tal como já antes o necessitava. E a relação de pais-filhos também, seja pela perspectiva dos pais com PEA mas também dos filhos em o compreenderem.

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