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Mulheres crónicas

O destino de uma mulher é ser mulher.

Clarice Lispector


Mulheres crónicas é claramente um neologismo. Mas é algo que garantidamente tem muito que se lhe diga. Conhecemos muitas mulheres e ao longo de toda a nossa vida. Algumas delas podemos dizer que são crónicas na nossa vida. Crónicas no sentido de crónico, daquilo que dura há muito tempo. Assim como também sabemos de algumas crónicas. Conhecemos mulheres com doenças crónicas. Mas também as mulheres das crónicas. Ou as crónicas das mulheres com doença crónica. Confuso? Compreendo que sim. Poético até? Não consigo fazer diferente quando escrevo sobre a mulher. Posso dizer que é algo crónico em mim.


Poesia à parte, pensei em escrever sobre algo que nem sempre é falado por muitos de nós no autismo. Facto que também poderia ser considerado crónico - haver muita coisa que não se fala no autismo! Esta condição também ela é crónica. Acompanha a pessoa ao longo do seu ciclo de vida, sendo possível de ser diagnosticada precocemente na pessoa a partir dos dois anos de idade sensivelmente.


No autismo também é crónico não se falar do feminino. Apesar de crónico, vão havendo cada vez mais barreiras que vão sendo derrubadas, nomeadamente por muitas crónicas escritas por mulheres autistas. Poético no mínimo.


No autismo também é crónico não se falar desta condição na idade adulta e consideravelmente mais ainda nas pessoas sénior. E se cruzarmos isto com a mulher adulta ou sénior, a escassez é ainda maior. E se há coisa que também é crónica na mulher e ainda mais nesta etapa da vida são o aparecimento de doenças crónicas. E nem sempre estas têm um eco devido e por várias razões.


O certo é que os adultos autistas, especialmente as mulheres, são mais propensas a ter uma doença crónica do que a população em geral. As síndromes de sensibilidade central são um grupo de condições conexas que se pensa incluir uma sensibilização subjacente do sistema nervoso central. Sendo que a sensibilidade sensorial aumentada é uma característica comum.


E quando falamos destas síndromes estamos a referir a encefalomielite miálgica/síndrome de fadiga crónica, fibromialgia, enxaqueca, síndrome do intestino irritável ou síndrome das pernas inquietas, mas também de perturbação da articulação temporomandibular.


Uma característica central comum ao autismo e a estas síndromes é a sensibilidade sensorial. Embora a investigação sensorial no autismo tenha sido mais focada na experiência alterada e na sensibilidade sensorial elevada em todas as modalidades, a investigação nestas síndromes tem sido mais centrada nos aspectos da dor.


Para além do número crescente de diagnósticos de Perturbação do Espectro do Autismo na população adulta. Há que verificar um número crescente de adolescentes com esta condição que todos os anos vão atingindo a maioridade. E como tal, verificamos que há um número igualmente grande de pessoas autistas adultas que usam os cuidados de saúde primários. Atendendo a que na população em geral, os sintomas somáticos representam a causa mais comum de consultas médicas em regime de ambulatório, bem como a razão predominante por que pessoas com condições psiquiátricas recorrem aos cuidados de saúde primário. No que diz respeito à comunidade autista, e com as notáveis exepções dos sintomas gastrointestinais e distúrbios do sono, os restantes sintomas somáticos nesta população são pouco estudados.


Será necessário compreender que para além dos aspectos mais directamente relacionados com o diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo. É fundamental olhar para todo um conjunto normal de necessidades das pessoas autistas e que se prendem directa ou indirectamente com a qualidade de vida. Até porque a ansiedade e as questões sensoriais, frequentemente encontradas nas pessoas autistas, funcionam como mediadoras destas síndromes de sensibilidade central.


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