Se Maomé não vai à montanha, certo? Se olharmos para os múltiplos relatórios referentes às pessoas com uma perturbação psiquiátrica ou pessoas portadoras de deficiência, ficamos a pensar - Mas onde é que estas pessoas andam? Por exemplo, no caso das pessoas com Perturbação do Espectro do Autismo, é muito frequente perguntarem onde estão os adultos autistas! E o mesmo acontece para tantas outras condições. Mesmo quando vamos às escolas não é frequente vermos crianças com determinadas condições. Claro que me estou a referir às que são possíveis de perceber a partir da nossa observação. Até porque muitas outras nem sequer se sabe olhando para as pessoas. Precisamos de conversar com elas e se formos merecedores da sua confiança elas logo nos dirão. Mas isto tudo para quê perguntam vocês? Por causa dos estigma que todas estas pessoas continuam a sofrer no seu quotidiano e o impacto que isso tem nas suas vidas, no agravamento da sua condição e do aumento do seu sofrimento. Ao longo destes anos as campanhas têm-se desdobrado, umas melhores do que outras. Deixamos de ter as campanhas em que os profissionais apareciam para que fossem as pessoas com estas condições a darem a cara. Têm sido feitas feiras de artesanato ou abertos espaços culturais em que as pessoas com estas condições expõem o seu trabalho, procurando mostrar, entre outras coisas, que somos todos iguais - pessoas, cidadãos. Mas parece não chegar. Parece sempre faltar algo. Até porque o estigma continua a existir e em valores significativos. Por exemplo, se olharmos para a integração socio profissional as pessoas com perturbação psiquiátrica ou portadoras de deficiência, percebemos rapidamente isso. Sejam as pessoas responsáveis nas empresas, mas também as empresas de recrutamento, os próprios colaboradores e a sociedade de uma maneira geral, continuam a olhar com suspeição para a participação da pessoa com uma perturbação psiquiátrica ou portadoras de deficiência na Sociedade. Por isso, parece fundamental fazer com que estas pessoas possam estar mais e mais presentes em todos os espaços. Sejam nas escolas, festas de aniversários dos colegas, recintos envolventes, parques infantis, shoppings, ruas, nos concertos, cinemas, lojas, atrás de um balcão a trabalhar, num guichet de atendimento ao público, numa mesa de reuniões, no Parlamento, nos tribunais como advogado ou juiz e não como réu ou testemunha. É fundamental que as pessoas com uma perturbação psiquiátrica ou portadoras de deficiência possam estar presentes em todo o tecido social para que todos nós possamos confrontar as nossas crenças e estereótipos. E começarmos a dizer a nós próprios que não faz sentido não convidar o colega do nosso filho que tem Trissomia 21. Ou quando estivermos no parque infantil a brincar não dizermos à nossa filha para não ir brincar com a outra menina que está a fazer flapping com os braços porque a pode magoar. Mas também não ficarmos em pé num transporte público porque temos receio de nos sentar ao lado de uma pessoa que pode aparentar estar mais ansioso. Pensar que a pessoa não está capaz de passar a entrevista e emprego porque não conseguiu estabelecer contacto ocular de uma forma normativa. Não meter conversa com uma pessoa numa festa porque esta parece estar demasiado calada. Quando nos podermos confrontar no nosso quotidiano com toda uma diversidade de pessoas e passarmos a partilhar a nossa vida, seja em que domínio for com essas pessoas todas, estaremos capaz de sentir que não faz sentido escrever nada disto.
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