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Metade de mim

Nunca sei se o copo está meio cheio ou meio vazio! Mas também nunca foi por isso que deixei de beber água. Quando falamos dos Autistas adultos também parece que estamos nesse ponto - meio cheio ou meio vazio! Mas também não é por isso que eles/as deixam de necessitar de ajuda.

A Perturbação do Espectro do Autismo (PEA) apresenta uma enorme variedade na apresentação das características comportamentais que a compõem: interacção e comunicação social, comportamentos repetitivos e estereotipados, interesses restritos, interesses sensoriais, hiper ou hipossensibilidades, etc.


Se conheceu uma pessoa com Autismo, conheceu uma pessoa com Autismo. Quando se ouve dizer - "cada pessoa é uma pessoa!" é para entender de forma literal. E no Autismo também. Há uma grande variabilidade e heterogeneidade na expressão das características do Espectro do Autismo mas também há uma grande variação na apresentação das características do Espectro do Autismo numa mesma pessoa ao longo do desenvolvimento. Um adulto autista não tem de apresentar, e normalmente não apresenta, características iguais a quando foi adolescente ou criança. O que faz com que a dificuldade em compreender o Autismo possa ser ainda mais difícil.


Não é por acaso que alguns pais ou até mesmo alguns adultos perguntem - "Mas afinal o que é que ele/a tem? Mas afinal ele/a consegue ou não mudar? Vai conseguir ficar melhor ou fazer coisas tal como o irmão/irmã?" Os pais de hoje estão muito mais capacitados e alerta para a informação existente relativamente ao Autismo (e não só). Mas também têm um acesso mais facilitada à mesma. E como tal por vezes colocam a seguinte questão - "Ainda esta semana li que é possível fazer o diagnóstico em autistas adultos. Mas depois também li que ainda continua a haver imensos adultos sem conseguir obter um diagnóstico claro ou então que demora bastante tempo. Afinal, qual é a verdade?". Alguns adultos perguntam - "Ainda a semana passada comecei a ver a série do Good Doctor mas depois também li que cerca de 80% dos Autistas adultos não conseguem ou têm dificuldade em se manter no mercado de trabalho. Eu próprio tenho dificuldade em aguentar um trabalho mais de 2 meses seguidos. Afinal qual é a verdade?" Estas e outras questões assolam pais, jovens e adultos, mas também alguns profissionais de saúde.


Não é estranho podermos ler em artigos científicos ou de opinião que existem projectos para a empregabilidade de autistas que mencionam o quanto satisfeito os empregadores estão face à prestação dos próprios colaboradores (autistas). Mas também é verdade poder ler em artigos científicos ou de opinião que um número significativo de autistas apresentam uma percentagem significativa de tentativa de suicídio. Ou que acumulam um conjunto de ouras perturbações psiquiátricas para além da PEA. E que travam um conjunto muito grande de dificuldades ao longo da vida. Mas afinal o que é verdade? Mas afinal o copo está meio cheio ou meio vazio.


O Autismo que aparece na televisão não é real. Mas também não o são muitas das descrições que lemos por ai. A verdade é que não sabemos praticamente nada dos Autistas adultos ou na vida adulta. Aquilo que sabemos é o que se passa apenas com um pequeno grupo de autistas adultos e que começaram a dar um testemunho da sua própria experiência. Isso é o que me parece ser para já a verdade. Ou pelo menos parte da verdade e que me leva a querer conhecer um pouco mais e mais a outra metade. Ou seja, que me leva a querer beber o copo de água.


Claro que é verdade que haverá um número significativo de autistas adultos que não apresentam competências e capacidade para cuidarem de si próprios e necessitem de recorrer a uma institucionalização. Mas também é verdade que alguns professores universitários e outros profissionais de renome também foram diagnosticados com autismo. Ambas as situações são reais dentro das diferentes possibilidades. E ambas as situações espelham aquilo que é o Espectro do Autismo.


Apesar de se falar de Aspergers famosos nem todos acabam por o ser. Mas também temos inúmeros autistas adultos que funcionam muito bem em programas de empregabilidade adaptados para o seu perfil de funcionamento.


A ciência diz-nos que a PEA é uma condição que se desenvolve ao longo do ciclo de vida da pessoa. Que os sinais de alerta tendem a aparecer cedo no desenvolvimento e que a maioria das crianças são diagnosticadas em idade escolar (1º - 2º ciclo). Muito se tem feito e continua a fazer para o conhecimento do Autismo nestes últimos 20 anos. Cada vez mais precocemente as crianças são diagnosticadas na 1ª infância. Mas ainda se continua a saber muito pouco sobre os autistas adultos. É caso para dizer - Ai que sede que eu tenho!"

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