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MasterSomething

Hoje em dia não deve haver ninguém que não tenha pelo menos espreitado um episódio do Masterchef, não obstante o país em que este é filmado. Bem sei que há preferências mais por este do que aquele, mas não é isso que nos vai interessar agora.


No meu relógio marca 13h37 minutos. Para muitos de nós significa que já almoçaram ou ainda o vão fazer. Sendo que não queremos deixar ninguém de fora e também incluímos aqueles que possam estar a fazer jejum intermitente. Mas também todos os outros que pelas mais variadíssimas razões poderão sentir as refeições como um desafio.


Muitos de vocês já anteciparam que irei falar das pessoas autistas. E é bem verdade, até porque a heterogeneidade existente nas pessoas autistas, assim como a variabilidade de expressões, comorbilidades, aspectos sensoriais, selectividade e restrição alimentar, entre tantas outras questões, são tão grandes que praticamente não há assunto em que as pessoas autistas não estejam envolvidas.


E a alimentação é uma delas, seja no comer, mas também no preparar. E no caso de estarmos a falar de pessoas autistas adultas, precisamos de ver que caso estas não consigam, pelas mais variadas razões, preparar de forma autónoma as suas refeições, teremos certamente alguns problemas adicionais. E não, não pensem que o sair à rua e escolher alguma coisa para comer pré feita ou pré cozinhada é uma tarefa fácil, pois não o é.

Contudo, comer e cozinhar não trata apenas do comportamento de fazer comida ou de ter apetite. É e sempre foi algo mais do que isso.


Saber como se ajudar a si próprio pode ser útil. Desde o momento do diagnóstico, parece haver uma ideia estranha sobre como lidar com o facto de reconhecer que alguém está no no espectro autista. Conhecer-se a si próprio, os seus pontos fortes e os desafios que enfrenta

tem uma enorme variedade de benefícios. Compreender-se a si próprio - o que considera difícil ou fácil, as suas texturas preferidas, o seu perfil sensorial, possíveis factores de angústia - pode ter um impacto extremamente positivo, uma vez que a pessoa pode começar a ajudar-se quando se trata de adaptar a cozinha e a tornar os alimentos acessíveis.


Um outro aspecto é o facto da pessoa autista pensar ou dizer que não sabe cozinhar. E se pensarmos bem já há muitas coisas que a pessoa autista sente e pensa que não sabe fazer. Logo não precisa de mais esta. Como tal, é importante validar junto da pessoa que não se trata de não saber, anda que tal possa ser uma realidade. E para além disso é possível colaborar com a pessoa no sentido desta desenvolver esta competência.


Na cozinha como em muitas outras coisas na vida parece haver uma ideia de termos de fazer as coisas para a aprovação do Outro. O facto de essa questão poder ser percepcionada ou sentida pela pessoa autista é muito provável que a possa fazer afastar dessa aproximação. Como tal, é fundamental ajudar a pessoa autista a cozinhar para ela e não para o Outro. Contudo, precisamos de pensar que a pessoa autista adulta pode viver em comunhão com a sua família nuclear de origem, mas também aquela que veio a escolher para constituir. E no caso de haver crianças envolvidas é sempre um desafio ter de cozinhar para estas e obter a sua aprovação, sejam elas também do espectro autista ou não.


As escolas, locais de trabalho entre outros contextos têm muitas das suas regras e acomodações preparadas para pessoas neurotipicas e não pessoas autistas. E as cozinhas não é uma excepção. Como tal, parece fundamental ajudar a pessoa autista a criar um contexto de cozinha adaptado à sua pessoa e às suas características e necessidades.


Posto isto, bom apetite! Não esperem receitas autismo friendly. Numero 1, não sou uma pessoa autista. Número 2, não sou assim um tão grande cozinheiro. Mas haveremos de voltar a escrever sobre isto! Até lá pratiquem também ou coloquem questões!


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