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Love is the answer

Dizem-me frequentemente que não sou empático, diz o António (nome fictício). Tenho lido frequentemente em artigos, nomeadamente científicos, que as pessoas no Espectro do Autismo não são empáticas, diz a Joana (nome fictício). Não compreendo, dizem ambos. Por várias vezes fui procurar ler a definição de empatia para perceber se estaria a fazer uma compreensão errada, mas não estava, acrescenta a Joana. Já li que poderia ser a capacidade de compreender e compartilhar os sentimentos de outra pessoa, diz António. Mas eu compreendo os sentimentos das outras pessoas, pelo menos alguns deles. Agora não, mas antes ficava confuso e cheguei mesmo em certa altura a duvidar se seria autista ou não. Esta sempre a ler e a ouvir dizer que as pessoas no Espectro do Autismo não são capazes de ser empáticas, desabafa António. São vários os sinónimos que encontrei em relação ao conceito de empatia, diz Joana. Seja afinidade com, relacionamento com, simpatia com, compreensão de, sensibilidade para, identificação com, consciência de, companheirismo com, sentimento de companheirismo para, afinidade, união, proximidade com. São várias as possibilidades. Algumas sinto-me mais capaz do que outras. E além disso depende dos dias, dos momentos e talvez principalmente das pessoas com quem tenho de interagir. Principalmente as pessoas com quem tenho de interagir, remata Joana. Quer o António, mas também a Joana, apesar de terem ambos um diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo, têm percursos diferentes. É compreensível, são pessoas diferentes, não obstante o seu mesmo diagnóstico. O António nem por isso, mas a Joana tem tido um percurso de vida mais traumático. Desde muito cedo que a Joana têm vivido momentos particularmente desafiantes. A sua mãe tinha um quadro de alcoolismo e frequentemente tinha comportamentos de maior agressividade para consigo. Além de várias situações de negligência que acabou por passar. O seu pai não estava presente o suficiente e por isso a Joana sentiu que teve de aprender tudo por si. E fê-lo, não obstante as suas características do Espectro do Autismo. Talvez algumas delas tenha sido protectoras em relação a determinados momentos e experiências vividas, refere. Nem tudo é mau nestas e noutras condições, acrescenta. A forma de compreender as coisas e as pessoas. A capacidade de estar mais desligada de determinados acontecimentos, levou-me a conseguir ultrapassar alguns deles com alguma mestria, conclui. Tenho aprendido muitos com todos os meus clientes no Espectro do Autismo, e tal como eles, quando leio ou oiço dizer que as pessoas no Espectro do Autismo não têm ou demonstram empatia, sinto com frequência uma certa frustração, porventura partilhada com todos eles. As características presentes no Espectro do Autismo em relação ao processamento da informação, seja em relação ao Self, ao Outro, o Mundo e à relação entre todos, além de todo um conjunto de experiências traumáticas vividas em muitos deles desde muito cedo no desenvolvimento. Leva a que muitas pessoas no Espectro do Autismo venha a desenvolver uma situação de Stress Pós Traumática. E que em algumas situações possa mesmo configurar uma Perturbação de Stress Pós Traumático, tal como definida da DSM. E em muitas destas situações, aquilo que observo é que estas pessoas desenvolvem uma noção do Mundo e principalmente das relações com as pessoas como algo ameaçador e de preferência a evitar. Como tal, é compreensível que possamos observar em alguns deles este aparente comportamento de evitamento das situações de interacção social, maior isolamento, e porventura de ausência de empatia. No entanto, estas e outras situações necessitam de ser enquadradas, sob pena de não estarmos a compreender as pessoas e as suas experiências de vida. E certamente não estarmos a ajuda-las a igualmente se compreenderem.


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