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Foto do escritorpedrorodrigues

"Just tea for two and two for tea, Just me for you and you for me"!

Somos únicos, singulares. Mas também sentimos que somos parte de algo maior. Algo que reconhecemos e somos reconhecidos, a que pertencemos. Somos importantes sem dúvida. Mas o outro também o é. Aceita um chá enquanto lê?

O sentimento de pertença refere-se ao grau em que as pessoas se sentem incluídas, aceites e apoiadas por outros numa variedade de configurações sociais. Foi definido como o grau em que a pessoa se sente aceite, incluída, respeitada, apoiada, e socialmente conectada com os outros.


Através de uma variedade de transições de vida, começando na infância e continuando na adolescência e idade adulta (por exemplo, transições na escola, para um novo escola, idade adulta, trabalho ou desemprego), as pessoas experimentam graus variados deste sentimento de pertença em muitos contextos sociais diferentes.


É frequente que num qualquer destes processos de transição exista a ocorrência de um ou mais problemas ou até mesmo a existência de uma condição de saúde física e/ou psicológica indevidamente acompanhada e que possa causar perturbação na etapa seguinte. Caso isso se verifique a sensação de isolamento social, frustração, incapacidade é maior e o nível de sofrimento psicológico também. Levando a que se instale um ciclo ameaçando as etapas subsequentes pondo em risco o próprio desenvolvimento ao longo do ciclo de vida. Se atendermos ao número de transições que existe ao longo da infância e adolescência até à entrada na vida adulta é compreensível o conjunto de riscos existentes e a necessidade de prevenir a ocorrência destes problemas cuidando do sentimento de pertença da pessoa ao grupo.


Há alguns estudos que têm procurado compreender a importância que algumas alterações no contexto e acomodações na própria legislação afecta o sentimento de pertença em contexto educativos. Contudo estes estudos têm sido realizados com população normativa e deixado de fora as pessoas com necessidades inclusivas, nomeadamente com Perturbação do Espectro do Autismo (PEA). E o mesmo se passa ao longo de outros processos importantes de transição no autismo. Por exemplo, na passagem para o Ensino Superior, integração no mercado de trabalho, vida independente, etc. É fundamental procurar a narrativa de quem vive os processos e as próprias experiências para construirmos uma melhor representação dos conceitos que procuramos compreender e intervir para melhorar a qualidade de vida das pessoas.


Ao longo dos diferentes processos de transição no decorrer da nossa vida um factor que facilita o processo de transição é a nossa capacidade de nos adaptarmos. Sermos mais flexíveis e podermos mudar alguns dos nossos comportamentos com o objectivo de sermos aceites. Neste processo de flexibilização há um sentimento de diluição e que por vezes pode ser sentido como mais desorganizados até da própria identidade. Mas que o próprio grupo e o sentimento de pertença ao mesmo acaba por nos devolver. No autismo, algumas das suas características, nomeadamente de uma maior rigidez e inflexibilidade comportamental e cognitiva leva a que este processo possa estar mais comprometido.


Para além de algumas acomodações no contexto para que o aluno autista se sinta capaz de realizar as suas tarefas e alcançar os seus objectivos. Há um conjunto de outras questões igualmente envolvidas e importantes. Nomeadamente, as questões respeitantes à identidade autista. A pessoa poder dizer livremente quem é que qual a sua condição sem que com isso se sinta ameaçada. Ms ainda continuam a ser vários os episódios nestes processos de transição que mancham esta passagem. A própria integração do aluno autista no DL 54/2018 pode ser vivido de forma mais conturbada quando o próprio sente que a escola e/ou o professor parece não estar a fazer o melhor na aplicação do diploma legal. Ou então parece não estar a comunicar de forma eficaz com o aluno acerca de como está a ser feito este processo. O próprio também se pode sentir ameaçada pela maneira como os próprios colegas vão reagir quando souberem da situação. E alguns sentem dos pais alguma ambivalência e receio deste processo. São várias as situações que podem levar a uma lista infindável de dificuldades sentidas e causadoras de sofrimento e isolamento social e por conseguinte a uma falha no sentimento de pertença.


Em relação ao facto de se dizer que se é autista é sentido como algo ameaçador. O que é que os outros vão pensar? Eu já ouvi os meus colegas e /ou professores a falarem do autismo e não gostei da maneira como o fizeram! Eles pensam que os autistas são todos incapazes! Ou que são todos uns génios! E que não querem relacionar-se com as pessoas e são anti-sociais! Estas e outras frases já foram ouvidas e continuam a ser repetidas. Sejam nas pessoas que as dizem ou nos autistas que as continuam a ouvir de forma repetida no quotidiano ou nas suas memórias como uma vivência traumática e causadora de ansiedade.


Atendendo a que o autismo é uma condição que acompanha a pessoa ao longo do ciclo de vida e que é possível de diagnosticar cedo no desenvolvimento podemos antecipar o conjunto de situações negativas e traumáticas existentes ao longo deste processo. É fundamental poder ajudar a construir uma variedade de experiências sentidas como positivas e integradoras que dêem à pessoa este sentimento de pertença. O próprio trabalho feito com os pares é fundamental. Não apenas para que possa haver uma aprendizagem conjunta neste processo de ajuda. Mas também para ajudar a desconstruir um conjunto de crenças e mitos errados acerca do autismo. Este trabalho de colaboração pode ser desmultiplicado ao longo da vida, seja na escola, no trabalho ou na comunidade.


Um espaço que respeite, seja na própria arquitectura, com a existência de rampas, estações elevatórias, sinaléticas informativas, diminuição do ruído ambiental, espaços adaptados, etc. Passando pelo respeito da diversidade, da diversidade de todos nós e não somente dos autistas. A diferença pode assustar. O desconhecimento pode levar ao afastamento. A possibilidade de pormos as pessoas em colaboração leva a desconstruir essas barreiras e a construir outras pontes.

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