Talento com diversidade de neurónios entra na Critical Software, lia-se ontem no site do Dinheiro Vivo. Estamos a falar do projecto de recrutamento inclusivo da empresa de TI Critical Software desenvolveu em parceira com a ONG Specialisterne. Durante um período de quatro a cinco semanas, um grupos de jovens adultos com um diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo participaram numa formação constituída por vários módulos. E deste grupo houveram alguns que passaram esta semana para uma fase de inclusão na empresa com um contrato de trabalho.
No primeiro trimestre deste ano saiam algumas noticias sobre a intenção de uma empresa Portuguesa vir a formar e a contratar pessoas autistas para os seus quadros da empresa. Por exemplo, Critical Software quer formar e dar emprego em tecnologias de informação a pessoas com autismo no jornal Público.
Foram várias as candidaturas para um projecto inovador em Portugal, mas não em outros países onde a Speciaisterne tem vindo a desenvolver parceiras com outras empresas mas sempre com este objectivo - formar e integrar as pessoas autistas no mercado de trabalho.
Mas para muitas pessoas autistas e para as suas respectivas famílias isto tudo parece um túnel muito longo e na maior parte das vezes sem luz ao fundo, um pouco tal como na fotografia que acompanha o texto. Na Europa pensa-se existirem cerca de cinco milhões de pessoas autistas. E destes, sabemos que cerca de 80% das pessoas jovens adultos e adultos não estão a trabalhar. E não é porque estas pessoas não tenham competências e/ou formação ou capacidade de aprender. Porque o têm. Quatro milhões destas pessoas não vão conseguir entrar no mercado de trabalho e ser autónomos e independentes. E não porque não o desejem ou consigam. Porque desejam-no e conseguem. Até porque foram trabalhando com vários profissionais de saúde ao longo dos anos para ultrapassar diversas das suas dificuldades. Além de terem as suas próprias competências para irem aprendendo com as experiências significativas e outras que foram tendo.
Quatro milhões de pessoas autistas não vão conseguir entrar no mercado de trabalho. E como tal a sua autonomia e independência vai ficar grandemente ameaçada. E por isso, mas também porque é preciso respeitar a dignidade das pessoas, além de cumprir todo um conjunto de leis nacionais e internacionais, directivas comunitárias, convenções de direitos humanos. Precisamos de uma outra ética e um ser e fazer humanista no lidar com as pessoas autistas.
E por tudo isto é Critico. É Critico mudar! E tal como o nome da empresa anteriormente referida neste processo, a Critical Software, se traduzirmos obtemos o conceito de software critico. E se pensarmos, os Sistemas Computacionais Críticos, são uma classe de sistemas que tem vindo a assumir uma representação cada vez maior no tecido empresarial, nacional e europeu, dada a sua importância e aplicabilidade em diversos domínios, como a aviação, automativo, dispositivos médicos, banca, etc. Estes sistemas possuem e mantêm um elevado grau de confiabilidade, maior disponibilidade, facilidade de manutenção e elevados níveis de segurança. E o desenvolvimento destes sistemas levanta desafios de grande complexidade. Por isso, requerem conhecimentos específicos para identificar medidas de forma a garantir elevados níveis de segurança em áreas criticas onde estes sistemas operam.
Curiosamente, ao ler estas ideias que estão na base dos Sistemas Computacionais Críticos, levo-me a pensar nas pessoas autistas. Não no sentido das pessoas autistas serem todos eles capazes do ponto de vista tecnológico. Ou sequer serem pessoas que gostem das tecnologias, porque nem todos gostam. Mas o certo é que as pessoas autistas, enquanto neurodivergentes, são sem dúvida uma mais valia para as Organizações. Até porque apresentam todo um conjunto de características, e que ainda que criem desafios de grande complexidade e requerem conhecimento específicos para a sua integração. Ainda assim constituem uma mais valia para o tecido empresarial pela mais valias que o seu perfil neurodivergente pode trazer.
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