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It's a date

It's a date! Não é preciso esperar pela primavera para sentirmos as hormonas e o desejo de estarmos mais próximos e até de uma forma romântica com o Outro. Talvez possamos usar a máxima de que o Natal é quando a pessoa quiser e adaptar para a questão das relações românticas. E já agora, se o Natal é quando a pessoa quiser, as relações românticas também são para todos, desde que sejam desejadas enquanto tal e de forma adaptada e sentida pela própria pessoa. Isto para vos dizer que as pessoas autistas também desejam, sentem desejo, e sentem desejo do Outro, de estar com o Outro, seja de uma forma sexual, romântica, (a)romântica ou outra.


Tendo por base esta premissa de que as pessoas autistas procuram outros de uma forma romântica, vamos pensar que o farão de diversas formas possíveis. E uma delas é a partir de plataformas de encontros. E não é que as pessoas autistas não procurem de outras formas, porque também o fazem, nomeadamente presencialmente. Contudo, esta última forma (presencial) acaba por poder representar todo um conjunto de desafios para si e que pode levar a invalidar a continuidade do processo e do investimento pessoal e emocional da sua parte no mesmo, o que pode fazer com que a pessoa autista desista do processo.


Seja porque não sabe (ainda) como flirtar a outra pessoa ou porque tem maior dificuldade em conseguir fazer uma leitura adequada das respostas e reacções da outra pessoa e com isso saber se faz ou não sentido continuar a manifestar intenção de flirtar. São várias as questões que estão presentes nestas situações e que levam a criar uma situação mais activadora, nomeadamente de ansiedade e de incerteza. Sensações estas que são normais e expectáveis de serem sentidas numa situação destas por qualquer pessoa, mas que quando uma destas pessoas envolvida é uma pessoa autista, estas mesmas sensações podem ser interpretadas de uma forma diferente e mais ameaçadora e intensa.


Durante a última década, os encontros online tornaram-se o método mais popular para iniciar ligações românticas, oferecendo uma alternativa conveniente aos encontros tradicionais. Nas últimas três décadas, o namoro online surgiu como o que pode ser considerado uma forma promissora de namoro para pessoas autistas, ou com outras condições como por exemplo Ansiedade social. Após muitos anos de predominância dos sites tradicionais de encontros online, aplicações de encontros como o Tinder, Grindr, Match, OkCupid e Bumble tornaram-se cada vez mais populares na última década.


Embora a maioria das pessoas autistas demonstre desejo por relacionamentos românticos, eles frequentemente enfrentam desafios significativos para formar e manter essas conexões. Apesar de expressarem níveis de interesse sexual semelhantes aos dos seus pares neurotípicos, tiveram significativamente menos experiências sexuais, o que contribuiu para um maior isolamento social, redução das oportunidades de aprendizagem e diminuição da autoestima. Isto pode acontecer porque as pessoas autistas tendem a ter dificuldades na comunicação e interação social, dificultando a sua capacidade de se envolverem e de se ligarem a potenciais parceiros românticos. Para além disso, o autismo está frequentemente associado a uma ansiedade acrescida em situações sociais, bem como a padrões distintos de compreensão, expressão e regulação das emoções, o que pode influenciar o processo de início de relações românticas. Além disso, os traços de sensibilidade sensorial e uma preferência pela rotina podem afetar a experiência de formar e manter ligações românticas.


As plataformas online são um ambiente mais controlado para pessoas autistas, ao mesmo tempo que revelam desafios significativos na navegação pelas normas sociais, na garantia da segurança e na gestão da auto-apresentação. Ou seja, não é o simples facto dos primeiros contactos poderem ser realizados online e na segurança de um perfil construído para o efeito que a pessoa autista se sente ou pode estar mais segura. Todo um conjunto de incertezas sobre as intenções e as respostas dadas pela outra pessoa mantem-se presentes. Assim como a forma como estes haverão de responder às diferentes iniciativas.


Como tal, é imperativo continuar a trabalhar desde sempre com as pessoas autistas sobre os aspectos da sexualidade, das relações interpessoais, sociais e românticas com o Outro, mas também na relação consigo próprio, no seu auto-conhecimento. E este trabalho é fundamental que comece não somente após a maioridade ou quando há um desejo mais manifesto e incontornável da pessoa autista em relação ao assunto. É preciso pensar que a pessoa autista começa a despertar para as relações de uma forma muito semelhante aos seus pares neutotipicos, ainda que o possa manifestar de formas diferentes, até por vezes antagónicas. Trabalhar sobre estes aspectos não significa estar a estimular a pessoa para as relações. Até porque na grande maioria das vezes não representa nada disso. Significa criar um espaço e uma disponibilidade para se conhecer a si próprio e aos seus limites. Mas também para conhecer o Outro e iguais fronteiras. Significa conhecer os seus direitos e deveres, assim como os do Outro. A interpretar o seu corpo e a pensar os seus pensamentos, sem que estes se tornem necessariamente ameaçadores, angustiantes e ansiogénicos. E se porventura se tornarem, ajudar a pessoa autista a como lidar com eles de uma forma não catastrófica. Trabalhar estas questões é mostrar à pessoa autista que ela é uma pessoa de plenos direitos e como tal tem direito a gostar e a ser gostada, a respeitar e a ser respeitada. É ajudar a pessoa a descobrir vários dos seus contornos e fronteiras menos conhecidas. Até porque na pessoa autista se sabe que a expressão da identidade sexual e outras questões comportamentais podem assumir aspectos mais atípicos. E que estes são apenas um espectro do sentir e da expressão da sexualidade, e que isso não representa nada de errado ou estranho.


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