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Foto do escritorpedrorodrigues

It's a date

Nos últimos anos os encontros online realizados através de plataformas para o efeito têm crescido. E porventura, a situação pandémica vivida desde o final de 2019, levou a um aumento da sua utilização. Plataformas como o Tinder, Hinge, OKCupid e outras têm continuamente procurado ir ao encontro do perfil dos seus utilizadores, nomeadamente dos autistas adultos (e.g., Hiki). Sim, leu bem, as pessoas autistas adultas procuram relacionamentos românticos. Ainda que possam experimentar um conjunto variado de desafios para iniciar esta mesma relação romântica com sucesso. Sendo que na verdade, alguns destes desafios não são assim tão diferentes daqueles que outros não autistas sentem também. Um dos desafios habitualmente sentido junto da comunidade autista utilizadora destas plataformas, prende-se com a formação aparente de impressões menos favoráveis sobre a sua pessoa, realizadas pelas pessoas neurotipicas sobre o autismo. Nos encontros românticos, e também quando realizados através destas plataformas, as primeiras impressões são importantes, e no caso destas plataformas são realizadas a partir de um perfil construído pelo utilizador. E uma pergunta frequente na comunidade autista, colocado também aqui neste contexto, é o se devem ou não incluir o seu diagnóstico no perfil. Muitos, principalmente autistas mas também neurotipicos, pensarão - Nem pensar!! Assim é que não terei hipótese alguma!! E outros poderão pensar que é uma informação que não faz de todo sentido incluir e é um direito da pessoa em não fazer referência à mesma. Tal como algumas pessoas perguntam - Se tivesse diabetes, também colocaria no seu perfil? A reflexão sobre esta questão não termina aqui. Uma parte significativa das pessoas autistas sente que o ocultar do seu diagnóstico, associado a determinado conjunto de comportamentos de camuflagem social, lhe poderá ajudar a se enquadrar mais facilmente, também neste contexto e a evitar comportamentos negativos e discriminação por parte dos outros neurotipicos. Gostaria no entanto de lembrar que são cada vez mais os estudos que referem que o facto de se camuflar socialmente as suas características leva a um agravamento da sua situação clínica e sofrimento psicológico. E o facto da pessoa autista continuamente ocultar o seu diagnóstico também parece ser reflexo da falta de segurança que sente em o fazer, e isso também parece ser sintomático. E por conseguinte, essa ideia de não se conhecer adultos autistas levar a que as pessoas neurotipicas construam uma representação mental do que é o autismo diferente da realidade. Mas no caso das plataformas de encontros online, o que é que as pessoas neurotipicas sentem e pensam acerca dos adultos autistas? Frequentemente, muitos adultos autistas são classificados como sendo mais estranhos, menos atraentes, agradáveis ou desejáveis para a interacção social, quando avaliados por adultos neurotipicos. Contudo, parece que isto ocorre principalmente quando a outra pessoa não tem conhecimento do diagnóstico da pessoa e acaba por fazer uma atribuição mais frequentemente negativa de determinados comportamentos. E por conseguinte, quando os adultos autistas assumem no seu perfil o seu diagnóstico, as classificações obtidas parecem ser mais favoráveis. Ainda que isso ocorra principalmente associado ao facto dos adultos neurotipicos terem também um maior conhecimento sobre o autismo. Curiosamente, já foi realizada a experiência de pessoas neurotipicas colocarem no seu perfil a informação de serem autistas e isso levou a que tivessem sido avaliados positivamente pelos outros utilizadores. Não há uma resposta única. Até porque haverá certamente situações de pessoas autistas que já deram a informação da sua condição no perfil e experimentaram uma reacção negativa. Mas parece-me interessente pensar que o facto de haver uma maior abertura em falar sobre o seu diagnóstico possa ter um impacto positivo e que ajuda a desconstruir o estigma face ao autismo. Para além da reflexão a fazer - bons encontros.


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