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I'am an Englishman In New York

Ultimamente tem-se falado de uma epidemia Autista. É na televisão, revistas, blogs, etc. Cada vez mais se diagnosticam Autistas na idade adulta. Cada vez mais se sabe que há autistas na Sociedade. Até há cada vez mais Autistas a frequentarem congressos científicos vejam lá! Como diz o Sting - "Oh, I'm an alien, I'm a legal alien; I'm an Englishman in New York...".

São várias as pessoas nos mais variados locais e profissões que se têm perguntado sobre esta questão da epidemia Autista. Será que o número de Autistas tem estado a crescer? A resposta é clara - Não, não tem! Aquilo que se tem verificado é uma maior atenção de todos para esta temática. Os próprios cidadãos que se sentem incompreendidos ao longo destes anos apesar das múltiplas consultas e diagnósticos nas especialidades médicas e psicológicas passam a estar mais informados e conscientes. A própria comunidade médica e psicológica passa a estar mais tecnicamente informada acerca da expressão comportamental no Autismo e conhecedora dos próprios instrumentos de avaliação e como tal estão a verificar-se mais diagnósticos. Que até à data não tinha sido realizados apesar da evidência estar lá presente.


Ultimamente, na comunidade Autista são cada vez mais as pessoas que se têm perguntado acerca da própria participação mais proactiva dos Autistas na sociedade, seja cívica mas também científica. Ou seja, os próprios Autistas começam cada vez mais a sentirem necessidade de verem defendidos os seus direitos. Por exemplo, cada vez mais é falado sobre a percentagem de rapazes que tem sido usados na investigação no autismo ao longo destes anos. E que essa situação tem enviesado em parte as características de diagnóstico nos manuais de diagnóstico. Não ao nível dos áreas comprometidas mas principalmente em relação à qualidade expressiva das mesmas. O que tem levado a que muitas raparigas e mulheres não tenham sido e continuem a não ser devidamente diagnosticadas ao fim deste tempo todo. Para além disso há outros Autistas que tem referido a importância dos mesmos serem parceiros nas próprias investigações. Não apenas enquanto participantes mas como investigadores. Ou seja, há cada vez mais e mais Autistas com formação a nível superior nas mais variadas áreas, médica, psicológica, etc. Para além de sentirem que os próprios têm muito a dizer sobre os próprios instrumentos de avaliação usados e dos critérios que são tidos em conta na avaliação.


Mas para que essa participação acontece é preciso que a própria Sociedade e comunidade científica se possa abrir e convidar os Autistas. Não que eles e elas não sejam capazes de o fazer mesmo sem convite, porque o são. É o caso do congresso internacional para o Autismo ocorrido recentemente - INSAR (International Society for Autism Research). São cada vez mais os Autistas que foram avistadas neste evento, seja na plateia mas também na apresentação de trabalhos científicos. Ainda há pouco dizia que não era preciso convites mas isso não é de todo verdade. Ou seja, nos congressos há uma comissão que faz os próprios convites à comunidade científica para a apresentação dos seus trabalhos. Esta comissão precisa de estar sensibilizada para esta necessidade. Para além disso os próprios trabalhos que são enviados para ser apresentados serão avaliados de acordo com a sua validade científica. Não que eles não sejam válidos. A questão é que parece haver ainda algum enviesamento nesta própria avaliação. Ainda assim, foram muitos os trabalhos apresentados neste congresso por Autistas.


Nestes eventos e na própria publicação cientifica na área do Autismo são muitos os conceitos e designações que muitos Autistas, cientistas ou não, sentem que não são adequados ou até mesmo respeitadores da condição Autista. Alguns referem que o próprio presidente da INSAR - Profº Baron-Cohen com a sua proposta da Teoria da Mente refere que os Autistas sofrem de "cegueira mental" (mind-blindness), acrescentando que os Autistas são alegadamente incapazes de uma empatia genuína, imaginação e auto-reflexão. Um outro grande investigador nesta área, Steven Pinker, refere “junto, com robôs e chimpanzés, as pessoas com autismo lembram-nos que a aprendizagem cultural só é possível porque as pessoas neurologicamente normais têm equipamentos inatos para realizá-lo”.


É verdade que estas e outras afirmações podem ser justificadas como tendo sido retiradas do contexto. Mas ainda assim, não deixam de ser na sua medida sentidas como ofensivas. A participação nestes e em outros eventos tem sido crescente. A própria sensibilização da comunidade científica e académica para a neurodiversidade tem estado a par da sensibilização da Sociedade para o Autismo em si. São movimentos que correm num tempo próprio mas que os próprios ventos são sentidos como sendo de mudança. É preciso também que nos desagarremos de determinados pré conceitos e nos deixemos levar pela brisa.

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