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Geração A

Muitos ficaram logo a pensar em Douglas Coupland, certo? E no mundo em que as abelhas desapareceram, correcto? Mas não, não vai haver nenhuma reedição ou continuidade deste livro. E aquilo que vos quero falar não tem a ver com abelhas e muito menos mel. Ainda que iremos falar de coisas tão ou mais importantes que as abelhas e a possibilidade da sua extinção. E já vão perceber porquê?


Nesta Geração A, o A refere-se a Autismo ! Não é novidade nenhuma, certo? E porque é que eu continuo a insistir nesta questão. Em primeiro lugar porque quando mais se fala sobre o autismo, maior é o número de pessoas que passa a estar sensibilizado para o tema. E não, não é ideia minha. Está demonstrado por exemplo que durante o mês de abril, durante a conscientização para o autismo, a procura de informação referente ao autismo aumenta significativamente. E com ela passa a haver um maior número de pedido de esclarecimentos junto de profissionais de saúde para as questões referentes ao autismo. Por isso falar sobre o autismo é importante e de preferência que seja feito por mais pessoas.


Mas também continuo a falar sobre o autismo porque as 78 milhões de pessoas autistas que se estimam existir mundialmente, cerca de 70% das pessoas autistas adultas não está empregada ou integrada no mercado de trabalho. E se quisermos pensar em números reais, fiquem com a ideia de existirem cerca de 1,5 milhões de pessoas autistas que irão atingir a idade adulta na próxima década.


E se pensarmos em gerações, na próxima década, aqueles que irão começar a abordar o mercado de trabalho pertencem à Geração Z. Ou seja, estamos a falar das pessoas que em média nasceram entre a segunda metade dos anos 1990 até ao inicio de 2010. Sendo que a geração anterior a esta foi a Geração Y, também designada de Echo Boom. E como tal, a Geração Z no fundo representa o nascimento da World Wide Web, a que chamamos de nativos digitais.


E se pensarmos nas pessoas da Geração A, também eles são nativos digitais, e muitos deles significativamente competentes nesta área tecnológica. Facto que faria deles pessoas com um conjunto de ferramentas excelentes para enfrentar as necessidades do mercado de trabalho, certo? E que levaria que que muitos deles não tivessem dificuldade em começar a trabalhar assim que terminassem a sua formação, correcto?


Mas infelizmente não é essa a realidade. Muitas pessoas pertencente à Geração A, que na verdade são pessoas pertencentes à Geração Z e que têm um diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo, têm inúmeras dificuldades em integrar o mercado de trabalho. E atrevo-me a dizer que grande parte destas dificuldades advém do facto do mercado de trabalho e da Sociedade em geral não estar sensibilizada para o autismo e para a neurodiversidade de uma maneira geral.


Continua em muito a haver um número significativo de pessoas que não sabe o que é o autismo. Ou que então pensa que sabe o que é o autismo. Mas quando se procura perceber o seu entendimento verificamos que está carregado de estereótipos e informação errada. Depois também temos muitas pessoas, principalmente pessoas com responsabilidade de contratação nas Organizações que pensam que a contratação de pessoas autistas vai representar um gasto e que não haverá retorno. Facto que é totalmente errado e inverso à realidade. Ou seja, aquilo que temos é que a contratação de pessoas autistas e neurodiversas de uma maneira geral, representa uma mais valia para os próprios, mas também para os seus colegas não autistas e para a Organização como um todo. Isso mesmo, a contratação de pessoas autistas representa uma mais valia para os ganhos da Organização.


Sendo que essa mudança vai implicar necessariamente uma mudança na forma de pensar, sentir e agir da Organização como um todo. E aqui voltamos a encontrar um conjunto de barreiras. Seja na proposta de mudança e que aflige no geral as pessoas. Mas também a barreira dos custos e que as pessoas responsáveis na Organização olham para esta transformação e mudança associada a um custo, ao invés de olharem para esta mudança como um investimento e com retorno para a Organização.


Não empregar pessoas autistas e neurodiversas de uma maneira geral é demonstrar um desconhecimento completo acerca daquilo que representa esta comunidade. Mas também demonstra um desrespeito pelos Direitos Humanos das pessoas. Além de representar um péssima tomada de decisão, absurda até. Isto porque, aqueles que precisamente tomam a decisão de não contratar pessoas autistas e neurodiversas, assim como aqueles todas da Sociedade que não se manifestam contra isso, irão pagar nos impostos que necessitam de ser canalizadas para um conjunto de pessoas que podendo estar a trabalhar e a produzir capital, estão a receber uma pensão e outros apoios sociais. Os custos directos e indirectos relacionados com esta tomada de decisão é desastroso. Perguntem a quem sabe de economia e gestão, porque eu confio em muito nos números dos inúmeros relatórios produzidos nos últimos 20 anos.


E não, esta questão não tem a ver apenas com o autismo. Mas sim, tem a ver com a própria evolução da Humanidade, de todos nós, e de como continuamos a encarar aquilo que representa a diferença. E não, estes acontecimentos não têm apenas lugar em Portugal ou em outras economias mais fracas. Ocorre e de forma igual em outros países desenvolvidos e com uma economia forte. Seja no Reino Unido, Alemanha, Canadá, Estados Unidos, Austrália, Itália, França, etc.


O que me leva a perguntar - De que geração queremos ser?


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