Podes por uma cara mais alegre? pedia-lhe. Não tenho nenhuma fotografia tua a sorrir ou a rir. Se disser a alguém que tu és feliz ninguém acredita! dizia-lhe. Tira lá a fotografia! dizia-lhe Raul (nome fictício). Estás feliz? perguntou-lhe.
Hoje celebra-se o dia mundial da felicidade e o que não falta são noticias sobre relatórios de que estes ou aqueles são mais felizes do que aqueles outros. E que este país é o mais feliz. Eu não tenho relatório ou resultados, mas gostaria de vos falar sobre a felicidade no autismo. Isso mesmo, a felicidade no autismo! Não faz sentido estas duas palavras na mesma frase, felicidade e autismo? Já se perguntou do porquê? E se estão apenas à espera que eu diga que as pessoas autistas adultas são felizes porque ficam entretidas com os seus interesses restritos, ou com o seu stimming e exploração sensorial, estão enganados! As pessoas autistas adultas ficam felizes e sentem felicidade com as coisas do quotidiano, como qualquer um de nós! Espantado? Já se perguntou do porquê?
Sim, é verdade que muitas coisas no quotidiano das pessoas adultas e das pessoas autistas adultas especificamente podem gerar determinadas flutuações do humor. Mas ainda assim isso não significa que as pessoas não possam sentir felicidade ou sentirem-se felizes.
Por isso, mais do que escrever frases sobre as coisas quotidianas que deixam as pessoas autistas felizes. E muitos de vocês pensarem que isso são coisas quotidianas e que muitas delas também vos deixam felizes, independentemente de não serem autistas. A ideia é levar-vos a pensar porque é que muitos de vocês pensam que as pessoas autistas não são felizes!
Pensam que isso poderá ter a ver com alguma da inexpressividade facial quando descrevem ou assistem a determinadas situações? Se assim o é pensem na quantidade de vezes que muitos de vocês também não fazem ideia do que estão a expressar ou estão com uma expressão neutra e ainda assim estão a sentir felicidade!
Ou então porque com certa frequência ouvem as pessoas autistas a falar sobre dificuldades ou problemas! Pensem na quantidade de vezes que vocês próprios se queixam em relação a tantas situações do vosso quotidiano!
Como poderão depreender destas duas ideias anteriores, há muito mais de semelhança entre aquilo que faz as pessoas autistas e não autistas felizes do que poderiam pensar. Ainda que hajam todo um conjunto de nuances que possam ser diferentes. E não é de estranhar, afinal cada pessoa é única, certo?
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