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Experiências adultas

Não se deixem levar pelo titulo do texto e pensar que irei continuar a falar sobre as experiências intimas das pessoas adultas autistas. Esse tema ficará para uma próxima!


Aquilo que quero partilhar com vocês prende-se com a experiência que as pessoas adultas autistas passam no processo de despiste e diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo. O que é que acontece quando as pessoas acima dos 25 - 30 anos passam por um processo de avaliação e despiste de Perturbação do Espectro do Autismo?


Em primeiro lugar proponho a todos uma breve experiência. Pensem em vocês próprios, na vossa vida e no conjunto de experiências, sentimentos e pensamentos que tiveram decorrente de todas essas experiências. Algumas dessas experiências terão sido consideradas boas, algumas excelentes, outras menos boas, e até mesmo algumas que não desejam sequer pensar nelas de tão horríveis que foram. Pensem nos milhares de experiências que foram tendo ao longo da vossa vida, desde que nasceram até aos 25 - 30 anos. Estamos a falar de 9131 dias, no caso de considerarmos os 25 anos. Quase dez mil dias! São 219145 horas! 1/4 da nossa vida por assim dizer! São muitas experiências! Agora pensem que chegando aos 25 - 30 anos vos dizem que uma boa parte dessas experiências, independentemente da valência delas foram enviesadas. Ou seja, aquilo que sentiram, pensaram e experienciaram tem uma leitura diferente. Como que aquilo que aconteceu não tivesse sido tão bem assim! Como é que se sentiam?


Pois bem, após este exercício de reflexão, posso dizer que esta é uma das sensações que muitas, senão todas, as pessoas autistas adultas têm quando são diagnosticadas a primeira vez com Perturbação do Espectro do Autismo por volta dos 25 - 30 anos e mais tarde.


Várias pessoas autistas nesta situação perguntam-se como é que foi possível não terem sido diagnosticadas antes! Até porque foram observados, avaliados e consultados por vários especialistas na área da saúde e saúde mental ao longo da sua vida até então! Vários ficam zangados, frustrados, indignados, desacreditados! Mas também ficam outras coisas!


Porventura, a maior parte destas pessoas sente um alivio! Agora sabem que não foram nem são mal educados, agressivos, egoístas, desajeitados, estranhos, anormais, e todo um conjunto de outros adjectivos que normalmente consta no manual de diagnósticos morais feitos por muitas pessoas na sua vida (e.g., familiares, colegas, professores, médicos, psicólogos, políticos, jornalistas, etc.). E agora sentem que têm uma outra oportunidade de sentir, pensar e experimentar as coisas de uma forma diferente. Ainda que isso represente para si um desafio ainda maior do que todos aqueles que sentiram até então!


As pessoas autistas adultas sentem também que o processo de avaliação de Perturbação do Espectro do Autismo é complexo, já para não falar de demorado. Mesmo até depois de o fazerem sentem que é demorado a resposta ao seu pedido. Até porque a resposta do sistema de saúde público nos vários países e não somente no nosso é escasso para estes pedidos e para um tão grande número de pedidos. Em Portugal não se sabe, mas no Reino Unido são cerca de 150 mil pessoas que aguardam numa lista de espera para fazer uma avaliação de despiste de Perturbação do Espectro do Autismo. Chega a ser desapontante por muitos! E não é de estranhar tendo em conta que grande parte destas pessoas passaram boa parte da sua vida a pensar no que é que se passa consigo e com a sua vida. E muitos outros foram imaginando e ouvindo pessoas a falar de como foram os seus processos de avaliação. E as suas expectativas foram crescendo de uma forma ou de outra!


Mas também são possíveis de acontecer outras coisas. As pessoas autistas adultas depois de descobrirem o seu diagnóstico nesta altura da sua vida adulta passam a ter uma oportunidade de encontrar outras pessoas autistas adultas. E com isso de encontrarem um grupo na comunidade onde se sentem integrados, escutados, e um espaço de pertença! E isso na verdade é basicamente aquilo que todos nós vamos procurando o longo da vida - um espaço de pertença! Até porque muitas pessoas autistas têm este sentimento de serem diferentes de todas as outras pessoas. Até porque a maior parte das pessoas que estão em seu redor são pessoas neurotipicas (não autistas). E isso faz sentir as pessoas como deslocadas e não integradas e até mesmo não desejadas por muitas das outras pessoas não autistas.


E como tal é importante considerar neste processo das pessoas autistas adultas a importância que este facto pode ter para elas e ajudar a esclarecer esse e outros aspectos e com isso ajudar a que a possa possa descobrir igualmente a sua auto-determinação e a possibilidade e o direito de fazer as suas próprias escolhas na vida. E não deixarmos de considerar o impacto que o próprio diagnóstico nesta altura da vida contribui para a sua identidade. Identidade esta que foi sendo construída até então, ainda que de uma forma fragmentada. E que agora passa a ter esta outra possibilidade de se conhecer, reconhecer, construir e reconstruir! Também é importante poder considerar a importância, mas também os desafios que o dizer aos outros o seu diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo pode representar. Sendo que a própria pessoa pode querer nem sequer dizer. Mas também pode escolher fazê-lo de uma forma mais generalizada e é importante poder ajudar a esclarecer os desafios que isso pode representar e as possíveis consequências na sua vida pessoal, familiar, social e profissional. E deixar que seja a pessoa autista adulta a fazer a sua escolha.


Como vê são muitas as coisas que estão presentes neste desafio.

Estão prontos?! 1...2...3...Partida!!!!


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