Conhece alguma escola de condução especifica para pessoas autistas? perguntaram-me uns pais um destes dias. E não, não são os primeiros a me perguntar. Inclusive alguns jovens autistas candidatos a tirar a carta de condução já me colocaram a mesma questão. Faz-me sentido que pudessem existir escolas de condução especificas para pessoas autistas!, disse-me. Até porque se na escola eu fui sendo integrado para a Educação Inclusiva, também me faz sentido que a escola de condução pudesse ter esta mesma possibilidade, acrescentou. Não concordas? perguntou-me. E eu respondi-lhe que sim. E sim, faz-me muito sentido.
Se alguém quiser pensar na possibilidade de formar instrutores de condução para estarem capacitados para darem aulas a pessoas autistas digam. Terei todo o interesse em poder colaborar nesta etapa tão fundamental e ainda tão difícil.
Na transição para a idade adulta, a condução é um meio para a independência. Para os adolescentes autistas, ter as aulas de condução, mas também de código, realizada por instrutores com formação especializada no espectro do autismo, é uma medida fundamental. Não apenas porque é uma oportunidade de reduzir as dificuldades sentidas pelas pessoas autistas candidatas à carta de condução. Mas também é uma forma de poder melhor garantir que a instrução de condução é realizada em condições adequadas para passar melhor toda a informação necessária para uma condução segura.
Os desafios ao volante são vário e incluem inflexibilidade mental, distractibilidade e dificuldades com as pistas sociais e a coordenação motora. Os instrutores devem poder aprender a reconhecer os pontos fortes dos alunos, incluindo a adesão às regras da estrada, a tomada de risco limitada e observações de cuidado a ter.
Uma em cada três pessoas autistas obtêm a sua carta de condução por volta dos vinte e um anos de idade, referem alguns estudos. E muito provavelmente se houvesse mais e melhor informação acerca da possibilidade das escolas de condução poderem ter esta oferta, estou certo de que os números de candidatos poderiam aumentar.
As evidências sugerem que os adolescentes autistas requerem muito mais tempo de instrução para se adequarem ao comportamento de conduzir. No entanto, os esforços para compreender os desafios específicos encontrados e as estratégias usadas pelos instrutores de condução para trabalhar com os adolescentes autistas são limitadas.
Continuar a haver aulas de instrução em que a linguagem e a comunicação não são adaptadas é meio caminho para que os candidatos possam desistir ou procrastinar ao ponto de virem a desistir. Ou de chumbarem uma e outra vez. Ou de terem ouvido múltiplas histórias semelhantes e nem sequer se inscreverem. Além de ser necessário de pensar que toda a informação que descreve o processo de tirar a carta de condução precisa de estar explicito, adequado e acessível para que os candidatos possam informar-se e colocar as questões necessárias e importante.
Virar à esquerda enquanto instrução pode não ser suficiente. Poderá ser necessário explicar de forma mais detalhada o que implica nessa instrução. Poder usar inclusive suportes visuais, por exemplo. E sem dúvida, não gritar em momento algum. Ou soprar! As pessoas não têm noção do que é que no seu comportamento pode ter impacto numa pessoa autista. E sim, o soprar ou suspirar do instrutor de condução é um deles. Ou o tapar os olhos ou colocar as mãos na testa. Fazer movimentos bruscos dentro do carro. Falar rápido demais. Não permitir usar fones dentro do carro. Ainda que compreensivelmente o instrutor refira que o condutor deve estar capaz de poder processar a informação auditiva. Mas certamente, o uso de fones é uma forma de poder melhorar o processamento da informação auditiva. E quando isso não acontece, certamente que muitas das outras áreas cognitivas e necessárias para o comportamento de conduzir irão ficar afectadas.
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