Provavelmente a maior exposição aos ecrãs desde que entramos em confinamento em Março deste ano, e com a passagem para o regime de teletrabalho, assim como a multiplicação de encontros no Zoom. Tudo isto terá aumentado a dificuldade na capacidade visual de muitos já com algumas dificuldades, mas também terá criado novos casos. Eu não sou oftalmologista, mas percebo duas ou três coisas do comportamento humano. Além das consequências anteriormente mencionadas, esta situação de pandemia parece ter vindo a acentuar outras assimetrias, ainda que existentes, pareciam estar ocultas, nomeadamente nos subterfúgios das palavras. Estou a falar de Direitos Humanos. Os mesmos apresentados aqui na foto com a imagem de Eleanor Roosevelt a segurar a 1ª publicação do jornal oficial da Organização das Nações Unidas, precisamente com a Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1946. Direitos Humanos esses que não estão a ser salvaguardados nos autistas adultos. Independentemente das questões que podem angustiar mais uns do que outros, nomeadamente pais de pessoas autistas, parece-me fundamental frisar isto. Num determinado estudo que observou 8.713 autistas adultos, foi seleccionado uma amostra de 5.025 legalmente dependentes, com um acordo redigido em tribunal para estes terem algum tipo de custódia. Desta amostra 43,4% apresentam uma dificuldade intelectual associada e cerca de ⅔ uma outra perturbação psiquiátrica ao longo da vida. Para além de todas as questões que possam ser levantadas por uns e por outros, certamente pertinentes. O certo é que muitas destas pessoas não precisariam de modo algum de uma medida decidida em tribunal a coartar os seus direitos fundamentais. Até porque uma vez perdido estes mesmos direitos não é fácil de os voltar a ter novamente, o que nos deve levar a colocar a questão da irreversibilidade destas medidas.E apesar deste estudo ter sido realizado nos EUA, esta situação ocorre a nível mundial, com maior ou menor expressão. Se sabemos que há uma extrema dificuldade na integração sócio profissional dos autistas adultos no mercado de trabalho, sendo que a grande maioria das questões não se prendem com as suas características sequer. E por conseguinte o acesso à habitação acaba por ficar igualmente dimuido. Parece tornar-se fácil demais, infelizmente, justificar que as pessoas autistas não têm competências para tomar conta da sua vida e tomar decisões fundamentais. Caso tenha sido ainda assim difícil de ler estas palavras, recomenda-se a ida urgente a um oftalmologista. Não se preocupe que as palavras vão ficar disponíveis durante mais tempo.
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