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Espelho, espelho meu, haverá alguém mais autista do que eu?

A suspeita de uma interligação entre as Perturbações da Conduta Alimentar (Anorexia) e a Perturbação do Espectro do Autismo (PEA) tem crescido. Mas tal como na Anorexia é comum observarmos comportamentos de dismorfia corporal. Também parece haver alguma resistência na aceitação desta relação entre as duas perturbações.

Na dismorfia corporal observamos uma alteração da percepção do corpo do próprio. Ou seja, a pessoa pode estar a perder progressivamente peso e quando se olha ao espelho continua a acreditar que está com peso excessivo e que necessita de continuar a perder peso.


Alguns investigadores na área do Autismo, nomeadamente William Mandy (UCL), têm procurado alertar para a possível intersecção entre a PEA e a Anorexia. Quando se avalia os traços autistas em grupos populacionais com Anorexia a sua prevalência aumenta significativamente.


Por exemplo, um jovem com anorexia e outras complicações médicas apresenta dificuldades em manter amizades. Apresenta maneirismos estranhos, uma fala monótona e explosões agressivas, com períodos de rápida perda de peso associados a comer restritivo e com períodos de vómito induzido.


Uma adolescente com um percurso escolar fantástico e com anorexia e desnutrição grave não confia nas pessoas. Ao invés gosta mais de estar com cavalos. Tem hábitos alimentares desorganizados e usa a mesma roupa na maioria dos dias. Expressa expectativas desadequadas sobre os relacionamentos e sofre de padrões implacáveis que aplica a si e aos outros. A sua rotina é inflexível e inclui uma corrida diária. Tem um paladar típico de uma criança pequena.


Um adulto transexual com compulsão alimentar e que não falou até aos 3 anos de idade reporta uma compulsão alimentar frequente, dieta limitada e preferência por doces. Tem PHDA, obesidade mórbida, problemas gastro-intestinais, depressão, fracas competências sociais e comportamentos de desregulação emocional.


Um estudante universitário com uma desnutrição marcada e com uma perturbação alimentar compulsivo restritivo evitante (ARFID) e que tem também PHDA e POC e uma ansiedade marcada. Apresenta também dificuldades nos relacionamentos interpessoais e sociais. Procura evitar fazer expectativas, incluindo no seu trabalho na faculdade.


O que todas estas pessoas apresentam em comum? Uma Perturbação do Espectro do Autismo em associação com Perturbação da Conduta Alimentar. As dificuldades na esfera da alimentação no Autismo são conhecidas. Desde as múltiplas hipersensibilidades (gustativa, táctil, olfactativa, etc.), à cor ou forma de determinados alimentos. A possibilidade dos mesmos se poderem tocar no prato, etc. Há todo um acumular de questões no Autismo que faz com que a restrição alimentar seja uma realidade e que precisa de atenção.


Associado a estas questões, outras características como as distorções cognitivas face ao corpo e ideias de beleza, a maior rigidez e inflexibilidade comportamental e cognitiva acabam por criar uma "tempestade perfeita" na intervenção da Anorexia quando existe por base uma PEA. A intervenção habitualmente usada na Anorexia parece encontrar uma ainda maior resistência nestes casos. E como tal se é habitual haver a utilização da medida de internamento em consultas hospitalares da especialidade. Nestes casos pode ainda fazer mais sentido.


Se por um lado é importante que nas consultas para as Perturbações da Conduta alimentar se pensa em fazer um rastreio para os traços autistas. Também parece fundamental que nas consultas de PEA se tenha em especial consideração os comportamentos na esfera da alimentação.

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