Luis Vaz de Camões será provavelmente aquele que melhor tenha compreendido o sentir do amor no espectro do autismo ao escrever, "Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer". Não que não hajam outros fora do espectro que se revejam igualmente neste turbilhão de sentimentos quando está apaixonado, porque os há. Dentro e fora do espectro do autismo as pessoas sentem, até de forma muito semelhante aos neurotípicos, um conjunto de sentimentos, sensações ou pensamentos face à pessoa amada e desejada. Sim, porque as pessoas com Perturbação do Espectro do Autismo (PEA) também amam e desejam procurar viver o amor numa relação romântica com outra pessoa.
Apesar de haver actualmente um conjunto de trabalhos científicos que se debrucem sobre o amor, as relações românticas ou o sentir-se atraído dentro do grupo de pessoas com Perturbação do Espectro do Autismo. A literatura cientifica ainda se tem debruçado em muito sobre a forma como algumas das características comportamentais do espectro do autismo podem impactar nas relações românticas. Desde a dificuldade em ter uma relação romântica porque se pode ter menos desejo em ter relações sociais, interpessoais com outras pessoas. O ter maior dificuldade em dizer o que pensa e sente pela outra pessoa porque pode ter maior dificuldade em aceder aos seus sentimentos e conseguir expressa-los de forma adequada face ao que está a sentir. Ou as dificuldades causadas pela hipersensibilidade táctil e como a mesma impacta no contacto físico com o parceiro. E a dificuldade em compreender as pistas sociais dos outros e ter níveis aumentados de ingenuidade e ser facilmente enganado ou usado pelas outras pessoas e isso poder coloca-la em perigo na relação.
Apesar de todos estes temas e outras serem fundamentais para ajudar a compreender o que ocorre dentro do espectro do autismo em relação a este tópico. É fundamental poder também falar da versão romantizada e apaixonada que é vivida no espectro do autismo. Até para poder desconstruir mitos de que as pessoas no espectro do autismo não têm sentimentos ou não têm sentimentos românticos por outras pessoas. Ou que não amam ou desejam romântica e sexualmente a outra pessoa. Mas também é fundamental falar destes aspectos para ajudar a normalizar estes e outros comportamentos dentro da neurodiversidade.
O seguinte video do canal ABC dá uma amostragem disto que acabei de escrever. As pessoas que vão ver no vídeo são todas elas do espectro do autismo. E para quem tomar atenção no que eles e elas dizem não resta dúvida de que sentem vontade e desejo em conhecerem outras pessoas, sentirem que são amadas e desejas pela outra pessoa e poderem eles próprios devolver esses sentimentos. São igualmente pessoas que temem e receiam não serem amadas ou escolhidas, em grande parte pelo medo que têm relativamente ao estigma sentido por serem pessoas com uma Perturbação do Espectro do Autismo. Receiam não serem totalmente compreendidas e não saber como explicar tudo aquilo que sentem. Quem não se rever em todas estas questões é provável que nunca tenha amado ou estado apaixonado. Seja do espectro do autismo ou não!
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