Como diz o Rui Veloso, "Muito mais é o que nos une. Que aquilo que nos separa." Fala-se muito da intersecção entre a Perturbação do Espectro do Autismo (PEA) e a Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção (PHDA). Numa enxertia em uma árvore de fruta posso colocar uma laranjeira também a dar limões. Mas a laranja não deixa de ser laranja por isso.
É frequentemente referido que na PEA existe uma probabilidade de cerca de 30% de ocorrência de uma PHDA. Para além disso algumas das áreas neuronais afectadas acabam por ser comuns. Como tal, é comum observarmos uma PEA com características de défice de atenção, entre outros tantos exemplos. Alguns podem ficar com a ideia que o percurso de desenvolvimento de ambas as condições também poderá ser semelhante. Mas aparentemente não o é.
Os adultos com PEA e PHDA apresentam igualmente um conjunto de outras comorbilidades psiquiátricas associadas. No entanto, o caminho de ambas as condições é diferente. Num estudo recente foram avaliadas mais de 1 milhão de pessoas. Os sues resultados sugerem por exemplo que enquanto na PEA há uma maior probabilidade de ocorrência de Esquizofrenia. Na PHDA há uma maior probabilidade de problemas com consumo de substâncias psicoactivas. Para além de terem encontrado uma maior prevalência de ansiedade, depressão, perturbação bipolar e perturbação da personalidade em ambas as condições (PEA e PHDA). No entanto, na PHDA a probabilidade de desenvolver uma perturbação bipolar é bastante maior comparativamente na PEA.
O objectivo da investigação não é apenas a descrição das inúmeras perturbações associadas a ambas as condições. É fundamental este conhecimento para podermos desenhar as intervenções mais eficazes na resposta às suas necessidades. Mas também para no processo de avaliação/despiste podermos estar mais atentos a determinadas questões ante outras.
[a referência ao estudo em questão - https://www.biologicalpsychiatryjournal.com/article/S0006-3223(19)31291-0/fulltext ]
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