Entrepreneurs. Não conhece? Talvez não com esta palavra. Mas muitos de nós já o somos de uma forma ou de outra. Não querendo desvirtuar o conceito em si. Empreendedores. Agora já sabe um pouco mais do que se trata, certo? Estamos a falar da pessoa que cria o seu próprio negócio, isto dito de uma forma bastante simplista. E então? perguntam alguns. O que é que isso tem a ver com o autismo?, dirão outros. Tem tudo. Na verdade, tudo tem a ver com autismo. Assim como tudo tem a ver com qualquer um de nós que deseja fazer essa escolha, ou outra.
Mas como em tudo, as coisas precisam de ser pensadas e preparadas em termos de estruturas de apoio para dar suporte a este tipo de iniciativas. E não, não é por causa de serem autistas. Trata-se de algo bastante usual no mundo da economia, a criação de centros de apoio ao desenvolvimento de empresas, agora mais recentemente designadas de startups. No fundo trata-se de um centro que funciona como uma incubadora para que as ideias das pessoas possam ser ajudadas a implementar e a crescer.
E diria que algumas pessoas autistas compreendem bem o conceito de incubadora. Até porque algumas, sejam prematuras ou não, fizeram uso da incubadora em contexto hospitalar. E essa ideia de ter uma estrutura de apoio conjuntamente com uma equipa de profissionais, no caso do hospital de saúde, que permitiu que a pessoa tivesse sido ajudada a recuperar a sua condição e a conseguir fazer a sua caminhada na vida.
Agora uns anos mais tarde, esta incubadora já não é no hospital e os profissionais de apoios são outros. Nomeadamente, profissionais na área da gestão e do desenvolvimento de projectos.
Há uns bons anos atrás. Na verdade parece-me ter sido em outra vida, tendo em conta que já lá vão cerca de trinta anos trabalhei precisamente numa incubadora de empresas. Como vêm não é um conceito assim tão inovador. E no fundo, aquilo que na altura era feito é mais ou menos aquilo que se faz agora. É feita a apresentação de uma proposta de negócio a uma equipa de profissionais especialistas no desenvolvimento deste tipo de iniciativas. São fornecidas um conjunto de propostas de melhoria e apontam-se caminhos possíveis para a concretização do projecto.
Haverá certamente a necessidade de que esta incubadora possa desenvolver workshops de Modelo de Negócio e outros para que possa ajudar as pessoas que pensam em se candidatar a como melhor conseguir construir uma proposta. E no que toca a ideias e pessoas com ideias no Espectro do Autismo, penso que é algo que não falta. E quem tem tido essa experiência de viver mais de perto o autismo, sabe que há todo um conjunto de ideias bastante inovadoras. E que certamente precisam de apoio, tal qual qualquer um de nós quando tem uma determinada ideia para criar um negócio ou uma empresa. E nem estou apenas a falar das questões do financiamento, ainda que essa questão seja igualmente fundamental.
E no que diz respeito à questão do financiamento, é sabido que existem todo um conjunto de possibilidades de concorrer a determinado tipo de ajudas financeiras na ajuda à construção deste tipo de projectos e principalmente daqueles que melhores condições oferecem. Daí também a necessidade do apoio de uma equipa de profissionais.
E convenhamos, que no autismo, se há coisa que existe é uma gama ampla de necessidade e de oportunidades de negócio. E quem melhor do que pessoas autistas para pensarem em produtos e serviços para outras pessoas autistas? Desde sempre que oiço os pais com crianças autistas a se queixarem de não haver ATL's e explicadores vocacionados para trabalhar com alunos autistas!? E os jovens autistas que falam de não haver centros para o desenvolvimento das suas actividades!? Ou os adultos que não param de dizer que não há pacotes de férias bem adaptados à sua condição!? E as questões sensoriais!? E a alimentação?! Ainda a semana passada escrevi sobre a possibilidade de construir um negócio em torno da roupa para pessoas autistas. E poderia continuar a fazer toda uma listagem.
Não, não é uma utopia. Sim, é possível. Sim, necessitamos ser mais a pensar de uma forma diferente e a fazer diferente. Sim, precisamos de nos apoiar a todos mais. Aut-à-Porter, até já tem um nome.
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