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Foto do escritorpedrorodrigues

- Entrei, entrei no curso que queria!!

Os resultados da primeira fase do Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior estão disponíveis desde hoje. E são muitos os jovens, assim como os seus pais, que se preparam para uma nova viagem. A senhora Secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência, Ana Sofia Antunes, publicou hoje nas redes sociais que entraram mais 39% de estudantes com deficiência, comparativamente ao ano anterior. E já o ano passado tinham entrado mais 30% de alunos pelo contingente especial, comparativamente ao ano anterior. E esta tendência tem sido crescente, em Portugal, tal como no resto do globo. Este ano foram 312 alunos, que concorreram ao abrigo do contigente especial para pessoas com deficiência. Sendo que dentro deste grupo se encontra uma amalgama grande de situações heterogéneas. Posso dizer que este ano um grupo de quatro jovens autistas que acompanho que também entraram no Ensino Superior. E o ano passado entraram outros tantos. E antes disso também. E apesar desta enorme felicidade por se ter chegado aqui e de se saber que há mais pessoas com deficiência a concorrer e entrar no Ensino Superior. Também devemos sentir a responsabilidade que continua a recair sobre todos nós, alunos, docentes, reitores, pais e profissionais de saúde. Continuamos a sentir que o facto destes alunos estarem referenciados no ensino obrigatório ao abrigo do Decreto-Lei 54/2018 para a Educação Inclusiva. Seria de todo conveniente para o processo do aluno que o mesmo pudesse ter continuidade, mas também uma passagem administrativa mais facilitada. Mas também continua a ser fundamental em todas as Instituições do Ensino Superior e Politécnico, Públicas ou Privadas, que os vários docentes possam estar não somente sensibilizados, mas também capacitados para intervir junto destes alunos. Além das condições de acesso e mobilidade dentro do Ensino Superior, dos equipamentos adequados para as necessidades de muitos destes alunos. Uma grande necessidade que se continua a verificar é a de uma mudança comportamental de todos face à neurodiversidade. Continuamos a observar professores que não aceitam as solicitações efectuadas pelos próprios alunos para que sejam feitas adequações no processo de avaliação, facultação dos diapositivos antes das aulas, permissão para usar headphones na sala de aula para reduzir os estímulos sonoros, possibilidade de fazer trabalho individual ao invés de ser sempre em grupo, etc. São muitas as possibilidades, tal como a diversidade de pessoas que estão no Ensino Superior, inclusive dentro do grupo de pessoas que partilham um mesmo. diagnóstico, neste caso de Perturbação do Espectro do Autismo. Mesmo quando as solicitações que os alunos fazem são feitas com relatórios do psicólogo que acompanha o aluno, continua a haver professores dentro do Departamento que não aceitam. Ou quando aceitam deixam transparecer que estão a fazer um favor ao aluno, deixando-o fragilizado. E não é apenas as questões relacionadas com o processo de aprendizagem que importa reflectir. As residências universitárias e as respostas que providenciam precisam de ir ao encontro das características de todos estes alunos. E o próprio Campus Universitário necessita do ponto de vista arquitectónico de providenciar espaços que respeitem os diferentes processamentos de informação. É verdade que há cada vez mais Universidades que dão mostras de boas práticas neste âmbito. E isso deve-nos encorajar a continuar. Tudo isto e o demais que possamos fazer é um direito destes alunos. Não pensem que estamos a fazer um favor, ou de que estamos a fazer algo de extraordinário, porque não estamos. É um direito. Da mesma forma que estes alunos não se querem ver designados como especiais, ou super heróis por terem chegado até este patamar e querem continuar. Grande parte deles diz que estão a fazer aquilo que sentem fazer sentido e que faz parte do seu projecto de vida, tal como em qualquer pessoa. São pessoas que têm lutado muito ao longo dos anos do ensino obrigatório, sem dúvida. Mais uma vez e principalmente, pela dificuldades que muitos de nós lhes vamos causando no seu caminho, e não tanto por aquilo que são algumas das suas características. Agora no Ensino Superior faz-me ainda mais sentido que os alunos autistas possam reclamar um lugar de discussão daquilo que são as políticas de ensino implementadas e na construção de medidas que vão ao encontro das suas características. Nesse dia estaremos todos conscientes de que todos os alunos vêm os seus direitos iguais e garantidos. E a partir desse momento já nos podemos congratular com tudo o resto que se faça a mais.


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