Há algo nesta imagem que lhe faz lembrar algo e que não tem a ver com culinária, certo? Muito bem, esta imagem, apesar de alterada, foi baseada numa campanha dos anos 80 do século XX - This is your brain on drugs. O breve vídeo que começava por mostrar um ovo antes de ser partido e que depois era colocado numa frigideira quente e onde se ouvia a referida frase, pretendeu alertar as pessoas para o impacto do consumo de substâncias psicoactivas.
Tendo em conta que não vos irei ensinar a fazer ovos estrelados, já perceberam que irei falar sobre a relação entre a Perturbação do Espectro do Autismo e a Perturbação por uso de substâncias. Isso mesmo, aquilo que durante muitos anos se pensou ser inexistente e até mesmo impensável, parece afinal de contas apresentar uma maior probabilidade de ocorrência.
Como em Portugal ainda não existem dados, por enquanto, fiquem a saber que no Reino Unido, onde existem cerca de 700.000 pessoas autistas, perto de 36% desta população faz uso de consumo de substâncias.
Se pensarmos que os protocolos de intervenção para intervir junto das pessoas autistas para as questões de ansiedade e depressão, necessitam de ser adaptados, devido às características próprias do diagnóstico de autismo. Será importante poder compreender como é que a intervenção junto das pessoas com uma Perturbação por uso de substância e com traços autistas necessitam de ser enquadradas diferentemente na conceptualização e intervenção.
A terapia para as pessoas autistas e com uso de substâncias é mais complexa do que simplesmente seguir um manual. E como tal necessita de ser mais detalhada e completa. A duração das sessões e a duração da intervenção geralmente precisam de ser aumentadas. Para optimizar a previsibilidade para a pessoa autista, as sessões devem, na medida do possível, ser num horário fixo a cada semana. É importante discutir a duração provável da intervenção no início da terapia. E este deve ser mais estruturada, directa e concreta, e complementada com orientação escrita. Os planos escritos, notas e/ou tarefas de casa são um complemento essencial à terapia. Bem como, o uso de uma entrevista motivacional é útil para fazer um plano de tratamento e resultado. A psicoeducação sobre as características do autismo e como elas podem impactar em cada pessoa é importante. A estabilidade é vital, e como tal, mudar de terapeuta é muito desafiador para as pessoas autistas. O terminar do tratamento é difícil porque o paciente pode sentir-se rejeitado.
Os terapeutas devem ter experiência anterior no modelo Comportamental e Cognitivo. Sendo igualmente preferível que o terapeuta tenha experiência anterior de trabalho com pessoas autistas. Estes precisam de ser perseverantes e pacientes e reconhecer que podem se sentir incompetentes para lidar com os desafios do autismo. Eles também podem experimentar um forte compromisso emocional com o seu cliente. A flexibilidade e criatividade são técnicas terapêuticas vitais.
Algumas pessoas autistas acreditam que são especialistas em drogas, embora raramente o sejam. E podem parar de usar drogas de um momento para o outro, embora isso possa implicar um risco para a saúde. A maioria dos clientes tem um estilo de comunicação desafiador e pode procurar assumir o controle das sessões.
Algumas pessoas autistas precisarão de mais apoio do que pode ser fornecido em ambulatório. A supervisão por médicos experientes é vital, assim como a colaboração com os colegas. O terapeuta deve ser capaz de apoiar o cliente após o término da terapia – e oferecer sessões de acompanhamento conforme necessário. É crucial estabelecer colaborações com outros serviços relevantes e com a família. Assim como é importante ajudar a pessoa a estabelecer relações com os profissionais de saúde de apoio local antes de terminar a terapia.
Os componentes cognitivos devem ser adaptados ao nível cognitivo/linguístico e estilo de linguagem da pessoa. A terapia deve ser individualizada e mais estruturada e com maior uso de estratégias directivas nas sessões. Sendo que estas devem ser mais longas e de duração mais longa do que com outros grupos de clientes. Deve haver um aumento do tempo gasto em educação emocional e gestão de stress. O uso dos interesses especiais das pessoas autistas deve servir como ponto de partida, assim como um aumento do uso de estratégias visuais. Até porque o uso de desenhos ou caricaturas serve para auxiliar na visualização de conceitos/torná-los mais concretos O treino de competências sociais específico, assim como o envolvimento dos pais e outros cuidadores é fundamental. A psicoeducação sobre o autismo é necessária. E precisamos de ajudar a organizar muitos outros aspectos da vida dos clientes, incluindo residência autónoma, emprego, contactos sociais e actividades de lazer sem o uso de drogas.
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