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Foto do escritorpedrorodrigues

E agora, o que fazemos?

E agora, o que fazemos? perguntam aqueles pais que estão no fundo da fotografia. O seu filho Ricardo (nome ficitio) de 25 anos recebeu recentemente um diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo (nível 1).


Ricardo nunca teve nenhuma retenção na escola apesar de alguns desafios com certas disciplinas como Português e Filosofia. Aos 17 anos concorreu para engenharia informática, mas ao fim de um ano e meio desistiu. Recentemente os pais voltaram a perguntar-se se deveriam ter aceite a propsosta da educadora e deixar o filho mais um ano na pré-escola. Na altura diziam que o Ricardo parecia demasiado imaturo para a idade. Mas os pais pensavam em todas as outras coisas que o filho parecia conseguir com uma facilidade sem igual. Em relação ao curso de engenharia, os seus pais pensaram que ele não deveria nunca ter ido para aquele curso, mas o filho insistiu. Sempre gostou de informática. E bastante precocemente parecia conesguir fazer algumas coisas com algumas linguagens de programaação. E durante um período significativo de tempo foi sendo enquadrado o facto do Ricardo passar um período consideravel de tempo no quarto e principalmente ao computador. Quando o pai procurava dizer ao Ricardo que este devia procurar sair um pouco mais, a mãe chamava a atenção para a importância do futuro profissional. E acrescentava que ela própria também não tinha saído muito quando era adolescente e que isso não lhe tinha feito ou casado mal algum.


Mas ao fim daquele ano e meio em que os pais apenas se aperceberam já bastante tardiamente que o seu filho não tinha feito nenhuma unidade curricular, as dificuldades pareceram eclodir todas ao mesmo tempo e de uma forma mais intensa. Os momentos de desregulação emocional e comportamental do Ricardo pareciam ter aumentado de frequência, mas também de intensidade. Ainda que os pais pensassem que isso teria a ver com o facto de ser mais velho e como tal a intensidade dos comportamentos ser igualmente maior. O mesmo se parecia passar com a sua rigidez e inflexibilidade. Ainda que os avós maternos do Ricardo dissessem que isso teria a ver com a vontade do neto em fazer as suas próprias escolhas. Mas entretanto o Ricardo passou a ficar mais tempo fechado no quarto, ao ponto de ter deixado de ir à faculdade. Chegou a estar cerca de seis meses a dormir de dia e acordado de noite. Nessa altura começou também a jogar online. Os pais pensaram inclusive que estar online com outras pessoas poderia ser uma coisa boa para ele naquele momento. Mas a situação parecia não mudar. Muito pelo contrário, a situação agravava de dia para dia, ao ponto da própria higiene começar a ficar para trás.


De uma forma inesperada um dia o Ricardo disse que queria ir para engeharia quimica. Ninguém sabia de onde teria saido aquela ideia, mas face aos acontecimentos naqueles meses todos os pais optaram por validar a sua esolha. O Ricardo com a ajuda dos pais faz nova candidatura e entrou para o curso escolhido. As dificuldades desta vez começaram a aparecer mais cedo. O Ricardo queixavasse frequentemente sobre os colegas e a imaturidade deles. Inclusive algumas das suas frases chegam mesmo a ser pedantes em relação à forma dele pensar sobre os seus colegas. Os laboratórios começaram a ser mais conflituosos porque havia a necessidade de trabalhar em conjunto nos grupos. O Ricardo parecia não se adaptar. A frustração aumentou e começou a dar lugar a uma ansiedade que se vinha a instalar. Ricardo voltava novamente a ficar mais fechado no quarto e desta vez nem sequer manifestava vontade em falar com os pais. Aom fim de algum tempo o pai encontrou o smartphone do Ricardo em cima da mesa do escritório enquanto este tinha ido tomar banho. Não conseguiu resistir e viu algumas das coisas que o seu filho andava a pesquisar. Grande parte das informação tinham a ver com saúde mental. O Ricardo tinha preenchido alguns questionários online. Alguns deles tinha a ver com autismo. O pai preplexo sem saber o que fazer foi falar com a sua esposa e para grande espanto desta o nome autismo ficou a pairar. Autismo?! Autismo?! Mas o que é que ele anda a pensar?! pergunta a mãe inquieta. Isto deve ser alguém com quem ele anda a falar na internet naqueles sites habituais! dizia o pai.


Mas a situação do Ricardo parecia não ter nenhuma evolução positiva, muito pelo contrário. Até que os pais decidiram dizer ao filho que tinham visto no seu smartphone a informação sobre os questionários e o autismo. A reacção não foi a melhor, mas ainda assim a forma do Ricardo reagir deixou-os ainda mais boquiabertos. Ele desmorenou completamente e desabou a chorar. Os pais nunca o tinha visto a chorar. Perceberam que ele já estaria a fazer algumas consultas. Pediram-lhe para se envolver e foram falar com o psicólogo. As coisas estavam todas muito no inciio e as perguntas eram mais que muitas. Assim como a sensação de incredulidade dos pais. Mas até então não tinham conseguido perceber em como ajudar o filho e não tinha outra coisa ou alguém a quem se agarrar.


Esta situação hipotética, talvez não seja assim tão distante da realidade de muitos/as jovens adultos que recebem o diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo na vida adulta. Assim como também os seus pais que ficam sem saber como lidar com toda esta situação e com o seu filho. Principalmente porque sempre viveram debaixo de uma ideia de não se passar nada e muito menos um diagnóstico do neurodesenvolvimento. E ao fim de todos aqueles anos é-lhe dito que há uma forma diferente de poder compreender o que se está a passar, mas também daquilo que melhor ajuda a compreender o seu filho desde sempre. E com uma visão também ela diferente daquilo que irá ser construído no futuro.


É importante que o processo de diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo na pessoa adulta se possa centrar nesta, e na compreensão da mesma. Contudo, a pessoa adulta não existe só no mundo e muito provavelmente esta pessoa adulta pode estar ainda a viver com os pais. E durante algum tempo mais ainda irá continuar a necessitar e até mesmo desejar manter o contacto com os pais. E como tal, faz todo o sentido que stes pais, assim como outros membros significativos da familia possam ser ajudados a compreender o diagnóstico e principalmente a expressão comportamental do diagnóstico no seu familiar. E m conjunto poderem reaprender a viver numa dinâmica familiar que possa respeitar esta outra forma de poder sentir, pensar e agir no Mundo.


As respostas podem ser várias e usadas em difernetes momentos do processo. Além do processo individual do/a filho/a, os pais poderão beneficiar de um acompanhamento para os ajudar numa psicoeducação sobre o autismo. Mas também poderão beneficar todos de um processo de intervenção sistemática e familiar.


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