Dormir sobre o assunto é uma expressão habitualmente usada pelas pessoas quando se referem a pensar de forma ponderada sobre um determinado assunto. Mas curiosamente nos dias de hoje parece que a ideia de pensar de forma ponderada sobre um assunto parece querer significar que vai demorar. E muitas pessoas parecem não ser complacentes e compreensivas com essa ideia. Dizem ser as necessidades dos tempos actuais. E na verdade, esta pós modernidade e ainda mais com o avanço da tecnologia parece ser cada vez mais exigente com uma resposta imediata. Contudo, muitos assuntos necessitam de ser ponderados. E a própria investigação demonstra que poder dormir sobre o assunto ajuda a tomar uma melhor decisão sobre a questão em mãos. Não acredita? Veja aqui!
Mas há um assunto que também necessita de se dormir sobre ele, até porque há poucos trabalhos realizados sobre o tema, e o número de pessoas afectadas é significativo. Estou a referir ao sono nas pessoas autistas adultas.
Se por um lado é reconhecido que as perturbações do sono são uma variável presente na vida das crianças autistas. E a intervenção farmacológica e comportamental tem vindo a desenvolver respostas para a sua remediação. O mesmo já não é tão verdade no que diz respeito às pessoas autistas adultas, principalmente ao nível da intervenção comportamental. E os múltiplos estudos que vão sendo realizados com população autista adulta é notório verificar que os problemas de sono são uma parte significativa das suas dificuldades. E com uma implicação negativa em outras áreas igualmente importantes da vida da pessoa, e no caso das pessoas autistas adultas são áreas que já se encontram comprometidas. Estou a referir-me às questões relacionadas com a ansiedade, regulação emocional, questões gastrointestinais, foco atencional, entre outros. Ou seja, se pensarem em vocês na manhã após uma noite mal dormida, conseguiram pensar no quanto difícil esse dia foi para vocês. Agora imaginem que essa noite mal dormida se multiplica por dias, semanas, meses e anos!
Como tal, é fundamental que as pessoas autistas adultas, sejam aquelas diagnosticadas nesta etapa da sua vida, sejam aqueles já diagnosticados no passado, é fundamental monitorar o seu padrão de sono e conhecer as dificuldades que estão presentes. Mesmo se pensarmos que uma pessoa autistas adulta e que foi diagnosticada em criança ou adolescente e que já recebeu intervenção comportamental e farmacológica para uma perturbação do sono. Esse facto não significa que as queixas tenham ficado resolvidas na sua totalidade. Até porque existem outros factores envolvidos e que ajudam a compreender a manutenção da dificuldade nesta esfera ao longo da vida. E não é por acaso que muitas pessoas adultas com dificuldades na esfera do sono acabam por não procurar ajuda. E justificam o facto com o terem recebido ajuda em determinado momento e isso não ter resolvido completamente a situação. Criando neles a ideia de que não vale a pena procurar ajuda especializada, até porque não há nada a fazer. Facto que não é verdade.
Precisamente por isso é que o Autismo n'Adulto e a Dra. Mafalda Leitão (ver aqui) iremos trazer algumas novidades no inicio do próximo ano lectivo. Mas até lá gostaríamos de deixar algumas ideias importantes do que poderá ir fazendo até lá para poder contribuir para uma melhor higiene de sono: i) Criar um diário de sono. Muito frequentemente percebemos que as pessoas não conseguem ter um registo fidedigno de como dormem. Seja porque pensam que sempre dormiram mal e como tal continuam a fazê-lo. E como tal não parecem ter consciência do que é que poderá estar relacionado com o facto de poder ter dormido pior ou melhor. Será importante pensar que a actuação irá incidir na mudança de comportamentos e como tal é importante ter conhecimento dos mesmos para poderem ser alterados. Assim, e através da criação deste diário de sono será possível perceber se há rituais que interferem com o deitar e o dormir; ii) Estabelecer uma rotina para dormir. É verdade que muitos de nós já ouviu isto a vida inteira. Mas continuam a ser muitos aqueles que não validam a importância desta medida. Por exemplo, algumas vezes ouvimos as pessoas dizer que isso não funciona bem assim, até porque já tiveram um horário regular e isso não produziu nenhum efeito positivo; iii) Tornar a cama e o quarto o espaço mais confortável possível. Esta questão é tão mais importante quando estamos a falar de pessoas autistas e sabemos daquilo que são as suas sensibilidades sensoriais, sejam as hiper ou hiposensibilidades; iv) Cuidar da alimentação. Seja no tipo de nutrientes, mas também das próprias quantidades e horários de refeições, é fundamental que possa haver uma reflexão acerca da alimentação e da introdução de uma dieta que possa ir ao encontro de um comportamento mais saudável; v) Será fundamental consultar o seu médico para obter aconselhamento sobre a possibilidade de introdução de uma intervenção farmacológica adequada às suas necessidades.
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