Até ao século VI vigorou a ideia de uma terra plana e apesar das evidências introduzidas por Pitágoras ainda hoje encontramos resquícios desta ideia. Enquanto isso, ao longo destes séculos foram sendo descobertos novos planetas e formas de os estudar e compreender. A população mundial foi crescendo e hoje somos cerca de 8 mil milhões. E apesar de todo o desenvolvimento tecnológico, cientifico e humanista, ainda continuamos a nos espantar com aquilo que está bem perto de nós ao nosso redor.
Da mesma forma que a população mundial tem crescido, também o número de pessoas diagnosticadas com Perturbação do Espectro do Autismo tem aumentado. E não por haver uma epidemia de autismo como alguns já chagaram a dizer. No presente momento estima-se que 1% a 2% da população mundial tenha um diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo. E apesar de habitarem o mesmo planeta que tu, ainda assim continuam em muito a sentir que necessitam de aulas de sobrevivência para aqui viver.
As experiências sentidas na vida de uma pessoa autista é quase tão semelhante quanto o descobrir um novo planeta com vida humana. Ainda que uma boa parte destas experiências não sejam tão positivas quanto a descoberta de um novo planeta com vida. E ainda são muitos as pessoas adultas que descobrem apenas nesta etapa da sua vida que afinal aquilo que melhor os ajuda a compreender, enquadrar e a explicar a sua vida é um diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo. Mas até aqui chegarem ainda tiveram de sofrer muito. Assim tal como o próprio Aristoteles sofreu para demonstrar a veracidade dos seus achados em relação à terra ser esférica.
Por exemplo, muitas pessoas adultas dizem que já passaram por inúmeros profissionais de saúde, sejam psiquiatras ou psicólogos. E uns e outros parecem não se entender relativamente ao facto da pessoa adulta poder ser e ter um diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo. Seja porque olham nos olhos, sorriem, têm amigos, são inteligentes, têm família, etc. As razões evocadas por muitos destes profissionais de saúde faz lembrar aquelas referidas pelos que defendiam teorias da conspiração pseudocientificas da Terra plana. E se não for isso, há sempre quem diga, mesmo após todo o desenvolvimento cientifico e humanista em relação ao autismo e às intervenções psicológicas, que é preciso que seja a pessoa autista a se adaptar ao Mundo. E por isso são muitas as pessoas autistas que procuraram camuflar socialmente muitos dos seus comportamentos para se aproximarem deste planeta neurotipico. E quando se aproximam e reflectem sobre esta descoberta ficam a pensar que afinal as pessoas neurotipicas andam há muito enganadas. Isto porque se pensam que o planeta Terra é neurotipico estão redondamente (no sentido literal) errados, Por este planeta Terra é neurotipico, e sempre o foi.
Mas será importante que as pessoas autistas possam ser ajudadas a descodificar que Mundo é este. Até porque sentem a necessidade de continuar a caminhar por este planeta e precisam de contornar alguns obstáculos. Da mesma forma que é vital que as pessoas neurotipicas possam ser ajudadas a compreender duas coisas fundamentais: a neurodiversidade enquanto realidade da espécie humana e o respeito por todas as pessoas.
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