Sempre fiz atletismo ao longo da vida. Iniciei a minha prática na escola e rapidamente integrei algumas provas locais e não só de corta mato e atletismo. No meu concelho, a prática de desporto também sempre foi incentivada e como tal foi possível continuar a treinar a prática de atletismo. Apesar de haver momentos de paragem ou abrandamento da prática, o certo é que volto sempre ao exercício. Até porque lhe reconheço na prática e na experiência pessoal, de um conjunto de benefícios para a minha saúde física e mental. E durante muito tempo verifiquei o mesmo nos outros com quem praticava em conjunto. Agora já com 46 anos procuro manter com determinada regularidade esta mesma prática e principalmente associado à causa #corrercomoautismo. Até porque associado à prática desportiva, sempre foi estando associado a participação na causa cívica. Factor que acaba por triplicar os benefícios da sua prática.
O exercício é parte integrante da vida das pessoas, e a investigação realizada em ambientes educacionais descobriram que o envolvimento regular promete melhorias nas Funções Executivas. Uma área bastantes vezes referida como estando comprometida no Espectro do Autismo e outras condições do neurodesenvolvimento. Mas não é a única situação. Atendendo a que o autismo é uma condição que acompanha a pessoa ao longo da vida, e a prevalência da doença aumentou nos últimos anos. Há um número maior de pessoas autistas a chegar à idade adulta; e, por sua vez, isso requer maior reconhecimento dos desafios enfrentados pelos pessoas autistas ao longo da vida.
As pessoas autistas podem ser mais propensas a desenvolver uma variedade de condições de saúde física e mental, incluindo diabetes tipo II, certos tipos de cancro, doenças respiratórias e cardiovasculares, com risco relativamente maior para mulheres autistas em comparação com homens autistas. Sendo que essas condições podem contribuir para o aumento do risco de mortalidade prematura observada entre pessoas autistas. Verifica-se que as estimativas de risco de mortalidade prematura são alarmantes, sugerindo que as pessoas autistas morrem 16 - 38,5 anos mais jovens em média do que o esperado, com maior risco entre mulheres autistas e pessoas com dificuldade intelectual.
Actualmente, não está claro por que as pessoas autistas têm um impacto negativo maior na saúde. No entanto, os factores de estilo de vida são de particular interesse, pois as pessoas autistas são mais propensas a ter sobrepeso ou obesidade. Estar acima do peso ou ser obeso contribui significativamente para o risco de desenvolver condições crônicas de saúde física, incluindo doenças diabéticas e cardiovasculares. Má nutrição, actividade física limitada e distúrbios do sono parecem ser factores de risco para obesidade entre crianças autistas, por exemplo. E muitos sabem que as restrições alimentares e os problemas na esfera do sono são recorrentes no autismo ao longo da vida.
Em relação à dieta, as crianças autistas são mais propensas a ter padrões alimentares desorganizados ou atípicos (incluindo recusa alimentar, dieta limitada / alimentação exigente, pica, anorexia, esquiva e perturbação de ingestão alimentar restrita (ARFID), compulsão alimentar, etc.), com algumas estimativas a sugerirem que 70% das crianças autistas têm comportamentos alimentares atípicos. As pessoas com perturbações da conduta alimentar também são mais propensos em pessoas autistas. Os comportamentos alimentares atípicos podem ser autoimpostos devido a diferenças no estilo cognitivo (incluindo inflexibilidade comportamental), maior probabilidade de se envolver em comportamentos alimentares regulados emocionalmente (particularmente entre mulheres autistas) e / ou sensibilidades sensoriais. As escolhas dietéticas também podem ser restritas devido às altas taxas de alergias alimentares e condições gastrointestinais entre pessoas autistas.
Também está claro que as crianças autistas têm menos probabilidade de se envolver em actividades físicas do que crianças não autistas. As pessoas autistas parecem estar menos interessados em exercícios devido às diferenças na motivação social, aumento do tempo de ecrã e diferenças na capacidade motora. Ainda que muita desta informação careça de outra compreensão visto que muitas actividades físicas tal qual são realizadas nos seus contextos habituais continuam a não ser adaptadas. Em relação ao sono, as pessoas autistas de todas as idades são mais propensas a ter uma variedade de distúrbios do sono e duração limitada do sono. Entre crianças autistas, os distúrbios do sono estão associados à gravidade dos sintomas, idade mais jovem, perfil cognitivo (QI) mais alto, PHDA, desregulação / problemas comportamentais, função adaptativa mais baixa, epilepsia / convulsões, traços autistas maternos, saúde mental infantil mais pobre, pior saúde mental materna (incluindo ansiedade e depressão), pior saúde física materna e paterna, menor educação dos pais / cuidadores e menor renda familiar.
Como tal será fundamental que desde cedo na escola possa haver uma outra orientação junto das crianças autistas para a importância da prática de exercício fisico e da motivação para o mesmo. Relembro no entanto a importância de que o mesmo deva ser adaptado às necessidades e características das pessoas autistas. Assim como se faz para qualquer outra pessoa com determinadas necessidades. Fundamental continuar a sensibilizar os pais lembrando que esta condição vai acompanhar o seu filho/a ao longo do ciclo de vida e como tal é fundamental poder ajudar a equilibrar a balança de todo um conjunto de indicadores que à partida estão desequilibrados ou propensos ao desequilíbrio.
Continuar simplesmente a aceitar que as crianças e jovens autistas não pratiquem exercício fisico nas aulas de Educação Física ao abrigo da sua condição é um erro e que irá continuar a ter um peso negativo grande ao longo da vida. Poder levar aa que os próprios pais se possam eles próprios envolver numa prática de actividade física poderá igualmente ajudar a desenvolver modelos positivos para que os filhos possam aceitar mais facilmente esta proposta.
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