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Contam todos

Existe um sentido inato de auto preservação que leva as pessoas a procurarem comportamentos e contextos que reforcem uma maior longevidade durante a vida. O Autismo, enquanto quadro clínico complexo e heterogéneo desafia-nos constantemente. Se há aspectos mais "fáceis" de abordar na intervenção com Autistas, os comportamentos autolesivos não é um deles. Seja pela intensidade, gravidade e impacto do mesmo na pessoa. Mas também pela complexidade do próprio fenómeno. E da maneira como cada um de nós lida com ele.

Os comportamentos autolesivos, são definidos como uma série de acções que produzem dano físico ao próprio. Esses comportamentos podem-se apresentar de forma crónica e causar riscos graves a quem os realiza. Além do mais, podem-se manifestar em padrões rítmicos ou repetitivos que variam em intensidade, grau de lesão e disrupção com o ambiente social. São comportamentos porventura mais típicos de observar em crianças e em quadros de autismo mais graves. Aqui podemos estar a falar de comportamentos que vão desde o arranhar dos braços, morder-se, apertar-se, bater com a cabeça, etc.


À medida do desenvolvimento e tendo em conta que uma situação destas tem a máxima atenção, é expectável que devido à intervenção o comportamento autolesivo diminua a frequência ou desapareça.


Este comportamento de infligir autolesões não é apenas próprio do Autismo. Há outros quadros clínicos em que se podem observar. Nomeadamente em Perturbações do Humor, Perturbação da Personalidade Borderline, etc. A compreensão destes mesmos comportamentos depende da situação clínica em que se observa. No entanto, no Autismo é comum observarmos a ocorrência de comorbilidades psiquiátricas, como por exemplo, Perturbação do Humor, Ansiedade, Perturbação da Personalidade Borderline, etc.


Nesse sentido, é comum podermos observar em adolescentes ou adultos Autistas estes comportamentos auto lesivos, por vezes caracterizado por cortes auto infligidos no corpo. A comunidade cientifica, clínica e os próprios Autistas têm procurado chamar a atenção para este fenómeno e para a gravidade do mesmo. Seja pelo sofrimento sentido mas pelo agravamento do risco de suicídio.


Os dados referem que os Autistas que apresentam comportamentos auto lesivos têm uma probabilidade maior que chega aos 30% de cometerem suicídio quando comparados com grupos normativos. E este risco parece estar principalmente presente nas raparigas/mulheres. Se tivermos em atenção que as mulheres no espectro do Autismo apresentam uma maior probabilidade de desenvolverem uma Perturbação do Humor e/ou Perturbação da Personalidade Borderline é de esperar que a ocorrência destas situações seja maior comparativamente aos homens.


Tal como outros comportamentos que ocorrem no Autismo e que levam clínicos a orientarem o seu diagnóstico para outro que não de Autismo, os comportamentos auto lesivos é um desses exemplos. Como tal, a pessoa pode estar a beneficiar de uma intervenção que possa não estar a produzir o efeito desejado e continuar a por em risco de maior sofrimento e vida a pessoa. É fundamental que a avaliação no Autismo em adultos possa ser pensada cada vez mais de forma abrangente, seja com instrumentos de avaliação que sejam capazes de detectar com maior rigor estes fenómenos. Mas principalmente sensibilizar para uma observação clínica mais atenta e detalhada do comportamento humano.

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